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Assim que aterrei, o instrutor chegou furioso junto de mim.

- Que diabo se passa contigo? Eu avisei-te para estares atento à tempestade.

- Peço desculpa. Sim, senhor. Ela chegou e eu não reparei. Recebi as minhas asas exatamente três meses depois de ter chegado a Richfield.

O capitão Anderson reuniu-nos.

- Estão prontos para receber treino de vários motores, os BT-19 e os DAT-6. Infelizmente, de momento, as escolas de aviões mais avançados estão completamente cheias. Por isso vão ter de ficar a aguardar. A qualquer momento podem abrir vagas. Enquanto esperam, não precisam ficar aqui, mas deixem um telefone de contacto com o sargento onde possam ser contatados, quer de dia quer de noite. Assim que alguma dessas escolas tenha vagas, entraremos imediatamente em contacto convosco. Boa sorte.

Lembrei-me imediatamente de Ben Roberts. Decidi que enquanto aguardava por uma vaga iria até Nova Iorque. Fiz uma reserva num hotel em Manhattan e dei o número de telefone ao sargento. Tinha o pressentimento de que no momento exato em que lá chegasse receberia uma mensagem com instruções para regressar.

Despedi-me dos meus companheiros de voo e nessa mesma tarde estava a bordo de um avião para Nova Iorque, ao encontro de Ben.

CAPÍTULO 13

Foi um voo calmo e agradável. Eu ia sentado num enorme avião comercial cheio de passageiros, no meu uniforme do Air Corps, com as minhas novas asas, e a ficar cada vez mais enjoado e com todos os passageiros a olharem para mim. Tenho a impressão de que se me tivesse sido permitido voar em combate a guerra teria sido muito mais curta. Mas nós é que tínhamos perdido!

Chegamos à Nova Iorque, à terra do Brill Building, do RKOJefferson e de Max Rich, e as recordações que entraram em catadupa pareciam pertencer a outro mundo, a outra época.

Ben Roberts estava no aeroporto à minha espera com um enorme abraço. A caminho do hotel, foi-me pondo a par das suas atividades.

- Estou destacado em Fort Dix a escrever filmes de treino de guerra explicou. Tu nem acreditas no que são. Num deles passamos dez minutos a mostrar aos recrutas como abrir o capo de um carro. É como se estivéssemos a escrever para crianças de cinco anos. Quanto tempo vai ficar em Nova Iorque?

Abanei a cabeça.

- Tanto posso ficar uma hora como uma semana. Mas imagino que será mais perto de uma hora. - E expliquei-lhe a minha situação. - Estou à espera de um telefonema para me mandarem apresentar de volta no Air Corps, e pode ser a qualquer momento.

Chegamos ao hotel onde tinha a reserva e dirigi-me à recepção.

- Estou à espera de um telefonema de longa distância muito importante. - Informei o recepcionista. - É mesmo muito importante. Por favor, certifique-se de que o recebo imediatamente.

Combinamos jantar no dia seguinte.

Na manhã seguinte, liguei para a Califórnia para o meu agente, Louis Schur. Disse-lhe que estava em Nova Iorque e que tinha tempo livre até a abertura de uma vaga na escola de voo.

- Por que não passas no escritório e falas com o meu sócio, Jules Zeigler? Sugeriu. Pode ser que tenha alguma coisa para fazeres, enquanto aí estiveres.

Jules Zeigler, chefe do escritório de Nova Iorque, era um homem moreno, de uns quarenta anos e com uma energia rápida e nervosa.

- O Louie disse-me que vinha cá. Anda a procura de algum projeto? Perguntou.

- Bom, eu...

- Tenho uma coisa interessante. Já alguma vez ouviu falar em Jan Kiepura?

- Não. Que é? Alguma espécie de festividade?

- Jan Kiepura é uma grande estrela de ópera na Europa. Assim como a mulher, a Marta Eggerth. Fizeram inúmeros filmes por lá. Querem montar um espetáculo na Broadway, The Merry Widow.

The Merry Widow, uma opereta famosa de Franz Lehár contava a história de um príncipe de um pequeno reino que corteja uma viúva rica para convencê-la a manter o dinheiro dela no país dele. Estava sempre em cena algures por todo o mundo.

- Pretendem alguém que lhes atualize o livro. Está interessado em encontrar-se com eles?

Para quê? Eu não ia sequer ficar em Nova Iorque tempo suficiente para escrever uma carta, quanto mais um espetáculo da Broadway.

- Não creio que...

- Bom, pelo menos faça uma coisa. Encontre-se com eles.

Encontrei-me com Jan Kiepura e Marta Eggerth na sua suit no hotel Astor. Quando Kiepura me abriu a porta, olhou para o meu uniforme e ficou intrigado:

- É o escritor?

- Sou.

- Entre.

Jan era um homem forte que rondava os quarenta anos e tinha um forte sotaque húngaro. Marta era magra e atraente, com cabelo em ondas até aos ombros e um sorriso acolhedor.

- Sente-se. Pediu Jan. Sentei-me.

- Pretendemos fazer The Merry Widow, mas precisa ser atualizada. Jules diz que é um bom escritor. O que é que já escreveu?

- Fly-By-Night, South of Panamá... E fui nomeando alguns dos filmes de categoria B que fizera com Ben.

Olharam um para o outro com um ar inexpressivo. Jan Kiepura disse:

- Depois entramos em contacto consigo. Pronto, acabou. E ainda bem.

Trinta minutos mais tarde, estava de volta ao escritório de Jules Ziegler.

- Eles acabaram de ligar. Querem que lhes escreva o espetáculo. Informou.

A nuvem negra desceu sobre mim. Não havia qualquer hipótese de eu o fazer. A Broadway era a Meca a que todo o escritor aspirava. O que sabia eu sobre escrever um espetáculo para a Broadway? Nada, absolutamente nada. Ia fazer figura de parvo e arruinar a produção. De qualquer das maneiras, eu estava à espera a qualquer momento do telefonema para regressar ao Air Corps.

Jules Ziegler observava-me.

- Sente-se bem?

- Não tive coragem de lhe explicar que não ia fazer o espetáculo.

- Claro que sim.

Regressei ao meu quarto no hotel. Teria de informá-los de que não havia forma de fazê-lo. Mas, enquanto pensava no assunto, ocorreu-me que havia uma maneira. Ben Roberts. Ele podia escrever o espetáculo por mim. E quando, no meio do projeto, eu fosse chamado pelo Air Corps, ele podia terminá-lo.

Liguei-lhe para Fort Dix.

- Então, novidades? Perguntou.

- Já te conto as novidades. Vamos escrever uma versão moderna de The Merry Widow. Fez-se um silêncio.

- Não sabia que bebias.

- Estou a falar a sério. Estive a conversar com as estrelas do espetáculo. Eles querem-nos.

- Ele ficou sem fala.

No dia seguinte, fui ao teatro onde The Merry Widow ia estrear. O espetáculo seria produzido pela New Opera Company, encabeçada pela Yolanda Mero-Irion, uma mulher baixinha, roliça e de meia idade, com uma voz aguda e esganiçada.

Era uma produção de primeira categoria. A coreografia estava a cargo do lendário George Balanchine, um dos mais importantes coreógrafos do século. Balanchine era de estatura média com o corpo bem desenvolvido de um bailarino. Tinha um sorriso amigável e um leve sotaque russo.