Entretanto um progresso muito maior e uma superação de preconceitos fantásticos e insuspeitados ainda terão que ser superados até que possa vir a público e se tornar do conhecimento comum e em forma científica, as singularíssimas situações orgânicas em que a circulação do sangue possa ser estacionada por dias, meses e até séculos a fio, sem que o corpo entre em decomposição. E que esses mesmos corpos possam prescindir da respiração por completo durante esse mesmo período de tempo. Isso não poderá ser feito mais através da dissecação dos cadáveres que só fornecem informação sobre a estrutura dos corpos mas quase que nada de sua função, ou seja, a fisiologia dos processos invisíveis biológicos e psíquicos muito além da anatomia, da química e da microscopia. Esses conhecimentos existem e são desenvolvidos há séculos, permanecendo no entanto em poder secreto de ordens iniciáticas e religiosas que as exploram de formas absolutamente insuspeitadas, enquanto o resto da humanidade padece e continua sem solução até para a simples gripe, bem como do câncer, da leucemia e outras doenças degererativas. Parece ser perfeitamente lógico que até os próprios vampiros só teríam a lucrar num intercâmbio científico comos seres normais. No entanto, mistérios muito mais profundos tornam impossíveis essa possibilidade. Mistérios que datam da criação do ser humano e talvez até da própria vida do Universo. Com vampiros não há diálogo. Apenas a luta de vida ou morte. Que nunca se esqueça disso, pois eles são extremamente ladinos e capazes de qualquer coisa para ludibriarem, vencerem e continuarem vivos.
2. «Apesar da imprensa ser do conhecimento dos chineses no sec. XI, foi efetivamente com johann Gutenberg (1398/1468) que ela se disseminou explosivamente por volta de 1456. Por volta de 1490 Veneza só possuía cerca de cem estabelecimentos gráficos, mas no final do século cerca de nove milhões de livros já haviam sido impressos e disseminados por toda a Europa. Este desenvolvimento fulminante da imprensa condenou à morte o medievalismo. Cinqüenta anos após a invenção da imprensa, a causa da reforma recebeu um novo e poderoso alento e foi precipitada com uma violência explosiva pela descoberta da América. A 3 de agosto de 1492 Colombo partia de Palos e abria um novo mundo ao pensamento humano. O pensamento medieval estava morto. O mundo penetrava nos tempos modernos, no reinado da Razão.»
Há alguns anos eu escreveria o texto acima com um grau de certeza muito maior do que a que tenho hoje. Na verdade, após os acontecimentos que constituem a essência desta narrativa, não creio que o pensamento madieval tenha jamais morrido. Nem que o mundo tenha passado alguma vez por um «reinado da razão». O progresso humano tem sido sempre desarrazoado na mesma proporção. Pois como já mencionei anteriormente, a qualidade de vida das pessoas só tende a dcrescer e o progresso passa a ter cada vez menor signficado prático e utilidade. Eu aprecio cada vez menos as máquinas. Porisso, à importância que delego a este documento, fiz questão de prapara-lo manuscritamente. Os grandes documentos, mesmo os mais recentes, são manuscritos. É uma tradição que quero manter. E que este manuscrito original possa ser mantido intacto mesmo depois que as cópias impressas tenham sido disseminadas e sua destruição se torne assim impossível. Sou extremamente grato a Johan Gutenberg, mas certas coisas só mãos humanas podem transmitir. Manualmente.
Darei a este documento completo o nome genérico de MANUAL PRÁTICO DO VAMPIRISMO. Ele constará basicamente de cinco partes: esta narrativa que alinhava num mesmo contexto as pessoas envolvidas e um conjunto de documentos colhidos em diversas situações e muitas vezes de autores diversos no espaço e no tempo, por mim e por meu saudoso amigo e colega Dr. Paul René, a quem dedico este trabalho.
SEGUNDA PARTE
O Vampirismo Astral
Você já tentou ler através do espelho o seu próprio rosto?
Existem mistérios dentro de nós, que não ousamos revelar nem para nós mesmos. Todos os dias símos à procura de alguma coisa para saciar nossas anciedades, e esse é um processo que se realiza ao preço da nossa sanidade mental, ou quem sabe da insanidade. Nessa busca sugamos energias, e nos deixamos ser sugados, num metabolismo que às vezes escapa do nosso controle. Procuramos fontes para alimentar-nos de sabedoria, sexo, sonhos, esperança, vida. Por mais que um suicida deseje a morte, o que está procurando é um meio de libertar-se dos morasmos causados pela sua ansiedade. Então, na verdade, não quer morrer, mas saciar-se com a vida, para isso é capaz de qualquer atitude, chegando ao extremo de matar-se por desespero, sem saber que justamente é nela que está a fonte de criação que lhe permitiria a auto-preservação diante da morte.
A ação do tempo envelhece a matéria, tornando a realidade da morte cada vez mais próxima; o objetivo do vampiro astral é conseguir vencer esse círculo tomando a energia de outros, para preservar sua beleza física e aumentar seus dotes intelectuais, aumentando o fascínio que as outras pessoas terão por ele. Para isso, não mede esforços, e procura sugar tudo que possa converter em força para realizar a travessia através do inexorável círculo do tempo.
Normalmente esses vampiros são atraentes, contando com um charme muito especial, e sabem formar teias com as palavras capazes de aprisonar para sempre o coração de um incauto. Os seus olhos irradiam a sedução do fogo dos infernos, despertando nas suas vítimas o ardente desejo de conhecer os mistérios que domina. Nos movimentos transmite a sabedoria daqueles que sabem caminhar nas trevas. Por isso, quando se aproxima de alguém para roubar-lhe as energias, provoca a atraente sensação de angústia misturada ao encantamento diabólico do desconhecido. O vampirismo astral acontece em todos os níveis de relações humanas, tanto no envolvimento social como no físico. O empresário de uma grande empresa alimenta-se do trabalho dos seus operários e por isso pode pagar tratamentos de luxo que lhe preservam a juventude por mais tempo. Já os operários, exauridos, em pouco tempo se transformam em esqueletos devidos as dificuldades que enfrentam no dia a dia.
Ja na relação entre duas mulheres é necessário que uma beba o sêmen da outra para alimentar a sua beleza e sua força masculina capaz de quebrar as barreiras que se colocam a sua frente. O lesbianismo é o mais autêntico caso de vampirismo astral. Aquela que está sendo possuída tem a sensação de estar entregando-se a mil serpentes que elevam seu goso ao mais louco êxtase. A essência que flui nesse orgasmo é imediatamente absorvido e transformado em vitalidade. Também nas relações do homem com mulher pode acontecer o vampirismo astral, a partir do momento que um possui o outro. A mulher absorve o esperma para transforma-lo em energia viva, e o homem por sua vez domina a fêmea. Era comum durante o império romano, as esposas dos poderosos convocarem muitos escravos para se masturbarem diante de uma banheira, onde era recolhido o esperma para seus banhos de embelezamento. O líquido saído das entranhas dos escravos era um eficiente creme contra as rugas, e deixava a pele macia, num nítido desejo de fugir da ação do tempo. Não menos famoso, é o caso da Condessa Bathory que recolhia centenas de camponesas no interior da Itália prometendo-lhes uma vida mais confortavel, e depois de realizar todos os tipos de libertinagem com as moçoilas, passava todas a fio de espada para tomar orgíacos banhos de sangue. Quando presa e interpelada pelas autoridades porque a necessidade do sangue, ela confessou que temia ficar velha, e o sangue das jovens lhe restituía a mocidade perdida.