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— Gollum! Ora, ora! Então foi assim que ele passou por mim, não é? Agora eu sei! Foi se esgueirando. Não é, Sr. Bolseiro? Botões todos esparramados na soleira da porta! Bom e velho Bilbo ó Bilbo, Bilbo-bo-bobo — E então adormeceu, e fez-se silêncio completo por um longo tempo.

De repente Dwalin abriu um olho e olhou em volta.

— Onde está Thorin? — perguntou ele.

Foi um choque terrível. É claro que só havia treze deles, doze anões e um hobbit. Onde estaria Thorin? Ficaram perguntando-se que destino maligno fora-lhe reservado, mágica ou negros monstros, e perdidos na floresta, sentiam calafrios. Um a um caíram no sono, num sono desconfortável e cheio de sonhos horríveis, enquanto a tarde se transformava em noite escura, e ali vamos deixá-los por enquanto, por demais cansados e indispostos para montarem guarda ou se revezarem na vigia.

Thorin fora capturado muito mais depressa que eles. Vocês se lembram de Bilbo caindo no sono como uma pedra, no momento em que entrava no circulo de luz? Logo em seguida fora Thorin quem avançara, e no momento em que as luzes se apagaram ele caiu feito uma pedra encantada.

Todo o barulho dos anões perdidos na noite, seus gritos quando as aranhas os pegaram e prenderam, e todos os sons da batalha do dia seguinte, passaram por ele sem que os ouvisse. Então os Elfos da Floresta vieram até ele, amarraram-no e levaram-no embora.

Os participantes do banquete eram Elfos da Floresta, é claro. Não são um povo mau. Se têm algum defeito, é sua desconfiança de estranhos.

Embora sua mágica fosse forte, mesmo naqueles dias eram cautelosos. Eram diferentes dos Altos Elfos do oeste, além de mais perigosos e menos sábios. Pois a maioria deles (juntamente com seus parentes espalhados nas colinas e montanhas) descendia das antigas tribos que nunca foram para o Reino Encantado no oeste. Para lá foram os Elfos da Luz, e os Elfos das Profundezas e os Elfos do Mar, onde viveram por séculos, e tornaram-se mais belos, sábios e eruditos, inventando sua mágica e seu habilidoso ofício na confecção de coisas belas e maravilhosas, antes que alguns retornassem ao Grande Mundo. No Grande Mundo, os Elfos da Floresta permaneciam no crepúsculo de nosso Sol e nossa Lua, mas amavam mais as estrelas, vagavam nas grandes florestas que cresciam viçosas em terras agora perdidas. Moravam de preferência perto das bordas das florestas, das quais podiam às vezes escapar em caçadas, ou para montar e correr à luz da lua ou das estrelas através das terras abertas, depois da chegada dos Homens, apegaram-se mais e mais ao entardecer e ao crepúsculo. Mas ainda continuavam sendo elfos, e isso quer dizer Bom Povo.

Numa grande caverna a algumas milhas da fronteira da Floresta das Trevas, do lado leste, vivia naquela época o seu maior rei. Diante de suas enormes portas de pedra um rio corria, que vinha das alturas da floresta e continuava até os pântanos no sopé das terras altas e cheias de bosques. Essa grande caverna, de cujos flancos saiam incontáveis cavernas menores, serpeava por baixo da terra e tinha muitos corredores e amplos salões, mas era mais iluminada e agradável que qualquer moradia de orc e não tão profunda nem tão perigosa. Na verdade, a maioria dos súditos do rei vivia e caçava nos bosques abertos e tinha casas ou cabanas no chão e nos galhos das árvores. As faias eram suas árvores favoritas. A caverna do rei era o seu palácio, o lugar seguro onde guardava seu tesouro, e a fortaleza de seu povo contra os inimigos. Era também o calabouço para seus prisioneiros. Assim, para a caverna levaram Thorin — não com muita gentileza, pois eles não morriam de amores por anões e pensavam que ele era um inimigo. Nos dias antigos, haviam travado guerras com alguns anões, a quem acusavam de roubarem seus tesouros. É justo dizer que os anões contavam uma história diferente, e diziam que apenas pegaram o que lhes era devido, pois o rei dos Elfos negociara com eles para que trabalhassem seu ouro e prata brutos, e depois recusara-se a pagar-lhes o que devia. Se o Rei dos Elfos tinha um fraco, era por tesouros, especialmente prata e pedras brancas, e, embora seu estoque fosse rico, estava sempre ávido por mais, já que ainda não detinha um tesouro tão grande como o dos grandes Reis Élficos de antigamente. Seu povo não fazia mineração nem trabalhava metais ou pedras, também não se preocupava muito com o comércio ou com o cultivo da terra. Tudo isso os anões sabiam muito bem, embora a família de Thorin não tivesse nada a ver com a velha disputa de que falei. Conseqüentemente, Thorin, quando desfizeram o encantamento e ele voltou a si, ficou furioso com o tratamento que lhe haviam dispensado, além disso estava determinado a não permitir que lhe arrancassem nenhuma palavra sobre ouro ou pedras preciosas.

O rei lançou um olhar severo a Thorin, quando este foi trazido à sua presença, e fez muitas perguntas. Mas Thorin só dizia que estava morrendo de fome.

— Por que você e seu povo tentaram por três vezes atacar meu povo em sua festa? — perguntou o rei.

— Nós não os atacamos — respondeu Thorin —, viemos mendigar porque estávamos morrendo de fome.

— Onde estão seus amigos agora, e o que estão fazendo?

— Não sei, mas acho que estão morrendo de fome na floresta.

— O que estavam fazendo na floresta?

— Procurando comida e bebida, porque estávamos morrendo de fome.

— Mas o que os trouxe para a floresta? — perguntou o rei furioso.

Diante dessa pergunta Thorin fechou a boca e não disse uma palavra.

— Muito bem! — disse o rei. — Levem-no e o mantenham a salvo, até que se sinta inclinado a dizer a verdade, mesmo que espere um século.

Então os elfos prenderam-no com correias e fecharam-no em uma de suas cavernas mais profundas, com fortes portas de madeira, e lá o deixaram. Deram-lhe comida e bebida, ambas em abundância, embora não muito boas, pois os Elfos da Floresta não eram orcs, e comportavam-se razoavelmente bem até mesmo com seus piores inimigos quando os capturavam. Os únicos seres vivos com quem não tinham clemência eram as aranhas gigantes.

Ali, no calabouço do rei, ficou o pobre Thorin, e depois de sentir-se grato pela refeição, começou a imaginar o que teria acontecido com seus infelizes amigos. Não demorou muito para que descobrisse, mas isso pertence ao próximo capitulo e ao início de outra aventura, na qual o hobbit mais uma vez mostrou sua utilidade.

CAPITULO IX

Barris soltos

No dia seguinte á batalha com as aranhas, Bilbo e os anões fizeram um último e desesperado esforço para encontrar uma saída antes que morressem de sede e de fome. Levantaram-se e foram cambaleando na direção em que oito entre os treze acreditavam estar a trilha, mas nunca chegaram a descobrir se estavam certos. O final daquele dia na floresta já se apagava no negrume da noite quando, de repente, surgiu á volta deles a luz de muitas tochas, como centenas de estrelas vermelhas. Surgiram Elfos da Floresta com seus arcos e flechas, e gritaram para que os anões parassem. Ninguém pensou em lutar. Mesmo que os anões não estivessem num estado tal que ficaram realmente felizes por serem capturados, suas pequenas facas, as únicas armas que tinham, não teriam sido de nenhuma utilidade contra as flechas dos elfos, que podiam atingir o olho de um pássaro no escuro. Dessa forma, eles simplesmente pararam, sentaram-se e esperaram — todos menos Bilbo, que colocou o anel e esgueirou-se depressa para o lado. Foi por isso que, quando os elfos amarraram os anões numa longa fila, um atrás do outro, e os contaram, não encontraram nem contaram o hobbit.

Tampouco o ouviram ou perceberam andando atrás da luz de suas tochas, guardando certa distância, enquanto os elfos conduziam seus prisioneiros floresta adentro. Todos os anões foram vendados, mas isso não fazia muita diferença, pois nem mesmo Bilbo, com os olhos descobertos, conseguia ver por onde estavam indo, e nem ele nem os outros sabiam de onde tinham partido.