- Isso é fantástico – Exclamou - A Paramount é muito importante. Mas agora o que dizemos nós ao Ted Richmond?
Boa pergunta. O que íamos dizer agora ao Ted Richmond. Nessa noite, liguei para casa de Ted e ele atendeu. Como tinha um sentimento de culpa, entrei a matar.
- Liguei-lhe hoje uma boa meia dúzia de vezes. Porque é que não me telefonou?
- Peço desculpa, mas estive na sala de montagem e...
- Pois devia ter-me ligado. Por sua causa eu e Ben quase perdíamos um bom negócio.
- De que é que está a falar?
- A Paramount acabou de comprar Dangerous Holiday. Fizeram-me uma proposta e, como não conseguíamos falar consigo, acabamos por lhes vender a história.
- Mas eu já a pus na nossa programação e...
- Não se preocupe com isso. Respondi, Está com sorte. Temos uma história muito mais interessante do que Dangerous Holiday. Chama-se South of Panamá. É um drama, com uma história de amor, suspense e muita ação. É uma das melhores coisas que já escrevemos. Fizeram-se uns segundos de silêncio.
- Muito bem. - Respondeu- Venha então ter comigo e Alex amanhã às oito da manhã, ao Pig &Whistle.
Alex era o diretor da PRC.
- Lá estarei. Respondi e, pousando o auscultador, virei-me para Ben: Não temos tempo para jantar. Temos de inventar um enredo que tenha uma história de amor, suspense e muita ação. Temos até às sete da manhã.
Trabalhamos a noite toda, a discutir idéias, a tentar encontrar um enredo, a acrescentar e retirar personagens. Ia ficando cada vez mais cansativo. Terminamos South of Panamá às cinco da manhã.
- Conseguimos! Exclamou Ben - Vais-lhes mostrar isto de manhã.
Concordei. Pus o despertador para as sete. Ia ter duas horas para dormir, antes da reunião.
Quando o despertador tocou, levantei-me meio grogue e reli a nossa história. Era péssima. Odiei o enredo, as personagens e os diálogos. Mas mesmo assim tinha de ir à reunião e enfrentar Alex e Ted.
As oito em ponto enfiei-me no Pig &Whisde. Ted e Alex estavam sentados num reservado à minha espera. Trouxera comigo duas cópias da história.
- Mal posso esperar por ler isto. Comentou Alex. Ted anuiu com a cabeça.
- Eu também.
Sentei-me e dei uma cópia a cada um. Começaram imediatamente a ler. Eu não tinha coragem para olhar para eles. Viravam as páginas. E não faziam nenhum comentário. Mais páginas. Silêncio.
É merecido, pensei. Como é que é possível escrever sob uma pressão assim?
Acabaram os dois ao mesmo tempo. Alex olhou para mim.
- É brilhante.
- Espetacular - Corroborou Ted- Tinhas razão. É muito melhor do que Dangerous Holiday.
Eu não acreditava no que estava a ouvir.
- Pagamos quinhentos dólares - Disse Alex - E têm de escrever o argumento.
Respirei fundo.
- Negócio fechado.
Ben e eu tínhamos feito um milagre. Conseguíramos vender duas histórias num período de vinte e quatro horas.
Nessa noite, eu e Ben fomos celebrar ao Musso &Frank’s, um dos clássicos restaurantes de Hollywood. Era a primeira vez que tínhamos dinheiro para fazê-lo. Foi um dia depois de fazer vinte e quatro anos.
South of Panamá foi filmado pela Producers Releasing Corporation e teve como atores Roger Pryor e Virgínia Vale. A Paramount filmou Dangerous Holiday e chamou-lhe Fly-by-Night, com Richard Carlson e Nancy Kelly.
Eu e Ben estávamos metidos numa onda. A primeira coisa que fiz foi despedir-me do meu trabalho como leitor na Fox. O senhor Zanuck teria de passar sem mim. Pouco depois de deixar a Fox, eu e Ben vendemos outra história chamada Borrowed Hero à Monogram, um pequeno estúdio que fazia filmes de categoria B, e Dangerous Lady e Gambling Daughters à PRC. Por cada história e cada argumento recebíamos quinhentos dólares, que dividíamos entre nós. Seria despropositado estar a dizer que eram histórias memoráveis, mas pelo menos começamos a ser reconhecidos como escritores.
Leonard Fields, um produtor da Republic Studios, a primeira da lista dos filmes B, comprou-nos uma história chamada Mr. Distinct Attarney in the Cárter Case. Pela história e pelo argumento, nós dois recebemos a magnífica soma de seiscentos dólares.
O filme acabou por ser um êxito e Leonard Fields chamou-me:
- Estamos interessados em fazer um contrato convosco.
- Ótimo!
- Quinhentos dólares por semana.
- Para cada um?
- Para a equipe.
Trabalhamos os dois na Republic durante um ano a fazer guiões, até o nosso contrato chegar ao fim. No Natal, Leonard Fields mandou-nos chamar.
- Vocês estão a fazer um excelente trabalho. Tencionamos renovar o contrato.
- Isso são excelentes notícias, Leonard. O único problema é que eu e Ben pretendemos receber seiscentos dólares por semana.
Leonard Fields anuiu.
- Depois entro em contacto convosco. Nunca mais tivemos notícias de Leonard Fields.
Falei com Ray Crossett e perguntei-lhe porque é que ele ainda não tinha conseguido arranjar um contrato com uma das grandes empresas.
- Receio que os vossos créditos não sejam muito impressionantes. Teria mais hipóteses se nunca tivessem escrito nenhum desses filmes.
Assim, continuamos a escrever e a vender filmes de categoria B. Era uma forma de ganhar a vida.
Fui a casa pelo dia de Ação de Graças e foi maravilhoso rever Richard e os meus pais. Otto fez questão de convidar os vizinhos, para que eles pudessem ver o seu filho, que controlava Hollywood.
CAPÍTULO 11
Era maravilhoso estar de volta a casa. Richard crescera. Terminara o liceu e estava pronto para entrar na faculdade. A única coisa que ensombrou a minha visita a casa foi o fato de Natalie e Otto continuarem a brigar. E desta vez era Richard que era apanhado no meio.
Falei com eles sobre o assunto, mas o azedume entre eles era demasiado profundo para serem capazes de parar de discutir. Eram simplesmente incompatíveis.
Decidi que chegara o momento de levar Richard comigo para Hollywood. Eu e Ben vendíamos suficientes histórias para me poder sustentar a mim e ao meu irmão.
- Que achas de ires comigo para Hollywood? Perguntei. Ele olhava fixamente para mim.
- Estás a falar a sério?
- Claro que estou.
Fez-se um silêncio e em seguida ouviu-se um grito de tal forma poderoso que pensei que me ia romper os tímpanos.
Uma semana mais tarde, Richard mudou-se para a pensão de Grade e apresentei-o a todos os outros hóspedes. Nunca antes o vira tão feliz, e percebi o quanto sentíramos a falta um do outro.
Três meses depois de eu e Richard termos saído de Chicago, Natalie e Otto divorciaram-se. Fiquei um pouco incomodado, mas concluí que era o melhor para todos.
Uma manhã recebi um telefonema.
- Sidney?
- Sim.