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Estes, na verdade, eram precisamente os seus planos (pois os corvos-mensageiros haviam trabalhado muito entre Thorin e Dain), mas, por enquanto, o caminho estava bloqueado, então, depois de palavras, os anões-mensageiros se retiraram, resmungando com suas barbas. Bard, então, mais uma vez enviou mensageiros até o Portão, mas eles não encontraram nenhum ouro ou pagamento. Flechas foram desferidas, e os mensageiros voltaram desalentados. No acampamento havia grande agitação, como se em preparação para a batalha, pois os anões de Dain estavam avançando ao longo da margem leste.

— Tolos! — riu Bard. — Virem desta forma, embaixo do braço da Montanha! Não entendem de guerra acima do chão, não importa o que saibam sobre batalhas nas minas. Muitos de nossos arqueiros e lanceiros estão agora escondidos nas rochas sobre o flanco esquerdo deles. A malha dos anões pode ser boa, mas logo estarão em apuros. Vamos agora atacá-los pelos dois lados, antes que estejam completamente descansados!

Mas o Rei Élfico disse:

— Permanecerei aqui por muito tempo antes de começar esta guerra por ouro. Os anões não podem passar por nós, a não ser que assim desejemos, nem fazer qualquer coisa sem que notemos. Vamos esperar que aconteça algo que traga a reconciliação. Nossa vantagem em número será suficiente se no final tivermos de chegar a uma batalha infeliz.

Mas ele esqueceu de considerar os anões. A idéia de que a Pedra Arken estava em poder dos sitiadores fervilhava em seus pensamentos, também adivinhavam a hesitação de Bard e seus amigos e resolveram atacar enquanto eles debatiam.

De repente, sem qualquer sinal, avançaram silenciosamente para o ataque. Arcos zuniam e flechas assobiavam, a batalha estava começando.

Mais de repente ainda, porém, a escuridão sobreveio com terrível rapidez! Uma nuvem negra cobriu o céu. Um trovão de inverno sobre o vento furioso ecoou pela Montanha, e um relâmpago acendeu-lhe o pico. E, abaixo do trovão, outra escuridão podia ser vista avançando num rodamoinho, mas não vinha com o vento, vinha do norte, como uma vasta nuvem de pássaros, tão densa que não se via nenhuma luz entre suas asas.

— Parem! — gritou Gandalf, que apareceu de repente, sozinho, com os braços erguidos, entre os anões que avançavam e as tropas à sua espera. — Parem! — gritou ele numa voz como o trovão, e seu cajado reluziu como um relâmpago. — O terror caiu sobre todos vocês! Ai de nós! Veio mais depressa do que eu esperava. Os Orcs estão sobre vocês! Bolg do Norte está vindo, ó, Dain, cujo pai você matou em Moria. Olhem! Os morcegos estão sobre seu exército como um mar de gafanhotos. Vêm montados em lobos e trazem wargs consigo.

Todos foram tomados de surpresa e perplexidade. Enquanto Gandalf falava, a escuridão crescia. Os anões detiveram-se e olharam para o céu.

Os elfos gritavam em muitas vozes.

— Venham! — chamou Gandalf. — Não há tempo para planejamentos. Que Dain, filho de Nain, venha depressa até nós!

Assim começou uma batalha que ninguém esperava, chamada a Batalha dos Cinco Exércitos e que foi extremamente terrível. De um lado estavam os Orcs e os Lobos selvagens, e do outro estavam Elfos, Homens e Anões.

Foi assim que aconteceu. Desde a morte do Grão-Orc das Montanhas Sombrias, o ódio de sua raça pelos anões acendera-se novamente e transformara-se em fúria. Mensageiros haviam percorrido todas as suas cidades, colônias e fortalezas, pois agora estavam decididos a conquistar o domínio do norte. Haviam conseguido notícias de maneiras secretas, e em todas as montanhas forjavam-se armas e armavam-se soldados. Então marcharam e juntaram-se, em colinas e vales, indo sempre por túneis ou sob a proteção da noite, até que, ao redor e sob a grande montanha Gundabad do Norte, onde ficava a sua capital, um vasto exercito se reuniu, pronto para varrer tempestade. Souberam então da morte de Smaug.

E seus corações se alegraram, apressaram-se, noite após noite, através das montanhas, e assim chegaram do norte, de repente, quase nos calcanhares de Dain. Nem mesmo os corvos sabiam de sua vinda até eles surgirem nas terras fendidas que dividiam a Montanha Solitária das colinas. O quanto Gandalf sabia não se pode dizer, mas ficou claro que ele não esperava aquele ataque repentino.

Este é o plano que ele fez, reunido com o Rei Élfico e Bard, além de Dain. Pois o senhor dos anões agora se juntara a eles: os Orcs eram inimigos de todos e, com a sua chegada, todas as outras desavenças foram esquecidas. Sua única esperança era atrair os orcs para dentro do vale, entre os braços da Montanha, e eles mesmos deveriam guarnecer com homens os grandes contrafortes que davam para o sul e o leste. Ainda assim, seria perigoso, se os orcs estivessem em número suficiente para invadir a própria Montanha e, assim, atacá-los por trás e por cima, mas não havia tempo para fazer qualquer outro plano, ou para pedir socorro.

Logo a trovoada passou, voltando-se para o sudeste, mas a nuvem de morcegos veio, voando baixo, por sobre a saliência da Montanha, rodopiando acima deles, vedando toda a luz e enchendo-os de terror.

— Para a Montanha — gritou Bard. — Para a Montanha! Vamos tomar nossos lugares enquanto ainda há tempo!

No contraforte sul, nas encostas mais baixas e nas rochas aos seus pés, ficaram os Elfos, no contraforte leste ficaram homens e anões. Mas Bard e alguns dos homens e elfos mais ágeis subiram até o topo da saliência ao leste para ter uma visão do norte. Logo puderam ver as terras diante do sopé da Montanha enegrecidas por uma multidão que corria. Em pouco tempo a vanguarda contornou a extremidade do contraforte e invadiu Vaíle. Eram os mais rápidos montadores de lobos, e seus gritos e uivos já rasgavam o ar na distância. Alguns homens corajosos postavam-se enfileirados diante deles, num arremedo de resistência, e muitos caíram ali antes que o restante recuasse e fugisse para um dos lados.

Como Gandalf esperava, o exército orc juntara-se atrás da vanguarda repelida, e agora derramava-se em ódio para dentro do vale, avançando impetuosamente entre os braços da Montanha, procurando o inimigo. Seus estandartes eram incontáveis, negros e vermelhos. E eles avançavam como uma onda furiosa e desordenada.

Foi uma batalha terrível, a mais apavorante de todas as experiências de Bilbo, e que naquele tempo mais odiou — o que quer dizer que, muitos anos depois, tornou-se a aventura de que mais se orgulhava e a que mais gostava de recordar, embora sua presença tivesse sido totalmente irrelevante. Na verdade, posso dizer que ele colocou o anel no inicio de tudo e desapareceu de vista, se bem que não de todo o perigo.

Um anel mágico daquele tipo não é proteção completa num ata que orc, nem evita flechas e lanças, mas ajuda a sair do caminho e evita que a sua cabeça seja especialmente escolhida para um golpe avassalador de um espadachim orc.

Os elfos foram os primeiros a atacar. Seu ódio pelos orcs é frio e amargo. Suas lanças e espadas brilhavam no escuro com um clarão de chama fria, tão mortal era a ira das mãos que as empunhavam. Assim que o exército dos inimigos estava apinhado no vale, enviaram contra ele uma saraivada de flechas, e cada uma brilhava ao voar, como se acesa com agulhas de fogo. Atrás das flechas, mil de seus lanceiros desceram e atacaram. Os gritos eram ensurdecedores. As rochas ficaram negras com o sangue dos orcs.

No momento em que os orcs estavam se recuperando do ataque e o avanço dos elfos cessou, um rugido grave ecoou através do vale. Com gritos de “Moria!” e “Dain, Dain!”, os anões das Colinas de Ferro mergulhavam pelo outro lado, empunhando seus alviões, e, com eles, vinham os homens do Lago com longas espadas.

O pânico tomou conta dos orcs e, mal se viraram para enfrentar o novo ataque, os elfos atacaram outra vez com contingente renovado. Muitos dos orcs já fugiam pelo rio para escapar da armadilha, e muitos de seus próprios lobos voltavam-se contra eles, despedaçando os mortos e feridos.