Выбрать главу

Fiquei excitado. Eu ia trabalhar para a conceituada academia. Na manhã seguinte, encontramo-nos no escritório dele.

- Chegou à altura certa. Vai trabalhar aqui à noite, a ver filmes na nossa sala de projeção. Informou-me.

- Excelente. E qual é a minha função? Perguntei.

- Ver filmes na nossa sala de projeção. Eu olhava para ele. Ele explicou:

- A Academia está a experimentar vários tipos de preservantes de filmes. Revestimos várias secções dos filmes com químicos diferentes. A sua função é ficar sentado na sala de projeção e registrar o número de vezes que um filme é passado. E, acrescentou como se pedisse desculpas: Lamento dizer, mas o pagamento são três dólares por dia.

- Aceito.

O primeiro filme que vi vezes sem conta foi The Man Who Lived Twice e pouco tempo depois já sabia de cor todas as falas. Passava as noites a ver os mesmos filmes e os dias a aguardar que o telefone tocasse.

No fadado dia de 12 de Dezembro de 1938, recebi um telefonema da Universal Studios. Acabara de fazer algumas sinopses para eles.

- Sidney Sheldon?

- Sim.

- Pode vir aos nossos estúdios hoje de manhã? Mais três dólares.

- Claro.

- Por favor, dirija-se ao gabinete do senhor Townsend.

Al Townsend era o editor sênior da Universal. Quando cheguei aos estúdios, fui conduzido ao escritório dele.

- Li as sinopses que escreveu para nós. São muito boas.

- Muito obrigado.

- Estamos a precisar de um leitor interno. Está interessado no lugar?

Interroguei-me se ele ficaria ofendido se eu lhe desse um beijo.

- Estou, sim. Foi a minha resposta.

- Tem um salário de dezessete dólares por semana. Trabalhamos seis dias por semana. O seu horário será das nove às seis. Começa na segunda-feira.

Liguei para o escritório de Sidney para lhe dar as notícias e para convidá-la para jantar.

Uma voz desconhecida atendeu:

- Sim?

Queria falar com Sidney Singer.

- Ela não está cá.

- Quando volta?

- Não volta.

- Como...? Quem fala?

- Dorothy Arzner.

- Oh! Por acaso tem o endereço dela, menina Arzner?

- Não deixou nenhum.

Nunca mais voltei a ver a Sidney, mas nunca me esqueci da dívida que tenho para com ela.

A Universal era um estúdio que fazia filmes categoria B. Fora fundada em 1912 por Cari ”Papa” Laemmle, e era conhecida pela sua economia. Uns anos antes, o estúdio telefonara para o agente de uma grande estrela de filmes westem e dissera que estavam interessados em contratá-lo para um filme de orçamento reduzido. O agente riu-se.

- Vocês não lhe podem pagar. Ele ganha mil dólares por dia.

Está bem respondeu o diretor da empresa. Nós pagamos. O filme era sobre um bandido mascarado. No primeiro dia da produção, o realizador filmou inúmeros close-ups da estrela em vários locais e, ao final do dia, disseram-lhe que não precisavam mais dele. O que fizeram a seguir foi substituir o ator por outro mais barato, que usou uma máscara durante o resto do filme.

Na segunda-feira de manhã, quando cruzei os portões e entrei pela primeira vez nos terrenos de um estúdio, senti-me invadir por uma sensação de espanto. Passei por fachadas de cidades do Oeste, por casas vitorianas, por ruas de São Francisco e de Nova Iorque, e senti a magia.

Al Townsend explicou-me as minhas funções. O meu trabalho consistia em ler dúzias e dúzias de guiões, que tinham sido escritos para filmes mudos e tentar desencantar os que podiam ser recuperados para filmes falados. Quase todos eram irrecuperáveis. Lembro-me de uma linha memorável que descrevia um vilão ”Ele tinha um saco de ouro no olhar.”

Durante a época do Papa Laemmle, a Universal era um estúdio com um ambiente fácil, do tipo mangas arregaçadas. Não se sentia qualquer pressão. Era como se fosse uma família grande.

Eu agora ganhava um cheque semanal e conseguia pagar regularmente a Grade. Ia para os estúdios seis dias por semana, e nunca deixei de sentir a mesma ao passar pelos terrenos onde os sonhos eram criados todos os dias. Sabia que era simplesmente o princípio. Entrara na Universal como leitor, mas ia recomeçar a trabalhar em histórias originais e conseguiria vendê-las aos estúdios. Escrevi a Natalie e a Otto para lhes contar como corriam as coisas. Eu agora tinha um emprego permanente em Hollywood.

Um mês depois, Papa Laemmle vendeu a Universal e, juntamente com todos os outros, fui despedido.

Não me atrevi a contar a Natalie ou a Otto o que acontecera, porque sabia que iam insistir para que eu regressasse a Chicago. Eu sabia que era ali que estava o meu futuro. Tinha de procurar outro emprego um emprego qualquer até conseguir regressar a um estúdio.

Li os anúncios de ofertas de emprego. Um deles chamou a minha atenção:

Precisa-se de operador de central telefônica. Não se exige experiência. $20 por semana. Hotel Brandi.

O hotel Brandi era um hotel chique perto de Hollywood Boulevard. Quando lá cheguei, a única pessoa no átrio era o gerente.

- Vim por causa do anúncio para telefonista disse eu. Estudou-me por momentos.

- A nossa telefonista despediu-se. Precisamos de alguém imediatamente. Já alguma vez trabalhou com uma central telefônica?

- Não, senhor.

- Bem, não tem nada de especial. E levou-me atrás de uma secretária onde estava um grande painel com aspecto complicado.

- Sente-se. Pediu.

Sentei-me. O painel era composto por duas filas de cavilhas verticais e cerca de trinta buracos onde elas podiam ser enfiadas, cada um pertencendo a um quartos numerado.

- Está a ver estas cavilhas?

- Sim.

- São aos pares, uma por cima da outra. A de baixo tem o nome de cavilha irmã. Quando a luz do painel se acende, coloca a cavilha da frente nesse buraco. Quem chama vai dizer-lhe que número de quarto pretende e você pega na cavilha irmã e enfia-a no respectivo número pedido, e em seguida prime este botão aqui, para tocar no quarto. É só isto.

Anui.

- É fácil.

- Dou-lhe uma semana à experiência. Vai trabalhar de noite.

- Tudo bem. Respondi.

- Quando pode começar?

-Já comecei.

O gerente tinha razão. Gerir uma central telefônica era fácil. Passou a ser automático. Quando uma luz se acendia, eu enfiava uma cavilha na fila da frente.

- O senhor Klemann, por favor.

Consultava o livro de registros dos hóspedes. O senhor Klemann estava no quarto 231. Enfiava a cavilha no buraco do 231 e premia o botão para tocar no quarto. Era tão simples quanto isto.

Tinha a sensação de que operar uma central telefônica era o princípio de qualquer coisa. Eu podia ser promovido à gerente da noite e depois, quem sabe, talvez a gerente e, como o hotel pertencia a uma cadeia, nunca se sabia até onde eu podia subir, e ia escrever uma peça sobre hotéis com conhecimento de causa, vendê-la a um estúdio e acabar por chegar onde afinal pretendia chegar.

Duas noites depois de ter começado, um dos hóspedes ligou para a central às três da manhã.