- Eu não estava a tentar fugir de si. Dei-lhe a minha carta e disse-lhe que vinha para aqui...
- Está bem. Já cá está. Agora vamos para a esquadra ordenou. Eu estava desesperado.
- Deixe-me telefonar ao meu pai. Ele abanou a cabeça.
- Já perdi demasiado tempo...
- Só demora um segundo.
- Está bem, mas despache-se. Marquei o número de casa. Otto atendeu.
- Estou?
- Otto?
- Então, como é que correu?
- Estou a caminho da esquadra de polícia. E expliquei-lhe a situação.
- Deixa-me falar com o polícia. Pediu Otto.
- O meu pai quer falar consigo. Ele pegou no telefone, relutante.
- Sim... Não, não tenho tempo para ouvir. Vou levar o seu filho para a esquadra... O quê?... Ai é? Isso é interessante... Sim, sei o que quer dizer. Para falar verdade, sim... Tenho um cunhado que precisa de um emprego... Ai sim? Deixe-me apontar.
E puxou de uma caneta e de um bloco e começou a escrever.
É muito simpático da sua parte, senhor Sheldon. Vou mandá-lo de manhã. Olhou de relance para mim. E não se preocupe com o seu filho.
Eu ouvia a conversa de boca aberta. O polícia desligou o telefone, devolveu-me a carta de condução e disse:
- Eu que não te apanhe outra vez em excesso de velocidade. Fiquei a olhar, enquanto ele se ia embora.
Virei-me para a empregada do bengaleiro e perguntei:
- Onde está Phil Levant?
- Está a dirigir a orquestra, mas está uma pessoa à tua espera no escritório do gerente. Respondeu.
No escritório do gerente encontrei um homem muito bem vestido e elegante que parecia andar pelos cinquenta anos. Assim que entrei, ele disse.
- Então, este é o jovem maravilha. O meu nome é Brent. Trabalho para a TB Harms.
A TB Harms era uma das maiores editoras de música do mundo.
- Ouviram a sua música em Nova Iorque e gostariam de editá-la. Informou.
O meu coração cantava.
- Mas há um problema hesitou.
- Qual é?
- Eles acham que Phil Levant não é um nome suficientemente importante para apresentar a sua música. Gostavam de ter outra pessoa mais importante a tocá-la.
O coração caiu-me aos pés. Eu não conhecia ninguém mais importante.
- Horace Heidt está a tocar no hotel Drake. Talvez pudesse ir falar com ele e mostrar-lhe a música sugeriu.
Horace Heidt tinha uma das orquestras mais populares do país.
- Claro.
Deu-me o cartão dele.
- Diga-lhe que me telefone.
- Com certeza. Prometi.
Olhei para o relógio. Era um quarto para a meia noite. Horace Heidt ainda devia estar a tocar. Entrei no carro de Otto e conduzi bem devagarzinho até ao hotel Drake. Quando cheguei, dirigi-me ao salão de baile onde ele dirigia a orquestra.
Assim que entrei, o chefe de mesa perguntou-me:
- Tem mesa reservada?
- Não. Estou aqui para falar com o senhor Heidt.
- Pode aguardar aqui.
E apontou para uma mesa vazia junto a uma parede. Esperei quinze minutos e, quando Horace Heidt saiu do palco, interpelei-o:
- Senhor Heidt chamo-me Sidney Sheldon. Tenho aqui uma música que...
- Lamento muito, mas não tenho tempo... Retorquiu.
- Mas a Harms quer que... Ele começou a afastar-se.
- A Harms quer editá-la. - Fui dizendo alto - Mas querem alguém como o senhor a tocá-la.
Ele parou e voltou para junto de mim.
- Deixe lá ver. Dei-lhe a partitura.
Estudou-a como se a ouvisse na cabeça.
- É uma música bonita.
- Está interessado? Perguntei. Olhou para mim.
- Estou. Quero cinquenta por cento. Eu ter-lhe-ia dado cem por cento.
- Excelente!
E entreguei-lhe o cartão que Brent me dera.
- Vou fazer uma orquestração. Volte cá amanhã.
Na noite seguinte, quando voltei ao hotel Drake, ouvi a minha música a ser tocada por Horace Heidt e a sua orquestra, e soava ainda melhor do que o arranjo que Phil Levant fizera. Sentei-me e aguardei até ele estar livre. Ele aproximou-se da mesa onde eu estava sentado.
- Já falou com o senhor Brent? Perguntei.
- Sim. Vamos fazer um contrato.
- Sorri. A minha primeira música ia ser editada.
Na manhã seguinte, Brent veio ter comigo ao bengaleiro do Bismarck.
- Está tudo tratado? Perguntei.
- Infelizmente não.
- Mas...
- O Heidt está a pedir um avanço de cinco mil dólares e nós nunca demos esse montante por uma música nova.
Fiquei abismado. Quando terminei o meu trabalho, fui ao hotel Drake para falar com Horace Heidt outra vez.
- Senhor Heidt, eu não quero saber do avanço. Só quero a minha primeira música publicada. Expliquei.
- Nós vamos publicá-la - Sossegou-me - Não te preocupes com isso. Eu próprio a vou publicar. Para a semana parto para Nova Iorque. A música vai receber muito tempo de antena.
Além da sua emissão noturna, Horace Heidt era o apresentador de um popular programa semanal chamado Horace Heidt and His Alemite Brigadiers.
”My Silent Self” seria transmitida de Nova Iorque e ouvida por todo o país.
Durante as semanas seguintes, consegui ouvir as emissões de Horace, e ele tinha toda a razão. ”My Silent Self” teve muito tempo de antena, tanto nas emissões da noite, como no programa Alemite. Ele usou a minha música, mas nunca a editou.
Eu não me senti desencorajado. Se for capaz de compor uma música que despertara a atenção de um grande editor, então ia compor uma dúzia delas. E foi exatamente o que fiz. Passei todo o meu tempo livre sentado ao piano a compor canções. Pensei que doze músicas seria um bom número para enviar para Nova Iorque. Não me podia dar ao luxo de lá ir pessoalmente, porque precisava de me manter nos meus empregos para ajudar a família.
Natalie ouvia as minhas músicas e ficava encantada e entusiasmada.
- Querido, são melhores do que as de Irving Berlin. Muito melhores. Quando é que as vais levar a Nova Iorque?
Abanei a cabeça.
- Natalie, eu não posso ir à Nova Iorque. Tenho três empregos aqui. Se eu...
- Não, tens de ir - Interrompeu ela com firmeza - Eles não vão sequer ouvi-las se as mandares pelo correio. Tens de ir pessoalmente.
- Não temos dinheiro... - Disse eu - Se...
- Querido, esta é a tua grande oportunidade. Não te podes dar ao luxo de a deixares passar.
Eu não fazia idéia que ela estava a viver através de mim.
Nessa noite, tivemos uma conversa em família. Relutante, Otto acabou por concordar que eu devia ir à Nova Iorque. Arranjaria um trabalho até as minhas músicas começarem a vender.
Decidimos que eu devia partir no sábado seguinte.
A prenda de Natalie foi um bilhete de autocarro para Nova Iorque.
Nessa noite, quando eu e Richard estávamos deitados nas nossas camas, ele perguntou-me:
- Tu vais ser um compositor tão importante como o Irving Berlin? E eu respondi-lhe a verdade: