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As nossas negociações tiveram lugar numa sala de conferências dos estúdios da Metro-Goldwyn-Mayer. A comissão era formada por seis leitores de vários estúdios. Sentados na nossa frente, a uma enorme mesa, estavam quatro executivos. Seis carneiros e quatro leões.

Eddie Manix, um duro irlandês que era um dos quatro executivos da Metro-Goldwyn-Mayer iniciou a reunião, rugindo:

- Mas, afinal, qual é o vosso problema? Um dos do nosso grupo falou:

- Senhor Manix, nós não estamos a ganhar um ordenado decente. Eu recebo dezesseis dólares por semana e não tenho possibilidade de...

Eddie Manix pôs-se bruscamente de pé e gritou:

- Eu não vou ficar aqui a ouvir estas merdas! E saiu de rompante da sala.

Nós os seis permanecemos sentados, petrificados. A reunião terminara.

Um dos outros executivos abanou a cabeça e disse:

- Vou ver se o consigo convencer a voltar!

Uns minutos mais tarde, regressou com um Manix furioso. Nós ficamos sentados a observá-lo com um ar intimidado.

- Mas que raio querem vocês? Exigiu saber. E recomeçamos as nossas negociações.

Duas horas mais tarde, havia uma Associação de Leitores oficial que seria reconhecida por todos os estúdios. A comissão concordara com um ordenado base de vinte e um dólares e cinquenta cêntimos por semana para os leitores que fizessem parte do quadro da empresa e um aumento de vinte por cento para os leitores externos. Fui eleito presidente da associação.

Foi só anos mais tarde, quando o voltei a encontrar, que percebi o brilhante papel que Eddie Manix desempenhara. Telefonei a Natalie e a Otto para lhes contar o que acontecera. Ficaram encantados. Mais tarde soube que, depois de eu ter desligado, Otto saíra de casa e fora ter com os seus amigos para lhes contar que eu sozinho, sem a ajuda de ninguém, salvara os estúdios de Hollywood de uma greve ruinosa.

Um dos novos hóspedes da Gracie era um jovem tímido chamado Ben Roberts. Tinha a minha idade, era baixo, de pele escura, cabelo fino e um rosto sorridente. Era dono de um sentido de humor seco e lacônico. Depressa nos tornamos amigos.

Ben era escritor, mas o seu único crédito era uma curta metragem de Leon Errol. Começamos a falar em colaboração. Todas as noites dirigíamo-nos para a drugstore na esquina e comíamos um sanduíche como jantar, ou então optávamos por um restaurante chinês dos baratos. Trabalhar com Ben era fácil. Ele tinha imenso talento e, em poucas semanas, tínhamos terminado uma história original. Mandamo-la por correio para todos os estúdios importantes e ficamos ansiosos à espera que as propostas entrem em catadupa pela porta dentro.

Mas nada chegou.

Deitamos ao trabalho numa outra história, com o mesmo resultado. Concluímos que era óbvio que os estúdios não reconheciam talento quando o viam.

Uma terceira história também não foi comprada. Começamos a sentir-nos desencorajados.

Um dia eu disse:

- Tenho uma idéia para um policial. Vamos chamar-lhe Dangerous Holiday. Expliquei-lhe qual era a minha idéia e ele gostou. Escrevemos um resumo e enviamos cópias pelo correio aos estúdios. Mais uma vez, não obtivemos qualquer resposta.

Uma semana depois de termos mandado a nossa história, cheguei à pensão e o Ben estava à minha espera, muito excitado.

- Dei a nossa história a um produtor conhecido meu, o Ted Richards. Trabalha na PRC.

Era um dos estúdios menores, a Producers Releasing Corporation.

- Ele adorou Dangerous Holiday – Continuo - Ofereceu-nos quinhentos dólares por ela. Inclui escrevermos o argumento. Eu respondi-lhe que ia falar contigo e que depois lhe dava uma resposta.

Fiquei encantado. Era claro que íamos fazê-lo. Em Hollywood, o crédito mais importante era sempre o primeiro que se conseguia. Fez-me lembrar a minha primeira experiência em Nova Iorque.

- Já tem alguma música editada?

- Não.

- Então volte depois de ter alguma coisa editada.

Agora era:

- Tem algum crédito no cinema?

-Não.

- Então volte quando tiver.

Bom, pois agora já tínhamos. Dangerous Holiday.

Uns meses antes, eu travara conhecimento com Ray Crossett, que estava encarregue do departamento literário da Leland Hayward, uma das principais agências de talentos de Hollywood. Por alguma razão, Crossett acreditava em mim e prometera que um dia ia ser o meu representante.

Telefonei-lhe a contar as boas notícias acerca de Ted Richmond.

- Eu e o Ben acabamos de vender a nossa primeira história disse eu. Chama-se Dangerous Holiday.

- Aquém?

- À PRC.

- O que é isso?

Fiquei desapontado. Ray Crossett era um dos maiores agentes deste negócio e nunca tinha ouvido falar na PRC!

- É um estúdio chamado Producers Releasing Corporation. Um produtor de lá chamado Ted Richmond ofereceu-nos quinhentos dólares, incluindo o argumento que vamos ter que escrever.

- Já fecharam o negócio?

- Bom, dissemos que depois lhe dizíamos, mas...

- Eu já te ligo respondeu, e desligou. Duas horas mais tarde, Ray estava ao telefone.

- Acabei de vender a vossa história à Paramount. Eles pagam-vos mil dólares e não têm de escrever nenhum argumento.

A minha primeira reação foi ficar chocado, mas sabia o que acontecera. Todos os estúdios têm uma sinopse de todas as histórias que lhes são apresentadas. Quando Ray ligou para a Paramount e lhes disse que Dangerous Holiday tinha sido comprada por outro estúdio, eles morderam o isco.

- Ray - disse eu- isso é... Isso é ótimo, mas não podemos aceitar.

- De que é que estás a falar? É o dobro do dinheiro e num estúdio importante.

- Não posso. Sinto que tenho obrigação para com o Ted Richmond e...

- Olha. Telefona-lhe e conta-lhe o que se passou. Tenho a certeza que ele vai compreender.

- Bom, vou tentar. Foi a minha resposta.

Mas eu tinha a certeza que Ted Richmond não ia compreender. Liguei para o escritório dele. A secretária respondeu-me:

- O senhor Richmond está na sala de montagem. Não pode ser incomodado.

- É capaz de lhe pedir para me ligar? É muito importante.

- Eu dou-lhe o seu recado. Uma hora mais tarde voltei a ligar.

- Preciso falar com o senhor Richmond. É urgente.

- Lamento muito, mas ele não pode ser incomodado. Dei-lhe o seu recado.

Nessa tarde tentei ligar-lhe três vezes e por fim acabei por desistir. Telefonei para Ray Crossett.

- Richmond não responde aos meus telefonemas. Vai em frente e faz o negócio com a Paramount.

- Já o fiz há quatro horas.

Quando Ben chegou, pu-lo a par do que se passara.

Ficou excitado.