- Eu sei que tem razão respondeu. - E respirou fundo. - Eu vou deixá-lo.
- Isso mesmo.
- Já estou melhor. Muito obrigada.
- Não tem de quê. Vive em Nova Iorque?
- Sim.
- Tem alguma coisa para fazer amanhã à noite?
Olhou para mim e respondeu:
- Não.
- Então, vamos jantar.
- Com muito gosto.
Na noite seguinte, eu e Wendy Barrie jantamos no Sardi’s e sentimos grande prazer na companhia um do outro. Saímos juntos durante as duas semanas seguintes.
Uma sexta-feira de manhã, recebi um telefonema.
- Sidney?
- Sim.
- Gosta de viver?
- Muito, por quê?
- Se gosta, deixe de sair com a Wendy Barrie.
- O que é que quer dizer com isso?
- Por acaso sabe quem é que lhe paga a renda da casa?
- Não. Nós nunca... Ela nunca me disse.
- Bugsy Siegel.
O assassino da Máfia.
Nunca mais saí com Wendy Barrie.
Conheci as nossas duas estrelas do jackpot, Allan Jones e Nanette Fabray. Allan Jones era o atraente galã do cinema, com quase um metro e oitenta, um físico poderoso e sorriso perverso. Cantava com uma voz maravilhosa e era um ícone na gravação. Nanette Fabray era encantadora. Tinha vinte e poucos anos, um corpo maravilhoso, uma personalidade otimista e era uma atriz nata, perfeita para o papel.
Eu sentia que o espetáculo ia ser um sucesso.
Um dia, depois do ensaio, Roy Hargrave, o diretor de jackpot, disse:
- Rapazes, vocês estão a fazer um excelente trabalho com o argumento.
Lembrei-me logo da Yolanda Mero-Irion. Um fiasco.
- Obrigado, Roy.
- Tenho um amigo que está a produzir um musical e anda a procura de um escritor. Falei-lhe em vocês. Estão interessados em ter um encontro com ele?
Impossível. Eu e Ben já estávamos a escrever dois espetáculos e eu ia ser chamado para o Air Corps não tardava nada.
- Temos muito gosto.
- Chama-se Richard Kollmar e é casado com a Dorothy Kilgallen.
Eu costumava ler a famosa coluna que ela tinha no jornal. Ela e o Kollmar constituíam um casal poderoso no mundo do espetáculo da Broadway.
- Vou telefonar-lhe e marcar um encontro entre vocês. Roy Hargrave fez um telefonema e, quando terminou, disse:
- Amanhã de manhã às dez.
Richard Kollmar tinha produzido, dirigido e entrado em vários musicais de sucesso da Broadway e ainda só tinha trinta e poucos anos. Era magro, entusiástico e simpático.
- O Roy disse-me que você é mesmo um bom escritor. Eu vou fazer um musical de fantasia, uma produção com belos cenários e guarda-roupa. É sobre uma escritora de telenovelas que adormece e sonha que é Xerazade e que tem de contar continuamente histórias ao sultão para não morrer.
- Parece interessante. E quem faz o papel de Xerazade?
- Vera Zorina.
A bailarina mundialmente famosa que se transformara em estrela da Broadway e que, por acaso, era casada com George Balanchine.
- O Ronald Graham contracena com ela. Quer escrever a peça com a Dorothy?
- Gostava muito. A propósito, eu tenho um colaborador. Ele acenou com a cabeça.
- Eu sei, Ben Roberts. Quando podem começar?
-Já
Eu e Ben teríamos tempo para dormir depois da guerra.
Telefonei-lhe assim que cheguei ao hotel.
- Estamos a escrever um musical para Richard Kollmar, chamado Dream with Music.
- Espera lá! - Interrompeu - Porque é que os outros já não nos querem?
- Mas eles querem-nos. Continuamos a fazê-los.
- Estamos a escrever três espetáculos para a Broadway ao mesmo tempo?
- Não é o que toda a gente faz?
Eu continuava a usar a minha farda, sempre à espera do telefonema a chamar-me para me apresentar na escola de treino de voo avançado. Mas agora andava tão ocupado a escrever os três espetáculos que só pedia para que ele não chegasse nessa altura. Só precisava de dois ou três meses.
Os deuses deviam estar a rir.
Duas horas depois de me encontrar com Richard Kollmar e aceitar a tarefa, o telefonema chegou.
- Sidney Sheldon?
- Sim.
- Fala o Major Baker. Tem instruções para se apresentar amanhã de manhã às 09:00, ao capitão Burns, no quartel general do Exército, no Bronx.
O coração caiu-me aos pés. O momento não podia ser pior. Abandonávamos três espetáculos. Ben só estava livre à noite e eu estaria no estrangeiro, algures.
O capitão Burns era um homem alto, careca, que usava um uniforme cuidadosamente engomado. Ergueu os olhos assim que entrei no gabinete.
- Sheldon?
- Sim, senhor.
- Sente-se.
Sentei-me. Estudou-me por momentos.
- Terminou o treino de voo básico?
- Sim, senhor.
Deitou uma olhadela a um papel que tinha sobre a secretária.
- E inscreveu-se para entrar numa escola secundária de voo?
- Sim, senhor.
- Esses planos foram alterados. Fiquei intrigado.
- Alterados?
- Sim, a guerra sofreu uma evolução. Passamos à ofensiva. Agora vamos atrás dos filhos da mãe. O que precisamos é de pilotos de combate. O senhor não está habilitado para isso devido aos seus problemas de visão. Temos instruções para licenciar todos os que pertencem à unidade do War Training Service.
Levei algum tempo a digerir.
- O que significa...?
- Todos os voluntários no WTS têm agora a possibilidade de escolher. Pode apresentar-se a uma unidade de infantaria como soldado no Exército, ou podemos passar o seu nome para a secção de recrutamento.
A escolha de Hobson. Mas eu precisava do tempo. O mais natural é que a secção de recrutamento levasse pelo menos um mês a processar os meus papéis antes de me mandarem para fora, e eu poderia usar esse tempo para trabalhar nos espetáculos.
- Prefiro a secção de recrutamento, senhor. Ele tomou nota.
- Muito bem. Entrarão em contacto consigo.
Não tinha qualquer dúvida. A questão era: quando? Quanto tempo teria para trabalhar com Ben, Guy e Dorothy, para pôr os espetáculos a andar? Sabia que num mês podíamos fazer muito, se trabalhássemos sete dias por semana. Se ao menos o Exército me desse um mês...
Quando regressei ao hotel, liguei imediatamente a Ben.
- Hoje à noite vamos trabalhar até muito tarde.
- O que foi que aconteceu?
- Quando chegares, eu conto-te.
Acabamos por trabalhar até às três da manhã, hora a que Ben cambaleou finalmente para fora do meu quarto de hotel e regressou a Fort Dix.
Ficara tão consternado com as notícias como eu. Tentei acalmá-lo.
- Não te preocupes. O recrutamento trabalha devagar. Durante os três dias seguintes, trabalhei febrilmente, indo de teatro em teatro, trabalhando contra o momento em que ia receber o telefonema para me apresentar.