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No dia seguinte fizemos outros exercícios e vomitei outra vez.

Quando aterramos, o capitão Anderson perguntou:

- Tomou pequeno almoço esta manhã?

- Sim, senhor.

- De hoje em diante nunca mais comes nada até a hora de almoço. Isso significava que não podia comer nada entre o jantar da véspera e a uma e meia da tarde seguinte.

Na primeira vez que o capitão Anderson me passou os comandos, todos os enjoos me passaram imediatamente. Daí em diante, sempre que eu pilotava o avião, sentia-me maravilhosamente bem, concentrado naquilo que estava a fazer.

Todas as semanas telefonava a Richard e a Natalie e Marty, para que soubessem que eu estava bem. Tudo me parecia bem e afiancei-lhes que ia ser o grande ás da Segunda Grande Guerra.

Um dia, Richard telefonou:

- Tenho notícias para ti, Sidney. Acabei de me alistar.

Por um instante, o meu coração parou. Ele era demasiado novo para... E de repente percebi que ele já não era um rapazinho.

- Richard, estou orgulhoso de ti. Respondi.

Uma semana mais tarde, ele estava a caminho da caserna.

Era vulgar, durante o treino de voo, o capitão Anderson desligar a ignição, sem qualquer pré aviso.

- O teu motor foi-se, Sidney. Faz uma aterragem de emergência.

Olhei para baixo. Não havia onde aterrar. Mas percebi pela expressão dele que não era isso que queria ouvir. Fui perdendo altitude aos POUCOS, até que avistei um lugar aceitável para aterrar.

Quando me preparava para fazê-lo, o capitão ligou a ignição:

- Está bom. Agora sobe.

Um dia, o capitão Anderson disse:

- Sheldon, está pronto para voar sozinho. - Fiquei muito excitado - Assegura-te sempre que a altitude e a velocidade estão coordenadas.

Anuí, apertei o pára-quedas e entrei pela primeira vez sozinho no avião. Os outros grupos de voo observavam. Comecei a taxiar pela pista e, momentos mais tarde, estava no ar. Foi uma sensação fantástica, uma sensação de liberdade. Como se tivesse quebrado os laços com a terra e mergulhado num mundo novo. Uma sensação de não enjoado.

Atingi a altitude padrão de sessenta e um mil pés e dei início às minhas manobras de rotina.

Recebera ordens para me manter no ar durante pelo menos vinte minutos. Olhei para o relógio. Estava na altura de mostrar aos que estavam lá em baixo o que era uma aterragem perfeita. Empurrei a manete de comando para frente e iniciei a descida. Via os homens lá em baixo, no campo de aviação, à minha espera.

As regras de aterragem são rígidas e as velocidades para determinadas altitudes foram-nos enfiadas na cabeça. Enquanto me aproximava do chão, olhei para o altímetro e de repente percebi que não me lembrava a que velocidade devia estar. A verdade é que tudo o que aprendera sobre voar desaparecera completamente da minha cabeça.

Em pânico, puxei de novo a manete para ganhar altitude e evitar esmagar-me no chão. Freneticamente, tentei lembrar-me da fórmula para altitude e velocidade, mas o meu cérebro estava vazio. Se cometesse um erro na aterragem, despenhar-me-ia e morreria. Voei em círculos, a tremer, enquanto tentava recordar o que devia fazer. Pensei em saltar de pára-quedas, mas sabia que o Air Corps não se podia dar ao luxo de perder um avião. E a verdade é que não podia ficar lá em cima para sempre. Ia chegar uma altura em que tinha mesmo que aterrar.

Reiniciei a minha descida, tentando em vão lembrar-me de qual devia ser a minha velocidade à aproximação da pista. Desci até os mil pés a uma velocidade de cinquenta milhas por hora... Será que estava com velocidade a mais? Voei por três vezes em círculos sobre o campo, aproximando-me aos poucos do chão. Cinquenta milhas por hora, velocidade a mais, velocidade a menos? Respirei fundo e concentrei-me.

O avião tocou na pista, saltou, tocou na pista de novo, saltou outra vez e por fim ficou no chão enquanto eu puxava a manete e atacava os travões. Quando saí cá para fora, todo eu tremia.

O capitão Anderson, que ia a caminho da cidade, assim que se apercebeu do que se estava a passar, parou e voltou a toda velocidade para o campo de aviação. Chegou junto de mim a correr.

- Que raio é que te passou pela cabeça? Exigiu saber. Eu suava por todos os poros.

- Eu... Eu não sei... Da próxima vez será...

- Qual próxima vez! Já! Fiquei perplexo.

- Já?

- Isso mesmo. Entra outra vez naquele avião e leva-o já lá para cima.

Achei que estava a brincar.

- Estou à espera!

Então, era mesmo verdade. Eu conhecia o ditado ”Se caíres de um cavalo, tens de voltar a montar logo de seguida.” O capitão Anderson, pelos vistos, pensava o mesmo no que dizia respeito aos aviões. Estava a mandar-me para uma morte certa. Olhei-o nos olhos e optei por não argumentar. Voltei para o avião, sentei-me e tentei controlar a minha respiração. Se eu morresse, a culpa seria toda dele.

Todos olhavam enquanto eu taxiava pela pista.

Estava de novo no ar. Tentei relaxar e concentrar-me e lembrar-me de tudo o que me tinham ensinado sobre altitude, velocidade e ângulos de voo. Graças a Deus, de repente, a minha mente clareou. Fiquei lá em cima mais uns quinze minutos e, desta vez, eu estava pronto. Fiz uma aterragem quase perfeita.

Quando saía apressadamente do avião, o capitão Anderson rosnou:

- Isso mesmo. Assim está melhor. Amanhã repetes.

O resto do meu treino de voo decorreu sem incidentes, exceto num dia memorável, perto do final do curso.

Nessa manhã, quando me preparava para levantar voo, o capitão Anderson disse:

- Sheldon, recebemos informação de que se aproxima uma grande tempestade. Mantém-te atento. Assim que a vires aproximar, aterra imediatamente.

- Sim, senhor.

Decolei, atingi a minha altitude e comecei a descrever círculos em redor das montanhas, fazendo os meus parafusos e as minhas perdas. Aproxima-se uma grande tempestade... Assim que a vires aproximar, aterra imediatamente...

E se eu fosse apanhado por ela e não conseguisse ver um sítio para aterrar? Imaginei os cabeçalhos ”Piloto apanhado numa tempestade”.

As notícias sairiam na rádio e na televisão. O mundo suspenderia a respiração enquanto aguardava para saber se o jovem cadete se conseguia safar ou não. O campo de aviação lá em baixo estaria cheio de ambulâncias e de equipamento de bombeiros. Fiquei completamente embrenhado nestes pensamentos, a deleitar-me com a minha coragem perante este enorme desastre, quando de repente me apercebi que tudo escurecera à minha volta. Isso porque o meu avião estava exatamente no meio da tempestade. Eu voava às cegas, rodeado por terríveis e sinistras nuvens negras. Não só não via a pista de aterragem como não conseguia ver absolutamente nada. A única coisa que sabia era que estava cercado por todos os lados por terríveis picos montanhosos e que a qualquer segundo me arriscava a esmagar-me contra um deles. Perdera todo o sentido de orientação. O campo de aviação estava na minha frente? Atrás? Dos lados?

O avião começou a ser sacudido de um lado para o outro pelo vento. Os cabeçalhos que imaginara estavam quase a transformar-se em verdadeiros. Num esforço para evitar as montanhas que me cercavam, comecei a voar em pequenos círculos, perdendo aos poucos altitude, sacudido de um lado para o outro, a tentar manter-me sempre na mesma área segura. Quando atingi os trinta pés, vi finalmente o campo de aviação. Os outros tripulantes estavam todos lá em baixo a observar.