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— Estamos presos! — gemeram eles. — Isto é o fim. Morreremos aqui.

Mas, de alguma forma, justamente quando os anões estavam mais desesperados, Bilbo sentiu o coração estranhamente leve, como se lhe tivessem tirado um fardo de sob o colete.

— Vamos, vamos! — disse ele. — Enquanto há vida há esperança!”, como costumava dizer meu pai, “a terceira vez vale por todas”. Eu vou descer o túnel mais uma vez. Já fiz aquele caminho duas vezes, quando sabia que um dragão estava na outra ponta, então vou arriscar uma terceira visita quando não tenho mais certeza. De qualquer maneira, a única saída é por baixo. Acho que desta vez todos devem vir comigo.

No desespero, eles concordaram, e Thorin foi o primeiro a dar um passo á frente, colocando-se ao lado de Bilbo.

— Agora, tenham cautela! — sussurrou o hobbit — E sejam tão silenciosos quanto possível! Pode não haver nenhum Smaug lá embaixo, mas também pode haver. Não vamos correr riscos desnecessários!

Foram descendo, descendo. Os anões, sem dúvida, não se comparavam ao hobbit em seu caminhar furtivo, e, ofegando e arrastando os pés produziam ecos que amplificavam os ruídos de forma alarmante: mas, embora Bilbo, amedrontado, parasse de quando em quando para escutar, nenhum ruído vinha lá de baixo. Quando julgava que estavam perto do fundo, Bilbo colocou o anel e foi em frente. Mas não precisava dele: a escuridão era completa, e todos estavam invisíveis, com ou sem anel. Na verdade, estava tudo tão negro que o hobbit chegou á abertura inesperadamente, apoiou-se no vazio, tropeçou e caiu para a frente, rolando de cabeça para dentro do salão!

Ficou ali, deitado, com o rosto virado para o chão, sem ousar se levantar ou mesmo respirar. Mas nada se movia. Não havia nenhum vislumbre de luz — a não ser o que lhe pareceu, quando finalmente abriu os olhos, um brilho fraco, branco, acima dele e distante na escuridão. Mas certamente não era uma faísca de fogo de dragão, embora o fedor quente do dragão fosse intenso no lugar, e o hobbit sentisse em sua boca o gosto do vapor.

Por fim o Sr. Bolseiro não pôde mais agüentar.

— Maldito Smaug, seu verme! — gritou numa voz aguda. — Pare de brincar de esconde-esconde! Dê-me uma luz, e então venha me devorar, se é que pode me pegar!

Ecos fracos percorreram o salão invisível, mas não houve resposta. Bilbo levantou-se e percebeu que não sabia em que direção se voltar.

— Agora eu me pergunto que droga de jogo Smaug está jogando — disse ele. — Não está em casa neste dia (ou nesta noite), ou o que quer que seja. Se Oin e Gloin não perderam suas pederneiras, talvez possamos conseguir um pouco de luz e dar uma espiada antes que a sorte mude.

— Luz! — gritou ele. — Alguém pode acender uma luz?

Os anões, é claro, ficaram muito alarmados quando Bilbo caiu com um baque dentro do salão, ficaram encolhidos, um bem junto do outro, exatamente onde ele os deixara, na ponta do túnel.

— Psiu! Psiu! — sussurraram eles, quando ouviram sua voz, e embora isso tenha ajudado o hobbit a descobrir onde estavam, demorou bastante até conseguir arrancar mais alguma coisa deles. Mas, no fim, quando Bilbo começou a bater com os pés no chão e a gritar “luz” com toda a força de sua voz aguda, Thorin cedeu e mandou Oin e Gloin pegarem as mochilas na outra ponta do túnel.

Depois de um tempo, um brilho trêmulo mostrou que os dois estavam voltando, Oin, com uma pequena tocha de pinheiro acesa e Gloin com mais um feixe de tochas sob o braço. Rapidamente, Bilbo dirigiu-se até a porta e pegou a tocha, mas não conseguiu persuadir os anões a acenderem outras ou a juntarem-se a ele. Como Thorin cuidadosamente explicou, o Sr. Bolseiro continuava a ser oficialmente o ladrão e o investigador da expedição. Se queria arriscar-se com a luz, isso era problema dele.

Esperariam no túnel por um relatório seu. Assim, sentaram-se perto da porta e ficaram vigiando.

Viram o pequeno vulto escuro do hobbit caminhar através do salão, erguendo a luz tênue. Uma vez ou outra, enquanto ainda estava perto o suficiente, percebiam reflexos e um tilintar de metal quando o hobbit tropeçava em algum objeto de ouro. A luz tornava-se menor a medida que ele se afastava no amplo salão, depois começou a subir, dançando no ar.

Bilbo estava escalando o grande monte do tesouro. Logo estava no topo, e ainda ia em frente. Então, viram-no parar e abaixar-se por um momento mas não sabiam o motivo.

Era a Pedra Arken, o Coração da Montanha. Foi o que Bilbo imaginou pela descrição de Thorin, mas, realmente, não poderiam existir duas pedras iguais àquela, mesmo num tesouro assim tão esplêndido, mesmo em todo o mundo. Durante toda a escalada, o mesmo brilho branco reluzira diante dele, atraindo seus passos. Lentamente, ele cresceu, transformando-se num pequeno globo de luz pálida. Agora, a medida que ele se aproximava, uma faísca bruxuleante de muitas cores tingia sua superfície, refletindo e partindo a luz oscilante da tocha. Por fim o hobbit olhou para baixo e quase perdeu o fôlego. A grande pedra brilhava diante de seus pés com uma luz própria, que vinha de dentro dela e, mesmo assim, cortada e lapidada pelos anões, que a haviam retirado do coração da montanha muito tempo atrás, ela captava toda a luz que caia sobre sua superfície, transformando-a em dez mil faíscas de brilho branco, tocado pelas cores do arco-íris.

De repente, o braço de Bilbo foi na direção dela, por seu encantamento. Não podia envolvê-la em sua pequena mão, pois era uma pedra grande e pesada, mas ele a ergueu, fechou os olhos e a colocou no bolso mais fundo que tinha.

“Agora sou mesmo um ladrão”, pensou ele. “Mas acho que devo contar isso aos anões — qualquer hora. Eles realmente dissera m que eu poderia pegar e escolher a minha parte, e acho que eu escolheria isto, mesmo que eles ficassem com todo o resto!” Mesmo assim, tinha a incômoda sensação de que poder pegar e escolher não significava aquela pedra maravilhosa e de que aquilo ainda lhe causaria problemas.

Ele prosseguiu novamente. Desceu pelo outro lado do monte, e o brilho de sua tocha desapareceu da vista dos anões. Mas logo o avistaram na distância outra vez. Bilbo estava atravessando o salão.

Ele continuou, até chegar as grandes portas do outro lado, e ali uma corrente de ar o refrescou, mas quase apagou a luz da tocha. Espiou timidamente e viu de relance grandes corredores e o começo indistinto de amplas escadas que subiam para dentro da escuridão. E ainda não havia nenhum sinal ou ruído de Smaug. Estava quase se virando para retornar quando uma figura negra precipitou-se contra ele, roçando seu rosto. Deu um grito e um pulo, tropeçou e caiu para trás. A tocha caiu e se apagou!

— Apenas um morcego, imagino e espero! — disse ele arrasado. — Mas agora, o que vou fazer? Para onde ficam o leste, o sul, o norte e o oeste? Thorin! Balin! Oin! Gloin! Fili! Kili! — gritou ele, o mais alto que podia: um débil ruído na vastidão negra. — A luz se apagou! Alguém venha ao meu encontro! Socorro! — Naquele momento, a sua coragem o abandonara completamente.

Os anões ouviram vagamente seus gritos, embora a única palavra que conseguiram entender fosse: “socorro”!

— Agora, que diabo terá acontecido? — perguntou Thorin. — Com certeza não foi o dragão, ou ele não continuaria gritando.

Esperaram um ou dois instantes e ainda não ouviam ruídos de dragão, na verdade, não ouviam som nenhum, exceto a voz distante de Bilbo.

— Venha, algum de vocês, arranje mais uma ou duas luzes! — ordenou Thorin.

— Parece que temos de socorrer nosso ladrão. Agora é nossa vez de ajudar — disse Balin — e estou disposto a ir. — De qualquer modo, espero que não haja perigo, por enquanto.

Gloin acendeu várias outras tochas, e então todos saíram, um por um, e caminharam junto à parede, tão rapidamente quanto podiam. Não demorou muito para encontrarem o próprio Bilbo vindo em sua direção.