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Quando a carroça começou a andar, Rand pegou o arco e a aljava na traseira, prendendo, meio atrapalhado, a aljava na cintura enquanto quase corria ao lado dela. Quando chegaram à última fileira de casas da aldeia, ele encaixou uma flecha no arco, carregando-a um pouco levantada e parcialmente puxada. Não havia nada para ver exceto árvores, em sua maior parte desfolhadas, mas os ombros dele se retesaram. O cavaleiro negro poderia surgir em cima deles antes que qualquer um dos dois percebesse. Poderia não haver tempo para puxar o arco se ele já não o tivesse quase pronto.

Rand sabia que não podia manter a tensão na corda do arco por muito tempo. Ele próprio o havia construído, e Tam era um dos poucos no distrito que conseguia puxá-lo todo até o rosto. Olhou ao redor, em busca de alguma coisa para afastar sua mente do cavaleiro negro. Cercados pela floresta, com seus mantos ondulando ao vento, isso não era fácil.

— Pai — disse finalmente —, não entendo por que o Conselho precisou interrogar Padan Fain. — Com esforço, ele desviou a atenção da floresta e olhou para Tam por cima de Bela. — Parece-me que a decisão a que vocês chegaram poderia ter sido tomada na hora. O Prefeito assustou todo mundo falando de Aes Sedai e do falso Dragão aqui nos Dois Rios.

— As pessoas são engraçadas, Rand. As melhores são assim. Haral Luhhan, por exemplo. Mestre Luhhan é um homem forte e corajoso, mas não consegue ver um açougueiro em ação. Fica branco feito um lençol.

— O que isso tem a ver com o que estamos falando? Todo mundo sabe que Mestre Luhhan não aguenta ver sangue, e ninguém, a não ser os Coplins e os Congars, vê problema nisso.

— É exatamente isso, rapaz. As pessoas nem sempre pensam ou se comportam da maneira que você espera. Aquela gente na aldeia… Se o granizo arrasar suas plantações, o vento levar cada telhado deles e os lobos matarem metade de suas ovelhas, eles vão arregaçar as mangas e começar do zero. Vão se lamentar, mas não perderão tempo. Mas é só você fazê-los pensar em Aes Sedai e em um falso Dragão em Ghealdan, e num instante eles começam a pensar que Ghealdan não é tão longe assim, do outro lado da Floresta de Sombras, e que uma linha reta de Tar Valon a Ghealdan não passaria tão longe a leste. Como se as Aes Sedai não fossem pegar a estrada por Caemlyn e Lugard, em vez de seguir pelo meio do nada! Amanhã pela manhã metade da aldeia já teria certeza de que a guerra estava prestes a se abater sobre nós. Essa confusão levaria semanas para ser desfeita. Um belo Bel Tine isso daria. Então Bran lhes deu a ideia antes que eles pudessem tê-la por conta própria.

“Eles viram o Conselho levar o problema em consideração, e a esta altura estarão ouvindo o que decidimos. Eles nos escolheram para o Conselho da Aldeia porque confiam que possamos pensar nas coisas da melhor maneira para todos. Eles confiam em nossas opiniões. Até mesmo na de Cenn, o que não diz muita coisa em nosso favor, suponho. De qualquer maneira, eles ouvirão que não há nada com que se preocupar, e vão acreditar. Não é que eles não pudessem chegar à mesma conclusão, ou não acabassem chegando a ela em algum momento, mas desse jeito o Festival não será arruinado, e ninguém terá de passar semanas se preocupando com uma coisa que provavelmente não acontecerá. Se acontecer, contra todas as probabilidades… bem, as patrulhas nos darão aviso com tempo suficiente para fazermos o que pudermos. Mas realmente acho que a coisa não vai chegar a esse ponto.”

Rand estufou as bochechas. Aparentemente, fazer parte do Conselho era mais complicado do que ele pensava. A carroça rodava barulhenta pela Estrada da Pedreira.

— Alguém além de Perrin viu esse cavaleiro estranho? — Tam perguntou.

— Mat viu, mas… — Rand piscou, depois olhou de volta para o pai por cima de Bela.

— O senhor acredita em mim? Então tenho de voltar. Tenho de contar a eles. — O grito de Tam o deteve quando ele se virou para voltar correndo para a aldeia.

— Calma, rapaz, calma! Você acha que esperei até agora para falar sem nenhum motivo?

Com relutância, Rand permaneceu ao lado da carroça ainda rangendo atrás da paciente Bela.

— O que fez o senhor mudar de ideia? Por que não posso avisar os outros?

— Eles vão saber em breve. Perrin, pelo menos, saberá. Quanto a Mat, não tenho certeza. A notícia tem de ser levada para as fazendas da melhor maneira possível, mas daqui a mais uma hora não haverá ninguém em Campo de Emond acima de dezesseis anos, pelo menos os responsáveis, que não saiba que um estranho anda espreitando por aí, e que provavelmente não é o tipo que você convidaria para o Festival. O inverno já está sendo ruim o bastante sem isso para assustar os mais jovens.

— Festival? — perguntou Rand. — Se o senhor o tivesse visto, não ia querer vê-lo nem a dez milhas de distância. Talvez nem a cem.

— Talvez — disse Tam placidamente. — Ele poderia ser apenas um refugiado dos problemas em Ghealdan, ou mais provavelmente um ladrão que pensa que vai ser mais fácil fazer um ganho aqui do que em Baerlon ou Barca do Taren. Mesmo assim, ninguém aqui por perto possui o suficiente para se dar ao luxo de ter suas posses roubadas. Se o homem estiver tentando fugir da guerra… bem, ainda assim isso não é desculpa para assustar as pessoas. Quando a guarda for montada, vai encontrá-lo ou afugentá-lo daqui.

— Espero que ela o afugente. Mas por que acredita em mim agora, se não acreditou hoje de manhã?

— Naquele momento, eu tinha de acreditar nos meus próprios olhos, rapaz, e eu não vi nada. — Tam sacudiu a cabeça grisalha. — Só jovens veem esse sujeito, ao que parece. Quando Haral Luhhan mencionou que Perrin estava se assustando com sombras, a questão veio à tona. O filho mais velho de Jon Thane também o viu, assim como o garoto de Samel Crawe, Bandry. Bem, quando quatro de vocês dizem que viram uma coisa… e todos rapazes sérios… começamos a pensar que talvez a coisa esteja ali, quer sejamos capazes de vê-la ou não. Todos menos Cenn, é claro. De qualquer maneira, é por isso que estamos indo para casa. Com nós dois longe, esse estranho poderia estar aprontando qualquer coisa por lá. Se não fosse pelo Festival, eu não voltaria nem amanhã. Mas não podemos nos tornar prisioneiros em nossa própria casa só porque esse sujeito está à espreita.

— Eu não sabia de Ban nem de Lem — disse Rand. — O restante de nós ia ao Prefeito amanhã, mas estávamos preocupados com a possibilidade de que ele também não acreditasse.

— Termos cabelos grisalhos não significa que nossos cérebros tenham virado coalhada — disse Tam, seco. — Então fique de olhos abertos. Talvez eu também o veja se ele aparecer novamente.

Rand então dedicou-se justamente a isso. E ficou surpreso ao perceber que seus passos pareciam mais leves. Os nós haviam desaparecido de seus ombros. Ele ainda estava assustado, mas não tanto quanto antes. Tam e ele estavam tão sós na Estrada da Pedreira quanto naquela manhã, mas de certa maneira ele tinha a sensação de que toda a aldeia estava com eles. O fato de outros saberem e acreditarem fazia toda a diferença. Não havia nada que o cavaleiro de negro pudesse fazer que o povo de Campo de Emond, unido, não fosse capaz de enfrentar.

5

Noite Invernal

O sol estava descendo após o ápice do meio-dia quando a carroça alcançou a casa da fazenda. Não era uma casa grande, nem de perto tão grande quanto algumas das casas de fazenda do leste, habitações que se esparramavam, crescendo ao longo dos anos para que nelas coubessem famílias inteiras. Nos Dois Rios isso frequentemente incluía três ou quatro gerações sob o mesmo teto, com tias, tios, primos e sobrinhos. Tam e Rand eram considerados fora do comum, tanto por serem dois homens morando sozinhos quanto por terem uma fazenda na Floresta do Oeste.

Ali, a maioria dos aposentos ficava em um único andar, um retângulo perfeito, sem alas nem acréscimos. Eram dois quartos e um sótão para armazenagem sob o telhado de palha inclinado. Embora a cal praticamente não existisse mais nas paredes de madeira maciça depois das tempestades de inverno, a casa ainda estava em bom estado de conservação — o telhado sem buracos e as portas e postigos das janelas bem encaixados em seus lugares.