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— É tudo o que posso levar — disse ele.

Por fim, chegou a hora de dizer adeus aos amigos.

— Adeus, Balin! — disse ele. — E adeus, Dwalin, e adeus, Dori, Nori, Ori, Oin, Gloin, Bifur, Bofur e Bombur! Que suas barbas nunca fiquem ralas! — E, virando-se para a Montanha, acrescentou: — Adeus, Thorin Escudo de Carvalho, e Fili e Kili! Que a lembrança de vocês nunca desapareça!

Então os anões inclinaram-se diante do Portão, mas as palavras ficaram presas em suas gargantas.

— Adeus, e boa sorte, por onde quer que vá! — disse Balin por fim. — Se chegar a nos visitar de novo, quando nossos salões mais uma vez forem belos, então o banquete será realmente esplêndido.

— Se alguma vez passarem por meu caminho — disse Bilbo — não hesitem em bater na porta! O chá é servido às quatro, mas qualquer um de vocês será bem-vindo a qualquer hora.

Então virou-se.

O exército élfico estava em marcha e, embora tristemente diminuído, muitos sentiam-se felizes, pois agora o mundo do norte seria mais alegre por muitos longos dias, O dragão estava morto, os orcs derrotados, e seus corações esperavam ansiosos que o inverno se fosse e chegasse uma primavera de felicidade.

Gandalf e Bilbo cavalgavam atrás do Rei Élfico e, ao seu lado, caminhava em largos passos Beorn, mais uma vez na forma de homem, e ele ria e cantava em voz alta na estrada. Assim, continuaram até aproximarem-se das fronteiras da Floresta das Trevas, ao norte de onde saía o Rio da Floresta. Então pararam, pois o mago e Bilbo não queriam entrar na floresta, embora o rei insistisse para que ficassem um pouco em seu palácio. Pretendiam seguir ao longo da borda da floresta, contornar a extremidade norte, no ermo que ficava entre ela e o início das Montanhas Cinzentas. Era uma estrada longa e melancólica, mas agora que os orcs estavam derrotados, parecia-lhes mais segura que as terríveis trilhas sob as árvores. Além disso, Beorn também estava indo naquela direção.

— Adeus, ó, Rei Élfico! — disse Gandalf. — Que a floresta verde seja alegre, enquanto o mundo ainda é jovem! E que alegre também seja todo o seu povo!

— Adeus, ó, Gandalf! — disse o rei. — Que você sempre apareça quando for mais necessário e menos esperado! Quanto mais vezes aparecer em meus salões, mais ficarei satisfeito!

— Peço-lhe — disse Bilbo, gaguejando e sem muita coragem — que aceite este presente! — e mostrou uma cota de malha de prata e pérolas que Dain lhe dera ao se despedirem.

— O que fiz por merecer um presente como este, ó, hobbit? — perguntou o rei.

— Bem, ah, eu pensei, não sabe? — disse Bilbo, bastante confuso — que, ah, um pequeno agradecimento pela sua, ah, hospitalidade. Quero dizer que mesmo um ladrão tem sentimentos. Bebi muito de seu vinho e comi muito de seu pão.

— Aceito o presente, ó, Bilbo, o Magnífico! — disse o rei em tom grave. — E nomeio-o amigo dos elfos e abençoado. Que sua sombra nunca diminua (caso contrário, roubar ficaria fácil demais)! Adeus!

Então os elfos voltaram-se na direção da Floresta, e Bilbo partiu em sua longa estrada para casa.

Bilbo passou por muitas dificuldades e aventuras até chegar em casa. O Ermo ainda era o Ermo e naqueles dias havia muitas outras criaturas ali além de orcs, mas ele foi bem guiado e bem protegido — o mago estava ao seu lado, e Beorn também, na maior parte do caminho — e não passou por mais nenhum grande perigo. De qualquer forma, quando chegou o solstício de inverno, Gandalf e Bilbo haviam percorrido todo o caminho de volta, ao longo das duas bordas da Floresta, passando pelas portas da casa de Beorn, ali os dois ficaram por um tempo. A época de Iule naquela região era alegre e quente, e homens vieram de lugares distantes para banquetearem a pedido de Beorn. Os orcs das Montanhas Sombrias agora eram poucos e estavam apavorados, escondidos nos buracos mais profundos que podiam encontrar, e os wargs tinham desaparecido da floresta, portanto, os homens viajavam sem medo. Na verdade, Beorn depois tornou-se um grande chefe daquela região, governando uma ampla extensão de terra entre as montanhas e a floresta, e conta-se que por muitas gerações os homens de sua linhagem tiveram o poder de assumir a forma de ursos e alguns eram homens rudes e maus, mas a maioria tinha o coração de Beorn, mesmo não tendo seu tamanho e sua força. Em seu tempo, os últimos orcs foram expulsos das Montanhas Sombrias e uma nova paz reinou na borda do Ermo.

Era primavera, uma bela primavera com tempo ameno e sol claro, quando Bilbo e Gandalf finalmente despediram-se de Beorn e, embora sentisse saudades de casa, Bilbo lamentou ter de partir, pois as flores dos jardins de Beorn não eram menos maravilhosas na primavera que no auge do verão.

Por fim subiram pela longa estrada e atingiram exatamente a passagem onde os orcs os haviam capturado antes. Mas chegaram de manhã àquele ponto elevado e, olhando para trás, viram um sol branco brilhando por sobre as extensas terras. Atrás estava a Floresta das Trevas, azul na distância, e verde-escura na extremidade mais próxima, mesmo na primavera. Lá, bem distante, estava a Montanha Solitária, na linha do horizonte. No seu pico mais alto, a neve ainda não derretida tinha um brilho pálido.

— Assim, chega a neve depois do fogo, e mesmo os dragões chegam ao fim! — disse Bilbo, dando as costas à sua aventura. A parte Túk estava ficando muito cansada, e a parte Bolseiro ficava a cada dia mais forte. — Agora só queria estar em minha própria poltrona! — disse ele.

CAPITULO XIX

A última etapa

Foi em Primeiro de Maio que os dois finalmente chegaram à borda do vale de Valfenda, onde ficava a Última (ou a Primeira) Casa Amiga. Mais uma vez a noite começava, e os pôneis estavam cansados, especialmente o que levava a bagagem, e todos sentiam necessidade de descanso. Enquanto desciam a trilha íngreme, Bilbo ouviu os elfos ainda cantando nas árvores, como se não tivessem parado desde que ele partira e, assim que chegaram às clareiras mais baixas da floresta, os elfos irromperam numa canção, muito parecida com a que haviam cantado antes, Era alguma coisa assim:

Seco está o dragão, Seus ossos espalhados, A armadura partida, O esplendor humilhado! Se em ferrugem morre a espada, Corôa e trono perecem Com a força e com o ouro Que os homens favorecem, Aqui a grama vai crescendo, As folhas se agitando, A água clara correndo, E os elfos vão cantando. Venha! Tra-la-la-láli! De volta para o vale! Mais brilhante que as gemas, Muito mais, são as estrelas, A lua é bem mais branca Do que a prata, venha vê-la, Mais ilumina o fogo Ao anoitecer no lar Do que o ouro lavrado, Então por que vagar? Oh! Tra-la-la-láli! Volte para o vale! Ei, onde você vai, Tão tarde regressando? O rio vai correndo, E as estrelas queimando! Aonde vai tão carregado, Tão triste e deprimido? Aqui os elfos e suas damas Recebem o oprimido Com tra-la-la-láli! Volte para o vale! Tra-la-la-láli Fa-la-la-láli Fa-la!

Então os elfos do vale saíram para cumprimentá-los e conduzi-los através do rio até a casa de Elrond. Ali foram calorosamente recebidos e naquela noite havia muitos ouvidos ansiosos por escutar a história de suas aventuras. Foi Gandalf quem falou, pois Bilbo estava quieto e sonolento. Sabia da maior parte da história, pois fizera parte dela, e ele mesmo contara um bom pedaço para o mago no caminho de volta ou na casa de Beorn, mas, de vez em quando, abria um olho e punha-se a escutar, quando chegava uma parte da história que ainda não conhecia.