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O diretor era o brilhante Felix Brentano e o maestro, Robert Stolz, um maravilhoso compositor por direito próprio. A primeira bailarina seria Milada Mladova, uma jovem bailarina européia absolutamente espantosa.

Tive uma reunião com Balanchine, Stolz e Brentano e discutimos o libreto.

- Tem de ser o mais moderno possível, mas sem perder o sabor de época. Pediu o diretor.

- Agradável e divertido. Acrescentou Balanchine.

- Leve. Comentou Robert Stolz.

- Certo. Moderno, mas mantendo o sabor de época, agradável, divertido e leve.

- Muito bem.

Eu e Ben tínhamos arranjado uma forma para podermos colaborar. Como ele estava destacado em Fort Dix, na Nova Jérsia, vinha à noite a Nova Iorque, onde jantávamos e trabalhávamos até à uma ou duas da manhã.

Os meus receios quanto a escrever um espetáculo para a Broadway tinham-se evaporado. Trabalhar com Ben fazia com que tudo parecesse fácil. Ele era incrivelmente criativo e dava-me a confiança que me faltava.

Quando terminamos de escrever o primeiro ato, levei-o à produtora, Yolanda Mero-Irion. Fiquei a olhar, ansioso, enquanto ela folheava as páginas.

Ela olhou para mim.

- Isto é péssimo. Isto é uma porcaria ladrou de forma agressiva. Fiquei sem palavras.

- Mas... Nós fizemos tudo o que...

- Vocês escreveram um desastre! Um desastre! Está-me a ouvir? O tom de voz dela era maldoso.

- Peço desculpa. Diga-me, por favor, do que é que não gosta que eu e o Ben voltamos a escrever e...

Ela levantou-se, olhou para mim e foi-se embora.

Eu estava de volta à minha primeira sensação. O que é que me passara pela cabeça para pensar que era capaz de escrever um espetáculo para a Broadway?

Enquanto ali estava sentado a contemplar o desastre que estava eminente, George Balanchine e Felix Brentano entraram no escritório.

- Ouvi dizer que já tem o primeiro ato. Acenei lugubremente que sim.

- É verdade.

- Vamos lá dar uma olhadela a isso.

Senti-me tentado a não os deixar ver nada.

- Claro.

Começaram a ler e eu só desejava estar longe dali, bem longe. Ouvi uma risada. Viera de Felix Brentano. E em seguida uma gargalhada. Fora o Balanchine. Estavam os dois a sorrir enquanto liam. Estavam a gostar! Quando terminaram, Felix Brentano virou-se para mim:

- Está ótimo, Sidney. É exatamente aquilo que precisávamos. George Balanchine apoiou:

- Se o segundo ato for tão bom quanto este... Mal podia esperar para dar as novidades a Ben.

No hotel, mantive-me sempre perto do telefone à espera de um telefonema do Air Corps e quando andava por fora deixava sempre instruções de onde podia ser contatado.

Para os solteiros, Nova Iorque pode ser uma cidade muito solitária. Tivera algumas conversas casuais com a nossa primeira bailarina, Milada Mladova, e dávamo-nos bem. Um domingo em que não havia ensaio a convidei para jantar e ela aceitou.

Queria impressioná-la, por isso levei-a ao Sardi’s, o restaurante favorito dos do mundo do espetáculo. Eu continuava fardado.

Durante o jantar discutimos o espetáculo e ela confidenciou-me como se sentia excitada por tomar parte nele.

Por fim, o jantar terminou. Pedi a conta. Eram trinta e cinco dólares. Um preço aceitável. O problema é que eu não tinha trinta e cinco dólares. Fiquei a olhar para a conta durante o que me pareceu uma eternidade. Na época ainda não havia cartões de crédito.

- Passa-se alguma coisa? Perguntou Milada.

- Não. - Respondi apressadamente, e tomei uma decisão. - Já venho.

Levantei-me e dirigi-me à entrada onde Vincent Sardi, o proprietário se encontrava.

- Senhor Sardi...

- Sim?

Aquilo ia ser complicado. Vincent Sardi não criara o seu negócio a dar de comer a tesos.

- É sobre a minha conta... Comecei a dizer nervosamente. Ele olhava para mim, a estudar-me. Ele sabe reconhecer um teso quando o vê.

- Passa-se alguma coisa de errado com a sua conta?

- Não. Está tudo bem. O problema é que... É que... Eu não tenho o dinheiro. Perguntei-me se Milada estaria a observar. Rapidamente, acrescentei: Senhor Sardi, eu sou o escritor da peça que vai estrear no Majestic Theatre, do outro lado da rua. Mas ainda não estreou. De momento... Eu não tenho dinheiro que chegue... Será que pode confiar em mim até a peça estrear?

Ele anuiu.

- Claro. Não há qualquer problema. E quero que saiba que será sempre bem vindo aqui, em qualquer altura.

Fiquei muito mais aliviado.

- Muito obrigado.

- Não tem de quê.

- Estendeu-me a mão. Vinha acompanhada por uma nota de cinquenta dólares.

Yolanda, a nossa produtora, odiava tudo o que eu e Ben escrevíamos. Tinha mesmo a impressão que ela odiava tudo mesmo antes de ler.

- O espetáculo vai ser um fiasco. Vai ser um fiasco. Não parava de dizer.

Eu só rezava para que ela não fosse adivinha.

Por seu lado, George Balanchine, Felix Brentano e Robert Stolz adoravam o que escrevíamos.

Durante os ensaios, Yolanda saltitava pelo palco como um enorme gafanhoto, a ladrar ordens a toda a gente. Os profissionais estavam demasiado ocupados para se incomodarem.

Um dia, durante um intervalo a meio do ensaio, Balanchine aproximou-se:

- Gostava de falar consigo.

- Com certeza. Passa-se alguma coisa, George?

- Não. Um amigo meu, Vinton Freedley, está a produzir uma peça nova. Anda a procura de um escritor. Falei-lhe em si e ele disse que gostava muito de conhecê-lo.

- Obrigado. Tenho muito gosto em conhecê-lo. Respondi, grato. Balanchine olhou para o relógio.

- Para falar a verdade, você tem um encontro com ele à uma da tarde.

Dois espetáculos na Broadway ao mesmo tempo? Inacreditável.

Vinton Freedley era um dos produtores mais importantes da Broadway. Entre os seus créditos contava-se Funny Face, Grel Crazy e pelo menos mais meia dúzia de êxitos. Freedley era um produtor eficiente, um homem de negócios que ia direito ao assunto.

- O George diz-me que o senhor é bom.

- Esforço-me por isso.

- Vou fazer um espetáculo chamado Jackpot. É sobre uma jovem que faz rifas de si própria para conseguir angariar fundos para o esforço de guerra, e a rifa vencedora pertence a três soldados.

- Parece divertido. Comentei.

- Já tenho um escritor, Guy Bolton, mas ele é inglês e acho que precisa de um americano a trabalhar com ele. Quer o lugar?

- Claro que sim. E acrescentei: A propósito, eu tenho um colaborador que se chama Ben Roberts. Ele vai trabalhar comigo.

Freedley concordou.

- Por mim, não tem problema. A música está a ser escrita por Vernon Duke e Howard Dietz.

Dois grandes nomes da Broadway.

- E quando é que podem começar? Perguntou Vinton Freedley.

- Imediatamente.

Tentei parecer convincente, mas na minha cabeça estava sempre a lembrança de que o telefonema podia chegar a qualquer momento que eu teria de me apresentar para o meu treino de voo avançado.