- Muito obrigado.
O queixo dele subiu e ele respondeu, zangado:
- Como queira.
Atirou-me com as páginas e começou a sair do palco.
- Espere! O papel é seu. Chamei. Ele parou, confuso.
- O que disse?
- Isso mesmo.
Ele captara imediatamente a essência da personagem e eu sabia que ia ser perfeito para o papel.
- Como é que se chama? Perguntei.
- Kirk Douglas.
Os ensaios decorriam bem e a Peggy Conklin e o Kirk Douglas revelaram-se a combinação perfeita. Quando os ensaios terminaram, levamos a peça para fora da cidade. Washington DC foi a nossa primeira paragem e as críticas justificaram plenamente o nosso entusiasmo.
”Star in the Window brilha no firmamento.”
”Peggy Conklin faz de tenente com muito espírito e vivacidade.”
”Kirk Douglas é encantador no papel de sargento Steve, sempre seguro de si e nunca perdendo um compasso no seu desempenho.”
”A audiência de ontem à noite considerou que Star in the Window é divertida e alegre e concedeu-lhe uma entusiástica salva de palmas que não permitia que a cortina descesse de vez.”
Fiquei encantado. Depois do colapso de Dream with Music seria maravilhoso ter outro êxito na Broadway. Antes da estréia em Nova Iorque, os produtores decidiram mudar o nome para Alice in Arms.
A peça estreou na Broadway a 31 de Janeiro de 1945. Tudo correu sem sobressaltos. Quando a cortina desceu na noite de estréia, fomos todos ao Sardi’s para comemorar as críticas. O New York Times foi o primeiro que vimos:
”Uma praga na casa. O diálogo é tão denso que não se consegue penetrar”.
Daily News: ”Um erro”.
Herald Tribune. ”Um desastre.”
PM: ”Inócuo, mas frouxo.”
E estas eram as críticas mais positivas.
Fechei-me no meu quarto do hotel nos três dias seguintes, recusando-me a atender ao telefone. Lia e revia sistematicamente as críticas, uma vez e outra. ”O diálogo é tão denso que não se consegue penetrar... um desastre... frouxo...”.
Os críticos tinham razão. Eu não era suficientemente bom para a Broadway. O meu sucesso devera-se a pura sorte.
Acontecesse o que acontecesse, eu sabia que não podia passar o resto dos meus dias enfiado dentro de um quarto de hotel a sentir pena de mim próprio. Decidi voltar para Hollywood. Ia conceber uma idéia original, tentar vendê-la e depois escrever o argumento. O problema é que estava sem idéias para histórias. No passado surgiam-me com facilidade, mas agora a minha mente estava demasiado preocupada para me conseguir concentrar. Nunca tentara forçar uma idéia antes, mas estava desesperado e a precisar de um novo projeto.
Na manhã seguinte bem cedo, coloquei uma cadeira de espaldar alto e direito no meio do quarto e sentei-me com um grosso bloco de papel e uma caneta na mão, decidido a não me levantar dali até ter alguma coisa de que gostasse. Fui pondo de lado idéia atrás de idéia até que, duas horas mais tarde, tive uma que me pareceu passível de ser trabalhada.
Escrevi as linhas gerais e chamei-lhe Suddenly it Spring. Estava pronto para Hollywood.
A caminho de Los Angeles, parei em Chicago para visitar Natalie e Marty.
Ela recebeu-me à porta com um enorme abraço e um beijo.
- O meu escritor.
Eu não comentara nada sobre as críticas de Alice in Arms, mas, de alguma forma, ela tinha conhecimento delas. Ela pôs o dedo no preciso problema da peça.
- Eles nunca lhe deviam ter mudado o nome.
Passei os dias seguintes em Chicago a visitar as minhas tias Fran, Emma e Pauline, que tinha vindo de Denver. Era maravilhoso estar outra vez com elas e ver o orgulho que sentiam em mim. Até parecia que Dream with Music e Alice in Arms eram os maiores êxitos que a Broadway alguma vez vira.
Por fim, chegou o momento de dizer adeus e dei por mim num avião a caminho de Hollywood.
Parecia que estivera fora durante uma eternidade, mas só se tinham passado dois anos. Mas tanto acontecera durante esse tempo. Aprendera a voar e fora licenciado do Air Corps. Escrevera dois êxitos e tivera dois fracassos na Broadway.
Com a guerra ainda a decorrer, o espaço habitacional era pouco, mas tive sorte. Uma das atrizes de jackpot tinha um pequeno apartamento em Beverly Hills e concordara em mo alugar. O apartamento era em Palm Drive e, quando lá cheguei, a porta foi-me aberta por um jovem enérgico. Olhou para a chave que eu tinha na mão.
-Olá.
- Olá.
- Posso ajudar?
- Quem é você?
- Chamo-me Bill Orr.
- Eu sou Sidney Sheldon. O rosto dele iluminou-se.
- Ah! Helen disse-me que vinha aí.
Ele abriu a porta e eu entrei. Era um apartamento pequeno e amoroso, mobiliado com muito gosto, com um quarto, uma sala de estar pequena, um escritório e uma kitchenette.
- Lamento causar-lhe problemas, mas...
-Não se preocupe. Eu estava a preparar-me para ir embora. Percebi por que assim que li o Los Angeles Times da manhã seguinte.
Bill Orr estava prestes a casar com a filha de Jack Warner e viria a ser mais tarde o presidente da Warner Television.
A minha paragem seguinte foi na pensão da rua Carmen para visitar Gracie. Nada mudara a não serem as caras. Os quartos estavam cheios de novos atores em perspectiva, as estrelas de amanhã, os futuros realizadores e operadores de câmara, todos eles a aguardarem pelo ”telefonema”.
Gracie não mudara em nada. Continuava atarefada, a tratar e a cuidar dos seus hóspedes, a aconselhar e a encorajar todos os que desistiam e se iam embora.
Recebi um enorme abraço e um ”Ouvi dizer que agora és famoso!” Eu não tinha a certeza se era famoso ou infame.
- Esforço-me por isso.
Passamos umas boas horas a falar dos velhos tempos e por fim disse-lhe que tinha que me ir embora. Ia ter com o meu agente.
Fizera um contrato com a Agência William Morris, uma das maiores agências de Hollywood, que estava entregue a Sam Weisbord, um agente baixinho e dinâmico, com um eterno bronzeado que mais tarde fiquei a saber era reforçado de vez em quando com algum tempo passado no Havaí. Sammy começara como moço de recados na William Morris e, com os anos e muito trabalho, conseguira chegar à presidente.
Apresentou-me a alguns dos outros agentes e a Johnny Hyde, o vice-presidente da agência.
- Tenho ouvido falar de si. Vamos fazer umas coisas interessantes juntos. Comentou.
Nesse momento, a secretária dele entrou.
- Esta é a Dona Holloway.
Era linda, alta e magra, com uns inteligentes olhos cinzentos e um sorriso caloroso. Estendeu-me a mão:
- Como está, senhor Sheldon? Estamos felizes por ter vindo trabalhar conosco.
Ia gostar desta agência.
- Escrevi um original que trouxe comigo. Disse a Sammy e a Johnny Hyde.