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SIDNEY SHELDON

O OUTRO LADO DE MIM

Finalmente, o grande mestre da narrativa partilha com o leitor a maior de todas as suas histórias... a da sua vida! Começou como um dos muitos meninos pobres da América mergulhada na Depressão. Aos 17 anos, tentava suicidar-se. Como foi que este menino se transformou no mais traduzido de todos os autores, com mais de 300 milhões de exemplares dos seus livros vendidos em todo o mundo?

Como foi que o jovem arrumador numa sala de cinema subiu poucos anos depois a um palco para receber um Oscar da Academia? Em O OUTRO LADO DE MIM, Sidney Sheldon não se poupa aos golpes que a vida lhe reservou. Fala com candura dos seus altos e baixos, dos sucessos e das críticas, revelando, pela primeira vez, a sua intimidade: as suas profundas perdas pessoais e a sua busca pela felicidade.

E, se cada romance de Sidney Sheldon é garantia de leitura apaixonante, o romance da sua vida não o é menos.

OBRAS DE SIDNEY SHELDON

A Outra Face(1969)

O Outro Lado da Meia-Noite (1974)

Um Estranho no Espelho (1976)

A Herdeira (1977)

A Ira dos Anjos(1980)

O Reverso da Medalha(1982)

Se Houver Amanhã (1986)

Um Capricho dos Deuses (1987)

As Areias do Tempo (1988)

Lembranças da Meia-Noite (1990)

Juízo Final (1991)

Escrito nas Estrelas (1992)

Nada Dura para Sempre (1994)

Corrida pela Herança (1994)

O Ditador (1995)

Manhã, Tarde e Noite (1995)

Os Doze Mandamentos (1995/ Infanto-Juvenil)

O Fantasma da Meia-Noite (1995)

O Plano Perfeito(1997)

Conte-me Seus Sonhos (1998)

O Céu Está Caindo(2000)

O Estrangulador (2001)

Quem Tem Medo do Escuro?(2004)

O Outro Lado de Mim (2006)

Título originaclass="underline" The Other Side of Me

Tradução de Luiza Mascarenhas Tradução portuguesa ©de P. E. A.

Capa: estúdios P. E. A.

Copyright 2005 by Sidney Sheldon Family Limited Partnership. Todos os direitos reservados incluindo os direitos de reprodução no todo ou em parte sob qualquer forma.

Editor: Tito Lyon de Castro

PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA, LDA.

Apartado 8

2726-901 MEM MARTINS

PORTUGAL ( Revisado por Otto Silva Cerqueira)

E-maiclass="underline" secretariado@europa-america.pt

Execução técnica: Gráfica Europam, Ltda., Mira-Sintra Mem Martins

Edição n.°: 161219/8852 Outubro de 2006

Depósito legal n ° 247746/06

Consulte o nosso site na Internet: www.europa-america.pt

As minhas adoradas netas,

Lizy e Rebecca,

para que conheçam a mágica viagem que foi a minha vida

" Aquele que não tem loucos, vigaristas ou pedintes na família foi gerado pelo clarão de um relâmpago.”

Thomas Fuller, clérigo inglês do século xvI.CAPÍTULO 1

Aos dezessete anos, fui trabalhar como moço de recados na *drugstore (*farmácia) Afremow em Chicago. Era o emprego perfeito, porque me permitia desviar os barbitúricos suficientes para me suicidar. Não sabia exatamente quantos eram precisos, por isso, de forma arbitrária, calculei que vinte deviam chegar, e fui tendo o cuidado de meter no bolso uns poucos de cada vez, de forma a não levantar as suspeitas do nosso farmacêutico. Lera algures que uísque e barbitúricos eram uma combinação letal, e eu tencionava juntá-los para garantir que morreria.

Era sábado, o sábado pelo qual eu ansiara. Os meus pais estariam ausentes todo o fim de semana e Richard, o meu irmão, iam ficar em casa de um amigo. O apartamento ficaria deserto, por isso ninguém poderia atrapalhar os meus planos.

Às seis da tarde, o farmacêutico anunciou:

- Hora de fechar.

Ele não fazia a mínima idéia de como estava certo. Chegara à hora de fechar tudo àquilo que correra mal na minha vida. Eu sabia que não estava só. Todo o país pensava como eu.

Estávamos em 1934 e a América atravessava uma crise devastadora. Cinco anos antes, a bolsa entrara em colapso e a ela seguiram-se milhares de bancos. Por todo o lado, as empresas fechavam. Mais de trinta milhões de pessoas perderam os empregos e estavam desesperadas. Os salários desceram tão baixo que chegaram a um níquel à hora. Um milhão de vagabundos, incluindo duzentas mil crianças, vagueavam pelo país. Estávamos no meio de uma desastrosa depressão. Antigos milionários suicidavam-se e os executivos vendiam maçãs na rua.

A música mais popular da altura era Gloomy Sunday. Eu decorara uma parte da letra:

Gloomy Sunday,

With shadows I spend it all

My heart and I

Have decided to end it all”

Sombrio domingo,

Nas trevas tudo gastei

O meu coração e eu

Decidimos tudo acabar”. (N. da T.)

O mundo era sombrio e combinava perfeitamente com o meu estado de espírito. Eu atingira as profundezas do desespero. Não conseguia encontrar razão nem justificação para a minha existência. Sentia-me deslocado, perdido. Estava infeliz e ansiava desesperadamente por algo que não sabia definir ou nomear.

Vivíamos perto do lago Michigan, apenas a alguns quarteirões da margem, e uma noite fui até lá para ver se me conseguia acalmar. Estava uma noite ventosa e o céu mostrava-se coberto de nuvens.

Olhei para cima e pedi:

- Deus, se existes, mostra-te a mim.

E, enquanto eu ali estava parado a olhar para o céu, as nuvens aglutinaram-se e tomaram a forma de um enorme rosto. Um súbito relâmpago deu ao rosto olhos de fogo. Corri durante todo o caminho até casa, em pânico.

Eu vivia com a minha família num pequeno apartamento num terceiro andar em Rogers Park. Mike Todd, o grande homem do espetáculo, disse que várias vezes se viu falido, mas que nunca se sentiu pobre. Eu, no entanto, senti-me sempre pobre, pois vivíamos naquela aviltante e terrível pobreza em que, num Inverno rigoroso, nos víamos obrigados a não ligar o calorífero para podermos poupar e em que se aprende a desligar as luzes sempre que não são precisas. Espremíamos as últimas gotas do frasco de molho de tomate e os últimos resquícios do tubo de pasta de dentes. Mas eu estava prestes a libertar-me de tudo isto.

Quando cheguei ao nosso desolado apartamento, este estava vazio. Os meus pais já tinham partido para o fim de semana e o meu irmão não estava em casa. Não havia ninguém para me impedir de fazer o que eu me propusera.