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Atingiram as fraldas da Montanha, porém, sem encontrar qualquer perigo ou sinal do Dragão, exceto o deserto que ele fizera em torno de seu covil. A Montanha erguia-se diante deles, escura e silenciosa, cada vez mais alta. Acamparam pela primeira vez no lado ocidental do grande contraforte sul, que terminava numa elevação chamada Morro do Corvo.

Sobre ele houvera um antigo posto de guarda, mas não se atreviam a subir ainda, pois era exposta demais.

Antes de vasculharem os contrafortes ocidentais da Montanha em busca da porta oculta, na qual depositavam todas as suas esperanças, Thorin enviou uma expedição para espionar o terreno ao sul de onde ficava o Portão Dianteiro. Para esse propósito escolheu Balin, Fili e Kili, e com eles foi Bilbo. Avançaram sob os penhascos cinzentos e silenciosos até os pés do Morro do Corvo. Ali o rio, depois de fazer uma ampla curva contornando o desfiladeiro de Vaíle, afastava-se da Montanha em seu caminho para o Lago, rápido e ruidoso. A margem assomava estéril e rochosa, alta e íngreme sobre a correnteza, olhando por sobre a margem do rio estreito, espumando e chocando-se com os rochedos, podiam ver, no amplo vale à sombra dos braços da Montanha, as ruínas cinzentas de antigas casas, torres e muralhas.

— Ali está o que resta de Vaíle — disse Balin. — As encostas da montanha eram cobertas de verdes bosques e todo o vale que ali se abrigava era rico e agradável, nos dias em que os sinos soavam naquela cidade. — Tinha um ar melancólico e soturno ao dizer isso: fora um dos companheiros de Thorin no dia da chegada do Dragão.

Não se atreveram a seguir muito mais o rio na direção do Portão, mas continuaram além da extremidade do contraforte sul, até que, escondidos atrás de uma rocha, conseguiram ver a abertura escura e cavernosa aberta num grande paredão rochoso entre os braços da Montanha.

Dela brotavam as águas do Rio Corrente, e dali saía também vapor e fumaça escura. Nada se movia naquela desolação, exceto o vapor e a água, e, de vez em quando, um corvo negro e agourento. O único som que se ouvia era o som da água batendo nas pedras, e, de vez em quando, o crocitar rouco de uma ave. Balin arrepiou-se.

— Vamos voltar! — disse ele. — Não podemos fazer nada aqui! E eu não gosto dessas aves escuras: parecem espiãs do mal.

— O dragão ainda está vivo e nos salões sob a Montanha, é o que imagino pela fumaça — disse o hobbit.

— Isso não prova nada — disse Balin —, embora eu não duvide de que você esteja certo. Mas ele pode ter se afastado por algum tempo, ou pode estar deitado na encosta da Montanha montando guarda, e ainda assim acho que a fumaça e o vapor continuariam saindo daqueles portões: todos os salões devem estar cheios da sua fumaça nojenta.

Com esses pensamentos melancólicos, sempre seguidos por corvos crocitantes, fizeram desanimadamente o caminho de volta ao acampamento.

Em junho haviam sido hóspedes na bela casa de Elrond. E agora, embora o outono lentamente se transformasse em inverno, aquele tempo agradável parecia ter sido anos atrás. Estavam sozinhos no perigoso deserto, sem esperanças de conseguir mais ajuda. Estavam no final de sua jornada, mas, ao que parecia, mais distantes que nunca do final de sua busca. A nenhum deles restava muito ânimo.

Pode parecer estranho, mas ao Sr. Bolseiro restara mais ânimo que aos outros. Muitas vezes pedia emprestado o mapa de Thorin para examiná-lo, ponderando sobre as runas e a mensagem das letras-da-lua que Elrond lera. Foi ele quem fez os anões começarem a perigosa busca na porta secreta na encosta ocidental. Mudaram então o acampamento para um longo vale, mais estreito que o grande vale ao Sul onde ficavam os Portões do rio, e protegido por contrafortes mais baixos da Montanha. Dois destes projetavam-se para oeste nesse ponto, saindo da massa principal em longas cordilheiras de encostas íngremes que se precipitavam na direção da planície. No lado oeste havia menos sinais dos pés saqueadores do dragão, e um pouco de capim para os pôneis. Desse acampamento no oeste, coberto todo o dia pela sombra do penhasco e das encostas, até o sol começar a descer na direção da floresta, dia após dia eles partiam em grupos na busca penosa de trilhas que subissem a encosta da montanha. Se o mapa fosse verdadeiro em algum lugar bem acima do penhasco, no topo do vale, devia estar a porta secreta. Dia após dia voltavam ao acampamento sem sucesso.

Mas, por fim, inesperadamente, encontraram o que estavam procurando. Fili, Kili e o hobbit desceram o vale um dia e vagaram em meio às rochas amontoadas na ponta sul. Por volta do meio-dia, esgueirando-se atrás de uma enorme pedra que se erguia sozinha como um grande pilar, Bilbo encontrou o que pareciam ser degraus toscos conduzindo para cima. Seguindo-os alvoroçados, ele e os anões encontraram vestígios de uma trilha estreita, muitas vezes perdida, muitas vezes reencontrada, que continuava até o topo da cordilheira sul e que os levou finalmente até uma saliência ainda mais estreita, que avançava para o norte através do flanco da Montanha. Olhando para baixo perceberam que estavam no topo do penhasco, na parte superior do vale, e lá de cima podiam avistar o seu acampamento. Silenciosamente, agarrando-se à parede rochosa à direita, avançaram ao longo da saliência em fila indiana até que a muralha se abriu e eles chegaram a uma reentrância entre paredões íngremes, calma e silenciosa, com o chão coberto de relva. A entrada que haviam encontrado não podia ser vista de baixo, por causa da inclinação do penhasco, nem de longe, porque era tão pequena que parecia apenas uma fenda escura, e nada mais. Não era uma caverna, pois abria-se para o céu, mas, na extremidade interna, erguia-se uma muralha plana que, na parte inferior, perto do chão, era lisa e aprumada como um trabalho de alvenaria, mas sem nenhuma uma fresta que se pudesse ver.

Não havia sinal de umbral, verga ou soleira, nem qualquer vestígio de barra, tranca ou fechadura, mesmo assim, não tinham dúvidas de que finalmente haviam achado a porta.

Bateram, empurraram e puxaram, imploraram que a porta se movesse, pronunciaram pedaços de encantamentos para abrir, e nada se moveu. Por fim, exaustos, descansaram no capim aos pés dela, e então, no fim da tarde, começaram a longa descida.

Houve alvoroço no acampamento aquela noite. De manhã prepararam-se para partir mais uma vez. Apenas Bofur e Bombur ficaram para atrás, para vigiar os pôneis e as provisões que haviam trazido do rio. Os outros desceram o vale e subiram a trilha recém-descoberta até a saliência estreita. Ao longo desta não podiam carregar pacotes ou mochilas, de tão estreita e assustadora que era, ao lado um abismo de cento e cinquenta pés terminando em rochas pontudas, cada um deles, porém, levava um bom pedaço de corda amarrado à cintura, e, por fim, chegaram sem contratempos à concavidade relvosa.

Ali fizeram seu terceiro acampamento, içando com as cordas aquilo de que necessitavam. Pelo mesmo caminho podiam de vez em quando baixar alguns dos anões mais ativos, como Kili, para trocar com os outros as últimas noticias. Ou para revezarem-se na guarda lá embaixo, enquanto Bofur era içado para o acampamento superior. Bombur não queria subir nem pela corda nem pela trilha.

— Sou gordo demais para esses malabarismos — disse ele. — Ficaria zonzo e pisaria em minha própria barba, e então vocês seriam treze de novo. As cordas amarradas são finas demais para meu peso. — Para a sorte dele, isso não era verdade, como vocês irão ver.

Enquanto isso, alguns deles exploraram a saliência além da abertura e encontraram uma trilha que conduzia mais e mais para o alto da montanha, mas não ousaram aventurar-se muito por ali, e nem havia motivo para isso. Lá em cima reinava o silêncio, que não era quebrado por nenhum pássaro ou som, exceto o do vento nas gretas da pedra. Falavam baixo e nunca gritavam ou cantavam, pois o perigo espreitava em cada rocha. Os outros, que se ocupavam com o segredo da porta, não tiveram mais sucesso.