Выбрать главу

— A floresta continua para todo o sempre em todas as direções! O que vamos fazer? E de que adianta mandar um hobbit? — exclamaram eles, como se a culpa fosse de Bilbo. Não deram a mínima atenção às borboletas e só ficaram mais enfurecidos quando ele lhes contou da agradável brisa, que não poderiam apreciar por serem pesados demais para subir.

Naquela noite comeram os últimos restos e migalhas de comida, e na manhã seguinte, quando acordaram, a primeira coisa que perceberam foi que ainda estavam morrendo de fome, e a segunda coisa foi que estava chovendo e que aqui e ali pingos caíam pesadamente na floresta. Isso só os fez lembrar que também estavam morrendo de sede, sem que pudessem fazer nada para aliviá-la: não se pode matar uma sede terrível debaixo de carvalhos gigantes, esperando que uma gota caia na língua. O único pingo de consolo que tiveram veio inesperadamente de Bombur.

Ele acordou de repente e sentou-se, coçando a cabeça. Não tinha a menor idéia de onde estava, nem por que sentia tanta fome, pois esquecera tudo o que tinha acontecido desde que haviam iniciado a viagem naquela manhã de maio, muito tempo atrás. A última coisa de que se lembrava era a festa na casa do hobbit, e tiveram muita dificuldade em fazê-lo acreditar na história das muitas aventuras vividas desde então.

Quando ouviu que não havia nada para comer, Bombur sentou-se e chorou, pois sentia-se fraco e com as pernas bambas.

— Por que fui acordar! — exclamou ele. — Estava sonhando coisas tão lindas! Sonhei que estava caminhando numa floresta muito parecida com esta, mas iluminada por tochas nas árvores, por lamparinas penduradas nos galhos e fogueiras queimando no chão, e havia um banquete, que continuava para sempre. Um rei da floresta estava lá, com uma corôa de folhas, e havia uma cantoria alegre, e eu não poderia contar ou descrever as coisas que havia para comer e beber.

— Nem precisa tentar — disse Thorin. — Na verdade, se não consegue falar de outra coisa, é melhor ficar calado. Já estamos suficientemente zangados com você. Se não tivesse acordado, teríamos deixado você na floresta com seus sonhos idiotas, não é brincadeira carregá-lo, mesmo depois de semanas de provisões escassas.

Agora não restava nada a fazer exceto apertar os cintos ao redor das barrigas vazias, pegar os sacos e mochilas vazios e avançar pela trilha sem nenhuma grande esperança de chegar ao fim antes de caírem no chão e morrerem de fome. Foi o que fizeram durante todo aquele dia, avançando bem devagar e exaustos, enquanto Bombur continuava queixando-se de que suas pernas não conseguiriam levá-lo e que só queria deitar e dormir.

— Não, você não quer! — disseram eles. — Deixe que suas pernas façam a sua parte, nós já o carregamos o suficiente.

Mesmo assim, ele de repente se recusou a dar um passo à frente, e jogou-se no chão.

— Continuem se quiserem — disse ele. — Eu vou deitar aqui, dormir e sonhar com comida, já que não posso consegui-la de nenhuma outra forma. Espero nunca acordar de novo.

Naquele exato momento, Balin, que estava um pouco à frente, gritou:

— Que foi aquilo? Tive a impressão de ter visto uma luz piscando na floresta.

Todos olharam e, a uma grande distância, ao que parecia, viram um brilho vermelho no escuro, depois outro e outro surgiram ao lado do primeiro. Até mesmo Bombur se levantou, e eles correram pela trilha, sem se preocuparem se eram trolls ou orcs. A luz estava adiante e à esquerda da trilha, e quando finalmente emparelharam com ela, parecia claro que havia tochas e fogueiras queimando sob as árvores, mas a uma boa distância da trilha.

— Parece até que meus sonhos estão se tornando realidade — disse Bombur ofegante, bufando atrás dos outros. Queria correr direto para dentro da floresta atrás das luzes. Mas os outros lembravam-se muito bem das recomendações do mago e de Beorn.

— Um banquete não adiantaria nada, se nunca conseguíssemos voltar vivos dele — disse Thorín.

— Mas sem um banquete não permaneceremos vivos por muito tempo, de qualquer forma — disse Bombur, e Bilbo concordou com ele vigorosamente.

Discutiram e rediscutiram o assunto por um longo tempo, até que por fim todos concordaram em mandar dois espiões chegar sorrateiramente perto das luzes e descobrir mais sobre elas. Mas, então, não conseguiram concordar sobre quem deveria ser enviado: nenhum deles parecia ansioso por correr o risco de se perder e nunca mais encontrar os amigos. No fim, apesar de todas as recomendações, a fome decidiu por eles, porque Bombur continuava descrevendo todas as coisas boas que havia para comer, de acordo com seu sonho, no banquete silvestre, então todos deixaram a trilha e mergulharam juntos na floresta.

Depois de se arrastarem por um bom tempo, espiaram por trás dos troncos e avistaram uma clareira onde algumas árvores haviam sido derrubadas e o chão nivelado. Havia muitas pessoas ali, com aparência de elfos, todos vestidos de verde e marrom, e sentados em anéis serrados das árvores derrubadas, formando um grande circulo. Havia uma fogueira no meio, e tochas amarradas a algumas das árvores ao redor e a visão mais esplêndida de todas: estavam comendo, bebendo e rindo muito.

O cheiro de carnes assadas era tão encantador que, sem esperar para consultar os outros, cada um deles se levantou e correu para o círculo com a única idéia de implorar por um pouco de comida. Logo que o primeiro pisou na clareira, todas as luzes se apagaram como que por mágica. Alguém chutou o fogo e ele subiu em faíscas cintilantes e desapareceu. Ficaram perdidos numa escuridão completa e não podiam nem enxergar uns aos outros, não por um bom tempo, pelo menos. Depois de andarem às cegas freneticamente no escuro, caindo sobre troncos, trombando com árvores, gritando e chamando até provavelmente acordarem todos os seres da floresta num raio de milhas, finalmente conseguiram reunir-se e contarem pelo tato quantos eram. Já tinham então esquecido, é claro, a direção em que ficava a trilha, e estavam completamente perdidos, pelo menos até a manhã seguinte.

Não restava mais nada a fazer a não ser acomodarem-se ali durante a noite, nem mesmo ousaram vasculhar o chão à cata de restos de comida, com medo de se separarem de novo. Mas não fazia muito tempo que estavam deitados, e Bilbo estava apenas começando a sentir sono, quando Dori, cujo turno de guarda era o primeiro, sussurrou:

— As luzes estão aparecendo de novo lá adiante, e agora há mais luzes do que nunca.

Pularam todos de pé. Ali, com certeza, não muito longe, havia vários pontos de luz piscando. E eles ouviam claramente as vozes e os risos. Esgueiraram-se lentamente na direção delas, em fila indiana, cada um segurando as costas do que ia a frente . Quando chegaram perto, Thorin disse:

— Nada de correr desta vez! Ninguém deve sair do esconderijo até que eu diga. Vou mandar primeiro o Sr. Bolseiro sozinho para conversar com eles. Não sentirão medo dele (“E eu não vou sentir medo deles?”, pensou Bilbo) e, de qualquer forma, espero que não lhe façam nenhum mal.

Quando chegaram á borda do círculo de luzes, empurraram Bilbo á frente. Antes que tivesse tempo de colocar o anel, ele tropeçou e foi iluminado pelo brilho das fogueiras e tochas. Não adiantava. Todas as luzes se apagaram de novo, e fez-se escuridão completa.

Se fora difícil reunirem-se antes, desta vez foi muito pior. E eles simplesmente não conseguiam encontrar o hobbit. Toda vez que se contavam, a soma dava treze. Gritavam e chamavam: “Bilbo Bolseiro! Hobbit! Seu hobbit miserável! Ei, hobbit! Maldito seja, onde você se meteu?” e outras coisas do tipo, mas não houve resposta.