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- Doutor, tenho a certeza absoluta.

- Muito bem.

Eu ia entrar! Só faltava o exame aos olhos, e aí não havia problema.

Fui mandado a outro gabinete onde me deram dois cartões, cada um deles com o nome de um optometrista que podia aprovar a minha inscrição.

- Leve este cartão a um destes médicos. - Disseram-me - Quando tiver passado o seu exame oftalmológico, peça que o assinem. Depois os traga de volta.

Voltei para a pensão de Gracie e contei a Richard como as coisas estavam a correr bem. Tudo levava a crer que eu ia conseguir entrar para o Air Corps.

Richard ficou desolado por eu ir partir.

- Vou ficar aqui sozinho!

- A Gracie toma conta de ti. E não tarda nada vem aí a mãe e o Marty. De qualquer das maneiras, a guerra não vai durar muito tempo. Assegurei.

Sidney, o Profeta.

Na manhã seguinte fui ver o doutor Fred Severn, cujo nome constava do primeiro cartão. A sala de estar estava cheia de homens que aguardavam a vez para fazerem testes aos olhos. Sentei-me e ali fiquei durante uma hora. Por fim, lá fui conduzido ao gabinete do Dr. Severn.

- Sente-se.

Ele olhou para o cartão que lhe dei e acenou com a cabeça.

- Piloto?

- Sim, senhor.

- Bom, vejamos se tem a visão vinte/vinte que eles exigem. Conduziu-me a uma sala menor que tinha na parede um enorme cartaz. O doutor Severn escureceu a sala.

- Comece a ler de cima para baixo.

Era fácil, até que cheguei às duas últimas linhas. Não conseguia ler uma única letra. Mas com certeza que ter chegado ali tão perto devia bastar. As luzes acenderam-se.

O médico escrevia qualquer coisa num papel. Eu conseguira!

- Dê isto à recepcionista. Pediu.

- Muito obrigado, doutor.

Quando me encaminhava para a porta olhei para o cartão. O meu nome estava lá e, na parte inferior do cartão, o médico escrevera ”Inapto por razões de ordem física. Visão deficiente”. Assinado, Doutor Fred Severn.

Não podia acreditar. Não podia aceitar aquilo. Nada me ia impedir de entrar para o Air Corps.

Comecei a sair com o cartão na mão.

A recepcionista pediu:

- Senhor, importa-se de me dar o seu cartão? Continuei a andar, fingindo que não a ouvira.

- Senhor...

Eu já estava na rua.

Ainda tinha um médico a visitar. Mas como é que eu ia ter a certeza que ia conseguir passar no teste?

Uma hora mais tarde, estava no gabinete do meu optometrista habitual, o doutor Samuel Peters. Contei-lhe o que se passara.

- Para uma visão vinte/vinte explicou ele precisa ser capaz de ler todas as linhas.

- Há alguma forma de me ajudar a conseguir isso? Pensou durante uns momentos.

- Há, sim.

- Abriu uma das gavetas e tirou para fora um par de óculos com lentes que pareciam fundos de garrafa.

- O que é isso?

- Isto é o que vai conseguir fazer com que seja aceite no Air Corps.

- Como?

- Antes de fazer o seu próximo teste, use-os durante um bocado.

- Vão inibir a sua visão fazendo com que os seus olhos se tenham de esforçar para conseguir ver alguma coisa. Por isso, quando for fazer o teste, a sua visão estará melhor do que nunca.

- Excelente. Respondi. Apertei-lhe a mão, agradeci e saí. Marcara com o segundo médico, o Doutor Edward Gale, às dez da manhã do dia seguinte.

Entrei no átrio do edifício onde ele tinha o consultório e sentei-me num banco. Coloquei os óculos grossos e aguardei que efetuassem a sua magia.

Trinta minutos antes da minha hora, tirei os óculos e entrei na recepção do consultório do doutor Gale.

- Senhor Sheldon, o doutor está à sua espera para lhe fazer o teste. Disse a enfermeira.

Sorri com ar satisfeito.

- Muito obrigado.

Entrei no consultório e entreguei o cartão ao doutor Gale. Este olhou para ele e comentou:

- Air Corps? Sente-se.

O médico escureceu a sala e apareceu um quadro iluminado.

- Muito bem. Comece a ler do topo.

Havia um pequeno problema. Eu não conseguia ver uma única letra no quadro.

Ele continuava à espera.

- Pode começar.

Na primeira linha havia qualquer coisa que podia ser um A grande, mas não tinha a certeza. Resolvi arriscar.

A.

- Sim, continue.

Não conseguia fazer mais nada. Eu estava quase cego.

- Eu não consigo...

O médico olhava fixamente para mim.

- Qual é a linha seguinte?

- Eu... Eu não consigo ler.

- Está a brincar comigo? Ele estava zangado. Não consegue ler nenhuma daquelas linhas?

- Não, eu...

- E quer voar com o Air Corps? Esqueça! Pegou no cartão e começou a escrever.

A minha última hipótese tinha acabado de ir por água abaixo. Comecei a entrar em pânico. E gaguejei:

- Espere pedi. Não escreva nada agora. Ele olhou para mim, espantado.

- Doutor, o senhor não compreende. Há uma semana que não durmo. Tenho tido que tomar conta da minha mãe. Os meus olhos estão cansados. Não tenho andado bem. O meu tio preferido acabou de morrer. Tem sido horrível. Tem que me dar outra oportunidade.

Ele ouvia-me. Mas quando falou, disse:

- Lamento muito, mas não vejo como...

- Só uma oportunidade.

- Ele conseguia perceber o desespero na minha voz. Abanou a cabeça.

- Bom, podemos experimentar amanhã. Mas quanto a mim está a perder...

- Oh, muito obrigado! Cá estarei. Respondi, e corri de volta ao meu optometrista.

- Muito obrigado. Disse eu amargamente. E contei-lhe o que se passara no consultório do doutor Peters.

- Durante quanto tempo é que usou os óculos? Perguntou.

- Vinte ou trinta minutos.

- Só os devia ter usado durante dez minutos.

Agora é que ele dizia!

- Isto é muito importante para mim - Expliquei-lhe - Tenho de fazer qualquer coisa.

Sentou-se na cadeira por momentos a pensar.

- Ele escureceu a sala quando estava a ler o quadro?

- Sim.

- Ótimo.

Dirigiu-se a um armário e veio de lá a segurar um quadro.

- Oh, excelente. Eu vou decorá-lo e... Comecei a dizer.

- Não pode ser. Quadros diferente tem letras diferentes.

- Então, para quê...?

- O que vai fazer é o seguinte. Pratique neste quadro. Semicerre os olhos para ler as letras. Vai ajudá-lo a ver melhor. Faça-o até conseguir ler as letras das últimas linhas. No escuro ele não vai perceber o que está a fazer.

Eu estava céptico.

- Tem a certeza que...?

- Isto é consigo. Boa sorte.

Passei a noite toda a semicerrar os olhos para conseguir ler as letras todas do quadro. Parecia estar a resultar, mas eu não sabia muito bem como me iria comportar perante o doutor Gale.

Às dez da manhã do dia seguinte, estava de volta ao consultório do doutor Gale. Assim que ele me viu, começou a dizer: