Выбрать главу

É claro que Thorin percebeu a sensatez do que Bilbo dissera, então, depois de mais alguns gemidos, levantou-se e ajudou o hobbit da melhor maneira que pôde. No escuro, patinhando na água gelada, tiveram um trabalho difícil e desagradável tentando descobrir quais eram os barris certos. Bater no casco e chamar ajudou a descobrir apenas seis anões que conseguiram responder. Estes foram desempacotados e levados até a margem, onde se sentaram ou deitaram, resmungando e gemendo, estavam tão encharcados, escoriados e encarangados que mal conseguiam perceber que haviam sido soltos ou mostrar-se adequadamente gratos por isso.

Dwalin e Balin eram dois dos mais infelizes, e não adiantava pedir que ajudassem. Bifur e Bofur estavam menos machucados e mais secos, mas deitaram-se e não moveram um dedo. Fili e Kili, porém, que eram jovens (em se tratando de anões) e também haviam sido empacotados com mais cuidado e com bastante palha em barris menores, saíram mais ou menos sorridentes, apenas com um ou dois ferimentos e um enrijecimento que logo passou.

— Espero nunca mais sentir o cheiro de maçãs outra vez! — disse Fili. — Meu barril estava cheio dele. Sentir o cheiro de maçãs eternamente quando você mal pode se mexer, está com frio e doente de fome, é de deixar qualquer um doido. Agora eu seria capaz de comer qualquer coisa deste vasto mundo, por horas a fio, mas não uma maçã!

Com a ajuda prestativa de Fili e Kili, Thorin e Bilbo finalmente descobriram e libertaram o restante do grupo. O pobre e gordo Bombur estava dormindo ou desmaiado, Don, Nori, Ori, Oin e Gloin estavam ensopados e pareciam apenas semivivos, tiveram todos de ser carregados, um por um, e deitados na margem, completamente impotentes.

— Bem! Aqui estamos nós! — disse Thorin. — E acho que devemos agradecer às nossas estrelas e ao Sr. Bolseiro. Estou certo de que ele tem o direito de esperar por isso, apesar de desejar que ele tivesse arranjado uma viagem mais confortável. Mesmo assim, estamos todos inteiramente a seu dispor mais uma vez, Sr. Bolseiro. Sem dúvida vamos nos sentir adequadamente agradecidos quando tivermos comido e nos recuperado. Enquanto isso, o que vamos fazer?

— Sugiro a Cidade do Lago — disse Bilbo. — Que mais se poderia fazer?

Obviamente, mais nada, então, deixando os outros, Thorin, Fili, Kili e o hobbit foram pela margem até a grande ponte. Havia guardas na cabeceira, mas que não estavam vigiando com atenção, pois havia muito tempo que isso não era realmente necessário. A não ser por disputas esporádicas sobre tarifas fluviais, eles eram amigos dos elfos da Floresta. Outras pessoas estavam longe, e alguns dos habitantes mais jovens da cidade duvidavam abertamente da existência de algum dragão na montanha, e riam dos barbas-brancas e das velhotas que diziam tê-lo visto voando no céu nos seus dias de juventude. Sendo assim, não é de surpreender que os guardas estivessem bebendo e rindo ao pé do fogo em sua cabana e não ouvissem o barulho do desembalamento dos anões ou os passos dos quatro batedores. Ficaram extremamente atônitos quando Thorin Escudo de Carvalho surgiu porta adentro

— Quem é você e o que quer? — gritaram eles, levantando-se de um salto e procurando apanhar as armas.

— Thorin, filho de Thrain, filho de Thror, Rei sob a Montanha! — disse o anão em voz alta, e parecia ser exatamente isso, apesar das roupas rasgadas e do capuz enlameado. O ouro brilhava em seu pescoço e na cintura, seus olhos eram escuros e profundos. — Eu voltei. Desejo ver o Senhor de sua cidade!

Houve então um tremendo alvoroço. Alguns dos mais tolos saíram correndo da cabana como se esperassem que a Montanha se transformasse em ouro no meio da noite e que toda a água do lago ficasse imediatamente amarela. O capitão da guarda deu um passo a frente.

— E quem são estes? — perguntou ele, apontando para Fili. Kili e Bilbo.

— Os filhos da filha de meu pai — respondeu Thorin. — Fili e Kili, da raça de Durin. E o Sr. Bolseiro, que viajou conosco desde o oeste.

— Se vêm em paz, abaixem suas armas! — disse o capitão.

— Não temos nenhuma — disse Thorin. E era a pura verdade: suas armas haviam-lhes sido tomadas pelos Elfos da Floresta, assim como a grande espada Orcrist. Bilbo trazia sua pequena espada, escondida como de costume, mas não disse nada sobre isso. — Não precisamos de armas, nós que finalmente retornamos ao que é nosso, como foi anunciado em tempos remotos. Nem poderíamos lutar contra tantos. Leve-nos ao seu senhor!

— Ele está num banquete — disse o capitão.

— Mais um motivo ainda para nos levar até ele — interrompeu Fili, que estava ficando impaciente com toda aquela formalidade. — Estamos exaustos e morrendo de fome, trilhamos uma longa estrada, e temos companheiros doentes. Agora apresse-se e deixemos esse falatório de lado, ou o seu senhor poderá ter uma conversinha com você.

— Então sigam-me — disse o capitão, que, com mais seis homens, conduziu-os pela ponte, passando pelos portões e entrando no mercado da cidade. Era um amplo circulo de águas calmas, contornando grandes estacas sobre as quais haviam sido construídas as casas maiores, e por longos ancoradouros de madeira com muitos degraus e escadas que desciam até a superfície do lago. Num grande salão brilhavam muitas luzes e de lá vinha o som de inúmeras vozes. Passaram pelas portas e pararam piscando naquela luz, apreciando as longas mesas cheias de gente.

— Sou Thorin, filho de Thrain, filho de Thror, Rei sob a Montanha! Eu retornei! — anunciou Thorin da porta em voz alta, antes que o capitão pudesse dizer algo.

Todos se ergueram. O Senhor da cidade pulou de sua grande cadeira.

Mas ninguém ficou mais surpreso que os jangadeiros dos elfos, que estavam sentados na extremidade inferior do salão. Correndo e parando diante da mesa do Senhor, eles gritaram:

— Estes são os prisioneiros de nosso rei que escaparam, anões vagabundos e andarilhos que não conseguiram apresentar nenhuma boa explicação sobre si mesmos, que entraram furtivamente na floresta e molestaram nosso povo!

— Isso é verdade? — perguntou o Senhor. Na verdade, achava isso muito mais provável do que o retorno do Rei sob a Montanha, se é que tal pessoa realmente um dia existira.

— É verdade que fomos injustamente capturados pelo Rei Élfico e aprisionados sem motivo quando retornávamos a nossa própria terra — respondeu Thorin. — Mas nem correntes nem barras podem atrapalhar o retorno anunciado outrora. Nem esta cidade pertence ao reino dos Elfos da Floresta. Eu me dirijo ao Senhor da cidade dos Homens do lago, e não aos jangadeiros do rei.

Então o Senhor hesitou e ficou olhando de um para o outro. O Rei Élfico tinha muito poder naquelas partes, e o Senhor não desejava inimizade com ele, nem considerava muito as velhas canções, tendo seu pensamento voltado para o comércio e as tarifas, para carregamentos e ouro, e a este habito devia sua posição. Entretanto, outros pensavam de forma diferente, e logo a questão foi resolvida sem o auxilio dele. A noticia espalhara-se como fogo por toda a cidade. Dentro e fora do salão as pessoas gritavam. Os ancoradouros enchiam-se de pés apressados. Alguns começaram a cantar trechos de velhas canções sobre o retorno do Rei sob a Montanha: o fato de ser o neto de Thror, e não o próprio Thror, que retornara, não fazia nenhuma diferença para eles. Outros juntaram-se aos cantores e a canção ecoou alta e forte por todo o lago.

O Rei sob a montanha, O Rei da pedra lavrada. Senhor das fontes de prata, Vai voltar à sua morada! À sua cabeça sua corôa, À sua harpa cordas novas, Seu palácio ecoará Ao som de antigas trovas. A floresta na montanha E a grama ao sol se agitam, Sua riqueza jorra em fontes, Rios de ouro palpitam. Felizes correm riachos, Queimam os lagos brilhando, Não há pranto nem tristeza Porque o Rei está voltando!