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— Bem, aqui está a Floresta das Trevas! — disse Gandalf.

— A maior das florestas do mundo do norte. Espero que gostem do aspecto dela. Agora devem mandar de volta esses excelentes pôneis que tomaram emprestados.

Os anões estavam inclinados a reclamar, mas o mago disse-lhes que eram tolos.

— Beorn não está tão longe como vocês parecem imaginar e, de qualquer forma, é melhor manterem suas promessas, pois ele é um inimigo feroz. Os olhos do Sr. Bolseiro são mais penetrantes que os seus, se não viram todas as noites, depois de escurecer, um grande urso nos acompanhando ou sentado a distância à luz da lua, vigiando nossos acampamentos. Não só para protegê-los e guiá-los, mas também para vigiar os pôneis. Beorn pode ser seu amigo, mas ama seus animais como se fossem seus filhos. Vocês não imaginam a gentileza que demonstrou permitindo que anões os cavalgassem tão depressa e tão longe, nem o que lhes aconteceria se tentassem levá-los para dentro da floresta.

— E o cavalo, então? — disse Thorin. — Você não disse nada sobre mandá-lo de volta.

— Não disse porque não vou mandá-lo.

— E como fica a sua promessa então?

— Vou mantê-la. Não vou mandar o cavalo de volta, vou montado nele até lá!

Ficaram então sabendo que Gandalf ia abandoná-los bem na fronteira da Floresta das Trevas, e se desesperaram. Mas nada que dissessem iria fazê-lo mudar de idéia.

— Ora, nós tínhamos discutido tudo isso antes, quando chegamos à Carrocha — disse ele. — Não adianta discutir. Tenho, como já lhes disse, alguns negócios urgentes no sul, e já estou atrasado de tanto me ocupar com vocês. Podemos nos encontrar de novo antes que tudo esteja terminado, e também podemos não nos encontrar. Isso depende de sua sorte, coragem e bom senso, e estou mandando o Sr. Bolseiro com vocês. Já lhes disse antes que ele é mais do que imaginam, e logo descobrirão isso. Então, anime-se, Bilbo, e não fique com essa cara amarrada. Animem-se, Thorin e Companhia! Afinal de contas, essa expedição é sua. Pensem no tesouro no final, e esqueçam a floresta e o dragão, pelo menos até amanhã cedo!

Quando o “amanhã cedo” chegou ele ainda dizia a mesma coisa. Então, não restava mais nada a fazer, exceto encher os odres de água numa fonte límpida que encontraram perto da entrada da floresta, e descarregar os pôneis. Distribuiram os pacotes tão igualmente quanto possível, embora Bilbo achasse a sua parte terrivelmente pesada e não gostasse nem um pouco da idéia de arrastar-se penosamente por milhas e milhas com tudo aquilo nas costas.

— Não se preocupe! — disse Thorin. — Vai ficar mais leve rápido até demais. Logo, logo, quando a comida começar a escassear, acho que todos estaremos desejando que nossas mochilas estivessem mais pesadas.

Então, por fim, disseram adeus aos pôneis e os puseram na direção de casa. Os animais saíram trotando alegremente, parecendo muito felizes em virar as caudas para a sombra da Floresta das Trevas. Quando se afastavam, Bilbo poderia jurar que viu uma coisa parecida com um urso deixando a sombra das árvores e correndo desajeitadamente atrás deles.

Gandalf também disse adeus. Bilbo sentou-se no chão, sentindo-se muito infeliz e desejando estar ao lado do mago em seu grande cavalo.

Havia entrado na floresta depois do desjejum (muito pobre), e teve a impressão de que lá o dia era tão escuro quanto a noite, e tudo era muito misterioso: “uma sensação de estar sendo vigiado e aguardado”, disse ele para si mesmo.

— Adeus! — disse Gandalf a Thorin. — E adeus a todos vocês! Adeus! Direto pela floresta é o seu caminho agora. Não saiam da trilha! Se fizerem isso, têm uma chance em mil de encontrá-la de novo e de sair da Floresta das Trevas, e, então, acho que nem eu nem qualquer outra pessoa voltará a revê-los.

— Temos realmente de atravessá-la? — resmungou o hobbit.

— Têm, sim! — disse o mago —, se quiserem chegar ao outro lado. Ou atravessam ou desistem da busca. E não vou permitir que recue agora, Sr. Bolseiro. Sinto vergonha por você pensar nisso. Tem de cuidar de todos esses anões por mim — disse ele, rindo.

— Não! Não! — disse Bilbo. — Não quis dizer isso. Queria dizer, não há um caminho por fora?

— Há, se você se dispuser a desviar-se do caminho umas duzentas milhas ao norte, e duas vezes isso ao sul. Mas, mesmo assim, não acharia uma trilha segura. Não há trilhas seguras nesta parte do mundo. Lembrem-se de que passaram do Limiar do Ermo e agora estão expostos a toda a sorte de divertimento, onde quer que possam ir. Antes que contornassem a Floresta das Trevas no norte estariam entre as encostas das Montanhas Cinzentas, que estão simplesmente infestadas de orcs da pior espécie. Antes que pudessem contorná-la ao sul, entrariam nas terras do Necromante, e nem você, Bilbo, vai precisar que lhe conte histórias daquele feiticeiro negro. Não os aconselho a se aproximarem de nenhum lugar que seja vigiado por sua torre escura! Fiquem na trilha da floresta, mantenham o ânimo, esperem pelo melhor e, com uma grande sorte, pode ser que um dia vejam os Pântanos Compridos estendendo-se abaixo de vocês, e além deles, no leste, lá no alto, a Montanha Solitária, onde vive o velho Smaug, embora eu tenha esperanças de que ele não esteja aguardando vocês.

— Você com certeza é bastante consolador — resmungou Thorin. — Adeus! Se não vem conosco, é melhor partir sem dizer mais nada.

— Adeus, então, e realmente adeus! — disse Gandalf, virando o cavalo e cavalgando para o oeste. Mas não resistiu à tentação de dizer a última palavra. Enquanto ainda podia ser ouvido, virou-se, colocou as mãos em concha e gritou. Eles ouviram sua voz chegar enfraquecida: — Adeus! Sejam bons, cuidem-se e NÃO SAIAM DA TRILHA!

Então afastou-se galopando e logo sumiu.

— Oh, adeus e vá embora! — resmungaram os anões, com mais raiva ainda porque estavam realmente desolados por perdê-lo.

Agora começava a parte mais perigosa de toda a viagem. Cada um colocou nos ombros a pesada mochila e o odre de água que lhe cabia, viraram as costas para a luz que cobria as terras do lado de fora e mergulharam na floresta.

CAPITULO VIII

Moscas e aranhas

ANDAVAM em fila indiana. A entrada para a trilha era como uma espécie de arco que conduzia a um túnel sombrio e era formada por duas grandes árvores que se inclinavam uma em direção à outra, por demais antigas e por demais estranguladas pela hera e cobertas de líquens para poderem suportar mais do que algumas folhas enegrecidas. A própria trilha era estreita e serpenteava em meio aos troncos. Logo depois, a luz na entrada era apenas um pequeno buraco brilhando lá atrás e o silêncio era tão profundo que seus pés pareciam retumbar no chão, enquanto todas as árvores se debruçavam para escutar.

À medida que seus olhos se acostumavam à escuridão, conseguiam enxergar, até certa distância dos dois lados da trilha, um vislumbre de luz verde e escurecida. As vezes um fino raio de sol, que tiver a a sorte de penetrar através de alguma abertura nas folhas lá em cima, e ainda mais sorte por não ficar preso nos galhos emaranhados e nos arbustos entrelaçados lá embaixo, cortava o ar, tênue e claro diante deles. Mas isso era raro, e logo cessou por completo.

Havia esquilos negros na floresta. À medida que os olhos agudos e inquisitivos de Bilbo acostumavam-se a enxergar as coisas, conseguia vê-los de relance, passando ligeiros pela trilha e escondendo-se atrás dos troncos das árvores. Também havia ruídos estranhos, grunhidos, passos arrastados e correrias na vegetação rasteira e entre as folhas que em certos pontos empilhavam-se em inúmeras camadas no chão da floresta, mas o que causava os ruídos ele não conseguia ver. As coisas mais nojentas que viam eram as teias de aranhas: teias escuras e densas, com fios extraordinariamente grossos, muitas vezes estendendo-se de árvore a árvore, ou emaranhados nos ramos mais baixos dos dois lados.