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- Olá, amigo, fala Bob Russell.

- Não só eu não era amigo dele como nunca antes ouvira aquele nome. Provavelmente um vendedor.

- Desculpe, mas não tenho tempo para... Comecei a dizer.

- Devias ter feito umas canções com Max Rich.

Por momentos fiquei sem saber o que dizer. Como é que ele sabia? Percebi imediatamente de quem se tratava.

- Sidney Rosenthal!

Bob Russell emendou:

- Vou até Hollywood para te ver.

- Ótimo!

Bob Russell chegou uma semana depois e foi ocupar o último quarto disponível na pensão de Gracie. Era maravilhoso voltar a vê-lo. Continuava entusiástico como sempre.

- Continuas a escrever canções? Perguntei.

- Podes apostar. E tu não devias ter desistido. Ralhou. Richard, que era do tipo gregário, já fizera amigos em Hollywood

Por vezes trazia-os até a pensão de Gracie e outras vezes era convidado para as casas deles.

Uma noite em que fomos convidados para um jantar, eu estava a tomar um duche e, quando me estiquei para apanhar o sabonete, a hérnia deu um sinal e caí ao meio do chão com dores horríveis. Fiquei de cama nos três dias seguintes. Concluí que, quer gostasse quer não, era uma coisa com que teria de viver para o resto da minha vida.

Uma noite, Natalie telefonou.

- Querido, tenho notícias para ti. Vou-me casar.

Fiquei encantado por ela. Desta vez esperava que ela fosse tratada como merecia.

- E quem é ele? Conheço-o?

- Chama-se Martin Leeb. É fabricante de brinquedos e é um amor.

- Parece-me muito bem. Quando é que o vou conhecer? Perguntei, entusiasmado.

- Nós vamos aí visitar-vos.

Quando contei as novidades a Richard ele ficou tão entusiasmado quanto eu.

O telefonema seguinte, na semana seguinte, veio de Otto:

- Sidney, era só para te dizer que me vou casar.

Aí sim. Fui apanhado de surpresa.

- Alguém que eu conheça?

- Não. Chama-se Ann Curtis. É muito boa pessoa.

- Ainda bem. Fico muito feliz por ti. Espero que sejas feliz.

- Eu sei que vou ser.

Tive algumas dúvidas.

Com Bob Russel conosco, era como se estivéssemos em casa. Trouxera com ele a última canção que escrevera.

- É uma canção de amor não correspondido. Vê o que consegues fazer com ela. Pediu Bob.

Toquei-a ao piano e comentei:

- É linda. Tive uma idéia. Há uma cantora que vai começar a atuar no próximo sábado num clube do East Side. Tenho a certeza que ela pode usar isto. Importas-te que lha mostre?

- Estás à vontade.

No dia seguinte, fui ao clube onde a cantora estava a ensaiar e mostrei-lhe a canção.

- Gosto. Dou-lhe cinquenta dólares. Foi a resposta dela.

- Aceito.

- Quando entreguei o dinheiro a Bob, este mostrou um enorme sorriso.

- Muito obrigado. Agora já sou um profissional.

Hollywood tinha todos os dias as suas temperamentais minitempestades, mas na Europa uma enorme tempestade estava em gestação. Começara em 1939 quando a Alemanha e a União Soviética invadiram a Polônia. Em seguida, a Inglaterra, a França e a Austrália declararam guerra à Alemanha. Em 1940, a Itália juntou-se à Alemanha e, neste momento, uma dúzia dos países europeus estavam em guerra. A América afirmara a sua neutralidade. Mas por pouco tempo.

No dia 7 de Dezembro de 1941, Pearl Harbour foi atacado pelos japoneses e, no dia seguinte, o presidente Franklin D. Roosevelt declarou guerra ao Japão.

Uma hora depois de Roosevelt ter declarado guerra, Louis B. Mayer, o diretor da Metro-Goldwyn-Mayer, que foi indicado pelo presidente da MGM Nicholas Schenk, convocou todos os seus produtores e realizadores mais importantes para uma reunião. Assim que todos se encontravam reunidos, Mayer disse com ar solene:

- Todos vocês já têm conhecimento do que se passou ontem em Pearl Harbour. Pois nós não vamos aceitar isso. Vamos lutar. E olhou em redor da sala. Sei que posso contar convosco para se juntarem a mim no apoio ao nosso presidente, o senhor Nicholas M. Schenk.

Ben, Bob e eu estávamos em idade de recrutamento e sabíamos que em breve seríamos convocados.

- Há uma unidade de instrução em filmes em Fort Dix, na Nova Jérsia, e eu vou-me alistar e ver se consigo entrar. Disse Ben.

Alistou-se como voluntário no dia seguinte e o Exército ficou muito satisfeito por recebê-lo. Uma semana depois estava a caminho do leste.

- O que fará? Perguntei a Bob.

- Ainda não sei. Sofro de asma. Não me vão aceitar no exército. Vou voltar para Nova Iorque e ver o que posso fazer para ajudar. E tu, que pensas fazer?

- Vou alistar-me no Air Corps.

Em 26 de Outubro de 1942, inscrevi-me no Army Air Corps.

Para que a minha inscrição fosse aceite, eram necessárias três cartas de recomendação de três pessoas importantes. Eu não conhecia ninguém importante. Comecei a escrever cartas aos membros do Congresso, a dizer-lhes que estava decidido a servir o meu país e que precisava da ajuda deles. Levei dois meses para conseguir finalmente reunir as três cartas.

O passo seguinte era marcar um encontro no Federal Building, na baixa de Los Angeles, para me submeter a um exame escrito. Havia cerca de duzentos candidatos na sala. O teste, que abrangia lógica, vocabulário, matemática e cultura geral, demorou quatro horas.

A parte da matemática escapou-me completamente. Como mudara tantas vezes de escola, a verdade é que nunca aprendera os seus princípios básicos. Falhei a maior parte das perguntas dessa parte e fiquei com a certeza que ia chumbar.

Três dias mais tarde recebi uma notificação para me apresentar no Air Corps, para fazer um exame médico. Para meu grande espanto, passara o teste escrito. Mais tarde fiquei a saber que só trinta candidatos de todo o grupo tinham sido aceites.

Fui mandado para um depósito de armas, na parte alta da cidade, para fazer o meu exame médico, com a certeza de que ia passar com distinção.

Quando o exame terminou, o médico perguntou:

- Tem alguns problemas de ordem física de que eu deva saber?

- Não, senhor... Mal acabei de dizer isto, lembrei-me da minha hérnia discal e interroguei-me se seria importante.

- Eu...

- Sim, diga?

Sabia que estava a pisar um terreno perigoso.

- Bom, eu tenho um pequeno problema, mas é de pouca importância. Tenho uma hérnia discal que de vez em quando me incomoda, só que...

Ele estava a escrever na minha ficha ”hérnia discal”. Fiquei a olhar, vi-o pegar num carimbo de borracha com a palavra ”INAPTO” em letras vermelhas.

- Espere! Pedi. Levantou o olhar para mim.

- Diga?

Eu não ia permitir que nada se atravessasse no meu caminho.

- Essa hérnia não me incomoda há muito tempo. Está curada. Nem sequer me lembro de quando foi a última vez que me incomodou. Eu só falei nela porque foi uma coisa que tive em tempos.

Eu não sabia o que estava a dizer, mas sabia que se ele carimbasse a minha ficha com o carimbo de tinta vermelha, eu estava acabado. Continuei a falar até que ele acabou por pousar o carimbo.

- Está bem. Se tem a certeza...

Na minha voz mais sincera, respondi: