Stewart Chaney conseguira mandar pôr um enorme laço de seda rosa do lado de fora do pano de cena.
A abertura terminou e o pano começou a subir. Sentíamos a antecipação na assistência. A cortina ia a meio quando o lindíssimo laço rosa ficou preso numa trave, rasgou-se ruidosamente e caiu, desabando no poço da orquestra. A audiência arquejou. O que nenhum de nós naquele momento sabia era que isto era o melhor de tudo o que ia acontecer nessa noite.
Dream with Music era composto por dois atos e treze cenas e a primeira cena abria com uma dúzia de maravilhosas jovens afro-americano, nuas da cintura para cima, caminhando alegremente pela enorme roda, mas, momentos depois da cena começar, a roda começou a girar a toda a velocidade e as jovens caíam no palco uma a uma. Os espectadores olhavam, sem poder acreditar.
E foi só o começo. As coisas ainda iam piorar.
Vera Zorina, uma das mais aplaudidas bailarinas do mundo, que dançara na perfeição durante o ensaio, iniciou o seu bailado e, a meio de um jeté, escorregou e caiu, espalhando-se ao comprido no meio do palco. Os espectadores olhavam, horrorizados. Eu e Ben afundávamo-nos nos assentos. Mas as desgraças ainda não tinham acabado.
Duas cenas depois, Vera Zorina e Ronald Graham, com os seus lindos fatos de época, entraram e caminharam até ao meio do palco para executarem a cena de amor, sob a suave luz do luar, com o maravilhoso cenário de um bosque atrás deles. A cena decorria bem e os espectadores ouviam atentamente o que diziam.
De repente, todas as luzes no teatro se apagaram. A audiência e os atores ficaram mergulhados na total escuridão. Zorina e Graham permaneceram no meio do palco, sem saberem bem o que deviam fazer. Tentaram prosseguir com o diálogo e depois pararam, confusos, interrogando-se se deviam ou não continuar ou se deviam aguardar que as luzes voltassem.
Nesse momento, de uma das coxias, surgiu o diretor de palco, de mangas da camisa arregaçadas, com uma lanterna na mão. Correu para o meio do palco e colocou a lanterna por cima das cabeças dos dois amantes. Era tão incongruente ver o contraste entre os maravilhosos fatos dos atores e o homem em mangas de camisa, que os espectadores começaram a rir baixinho. Os atores continuaram corajosamente a cena de amor. De repente, todas as luzes no teatro se acenderam, brilhantes.
Aquela noite foi provavelmente a estréia mais desastrosa de toda a história da Broadway. Não houve comemoração no Sardi’s. Natalie, Marty, eu e Ben fomos a um restaurante calmo, estoicamente a aguardar as críticas.
Algumas delas tentaram ser simpáticas.
”Que fusível consciencioso não se fundiria sob o peso da responsabilidade de iluminar Dream with Music...”
”Enérgico e ambicioso. Uma extravagância...”.
”A temporada não tem nenhuma comédia musical tão agradável ao olhar como Dream with Music...”.
Mas a maior parte das críticas foi hostil.
”Ela viveu, mas o espetáculo morreu...”
”Suficiente para fazer o mais sensato chorar...”
”Bonito, mas terrivelmente aborrecido...”
”Um longo, maravilhoso e caríssimo aborrecimento...”
Natalie leu as críticas e comentou:
- São mistas.
O espetáculo saiu de cena ao fim de quatro semanas. Mas, durante a sua curta vida, Ben e eu tivemos três espetáculos em cena ao mesmo tempo na Broadway.
Pouco depois da saída de cena de Dream with Music, recebi um telefonema muito estranho. Um homem com um forte sotaque húngaro disse:
- Fala Ladislaus Bush-Fekete. George Haley sugeriu que entrasse em contacto consigo.
George Haley era um escritor de Hollywood que eu conhecia.
- Senhor Bush-Fekete, em que lhe posso ser útil?
- Gostava de falar consigo. Será que podemos almoçar?
- Com certeza.
Assim que desliguei, liguei imediatamente para George Haley.
- O que é um Ladislaus Bush-Fekete? Perguntei. Riu.
- É um dramaturgo húngaro, famoso na Europa. Teve muitos sucessos por lá.
- E o que é que ele quer de mim?
- Tem uma idéia para um espetáculo. Veio ter comigo, mas estou cheio de trabalho e lembrei-me de ti. Precisa de alguém que fale inglês muito bem. De qualquer das maneiras, não perdes nada em falar com ele.
Almoçamos no meu hotel. Ladislaus Bush-Fekete era um homem afável, com cerca de um metro e sessenta de altura e que devia pesar pelo menos uns cento e vinte quilos. Com ele vinha uma morena com ar simpático e aspecto de matrona.
Marika, a minha mulher.
Apertamos as mãos. Quando nos sentamos, Bush-Fekete disse:
- Somos dramaturgos. Fizemos muitos trabalhos na Europa.
- Eu sei... Falei com George Haley.
- Eu e Marika temos uma idéia fantástica para uma peça e ficaríamos muito felizes se a escrevesse conosco.
- Qual é a idéia? Perguntei, cauteloso.
- É sobre um soldado que volta da guerra para a sua pequena terra natal e para um amor. O problema é que o soldado apaixonou-se por outra pessoa enquanto estava na frente de batalha.
Não me parecia nada de excitante.
- Lamento, mas não me parece que... - comecei a dizer.
-A peculiaridade é que o soldado que volta para a pequena cidade é uma mulher.
- Ah!
Quanto mais pensava, mais me agradava.
- Ela vai ter de escolher entre o noivo e o soldado que conheceu.
- Está interessado?Perguntou Marika.
- Estou interessado. Mas quero que saiba que tenho um parceiro com quem trabalho.
Ladislaus Bush-Fekete respondeu:
- Tudo bem, mas a parte dele tem de sair da sua. Concordei.
- Com certeza.
Nessa noite telefonei a Ben e contei-lhe o que se passara.
- Lamento muito, mas parece-me que vais ter de trabalhar sem mim. O meu comandante está aborrecido porque passo muito tempo fora do meu posto. De agora em diante, estou aqui preso - respondeu.
- Que chatice! Vou sentir a tua falta!
- Eu também, companheiro. Boa sorte.
Eu, Laci, como ele me pediu que lhe chamasse, e Marika começamos a trabalhar. O sotaque dela não era muito mau, mas Laci era difícil de compreender. Demos à peça o nome de Star in the Window.
Terminamos a peça em quatro meses e o meu agente mostrou-a a uma produtora, a Choate &Elkins, que ficou entusiasmada com a possibilidade de produzi-la. O diretor chamava-se Joseph Calleia. Demos início aos testes. Peggy Conklin, uma excelente atriz da Broadway, ficou com o papel principal. Testamos uma série de homens, mas estávamos com problemas em encontrar um para o papel do ator principal. Um dia, um agente mandou-nos um jovem ator.
- Importa-se de ler? Pedi-lhe.
- Claro que não.
Dei-lhe cinco páginas do argumento. Ele e Peggy Conklin começaram a ler a cena. Estavam a ler há uns dois minutos quando eu disse ao ator: