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- Ótimo - Respondeu Sammy - Que acha de começar já a trabalhar?

- Acho uma excelente idéia.

- Um dos nossos clientes, Eddie Cantor, tem um filme acordado com a RKO. O problema é que ele não consegue apresentar um argumento que receba a aprovação do estúdio. O contrato termina daqui a três meses e, se até lá não conseguir apresentar nada, o contrato termina. Ele gostava muito que criasse qualquer coisa. Mil dólares por semana.

E só chegara a Hollywood há um dia.

- Excelente.

- Ele quer vê-lo hoje à tarde.

Não fazia idéia do que me aguardava.CAPÍTULO 16

Eddie Cantor participara em meia dúzia de filmes e era sem sombra de dúvida um dos atores mais populares no país. Entrara na Broadway numa peça de Florenz Siegfeld e em Whoopee, e Roman Saudais fizera dele uma estrela do cinema. Tinha o seu próprio programa de rádio, um enorme sucesso.

Encontrei-o na sua grande e vasta casa de Roxbury, em Beverly Hills. Era um homem baixo e dinâmico que estava sempre em movimento. Enquanto falava, andava de um lado para o outro. Quando ouvia, andava de um lado para o outro. Achei mesmo que, quando se sentava para almoçar, continuava a andar mentalmente de um lado para o outro.

- Sidney, não sei se lhe explicaram, mas o que se passa é o seguinte. A RKO recusou três guiões que os meus rapazes prepararam.

”Os seus rapazes” eram os seus escritores da rádio.

- Estou a ficar sem tempo. Preciso de um argumento que o estúdio aceite nos próximos três meses, senão fico sem contrato. Acha que consegue apresentar uma história de sucesso?

- Gostava de tentar.

- Ótimo. Vai ter de trabalhar à pressão para conseguir ter o argumento pronto a tempo. Mas, assim que acabar o primeiro rascunho e o estúdio o aprovar, então terá todo o tempo do mundo para polir os diálogos, para focá-los, para fazer seja lá o que for que queira fazer. Será todo seu.

- Parece-me bem. Respondi.

- Entretanto, estamos com prazo marcado. Vamos ter de trabalhar oito dias por semana.

Pensei na pressão que tivera com os espetáculos da Broadway.

- Estou habituado.

O telefone tocou e ele atendeu.

- Fala Eddie Cantor.

E, até hoje, jamais voltei a ouvir um homem a dizer o seu nome com tanto orgulho.

Começamos a trabalhar. Debatemos uma base de trabalho a partir de uma idéia que eu tinha, que contaria com Eddie e Joan Davis como estrelas. Ele gostou e comecei a escrever. Normalmente, escrevia em casa dele, começando de manhã bem cedo e me vindo embora por volta das sete da tarde, incluindo sábados e domingos.

As noites pertenciam-me e eu podia relaxar. Conheci uma jovem muito atraente que parecia gostar de mim e começamos a jantar juntos. O problema é que ela só se podia encontrar comigo de duas em duas noites.

Eu estava cheio de curiosidade.

- O que fazes tu nas noites em que não saímos? Perguntei.

- Sidney, é que eu saio com outra pessoa. Gosto muito de ambos e tenho de tomar uma decisão.

- Quem seria o outro?

- Chama-se José Iturbi. E quer casar comigo.

José Iturbi era um famoso pianista e maestro que dava concertos por todo o mundo e que fora o artista convidado de vários musicais na Broadway, da MGM, da Paramount e da Fox. Não havia forma de eu poder competir com um homem tão famoso como Iturbi.

- O José disse que tu és uma Coca-Cola. Comentou ela, virando-se para mim.

Pestanejei.

- Eu sou o quê?

- Uma Coca-Cola. Disse que há milhões como tu e só um como ele.

Nunca mais voltei a vê-la.

Três dias antes do contrato de Eddie Cantor com a RKO expirar, entreguei o meu argumento. Sammy Weisbord enviou-o para a RKO e, no dia seguinte, foi aprovado. Agora finalmente podia demorar o tempo que quisesse para polir os diálogos e condensar o texto. Havia várias coisas que eu queria fazer e que não pudera devido à corrida contra o tempo.

Sammy Weisbord chamou-me:

- Sidney, lamento ter que to dizer, mas foste tirado do filme. Não tinha a certeza se percebera bem.

- O quê?

O Cantor vai trazer os seus escritores da rádio para acabar o texto.

Pensei em todos os longos dias e longos fins de semana que trabalhara. ”Vai ter de trabalhar à pressão para conseguir ter o argumento pronto a tempo. Mas, assim que acabar o primeiro rascunho e o estúdio o aprovar, então terá todo o tempo do mundo para polir os diálogos, para focá-los, para fazer seja lá o que for que queira fazer. Será todo seu.”

Bem-vindo a Hollywood.

No dia 2 de Setembro de 1942, os japoneses renderam-se formalmente. Richard estava a caminho de regresso a casa. Estava ansioso por voltar a vê-lo.

Finalmente, na véspera de Natal, o barco dele atracou em São Francisco. Na sua primeira noite em Los Angeles jantamos juntos. Parecia mais magro e fisicamente em forma. Eu estava ansioso por ouvir tudo o que se passara com ele. Sabia onde é que andara. Na Nova Guiné, Morotai, Leyte, Luzon...

- Então, como foi?

O meu irmão olhou para mim durante um bom bocado.

- Por favor, nunca mais falemos nisso.

- Tudo bem. Tens idéia do que vais fazer a seguir?

- O Marty Leeb ofereceu-me um emprego. Eu vou aceitar. Assim posso passar mais tempo com a mãe.

Fiquei encantado. Sabia que ele e Marty se iam dar muito bem.

Sam Weisbord ligou no dia seguinte.

- Tens duas ofertas para Suddenly it’s Spring.

- Ótimo. E de quem são? Perguntei, excitado.

- Uma é de Walter Wanger.

Ele produzira muitos filmes conceituados, incluindo Stagecoach, Foreign Correspondente The Long Voyage Home.

- E a outra?

- De David Selznick.

O meu coração parou. David Selznick?

- Ele gostou muito do teu texto. O Dore Schary vai co-produzir. Wanger oferece quarenta mil dólares. O Selznick oferece trinta e cinco mil e cada uma das ofertas tem como condição que sejas tu a escrever o argumento.

Eu não estava preocupado com o dinheiro. A idéia de trabalhar com Selznick era excitante. Além disso, não fora ele que me iniciara no trabalho? Seria bom poder estar de novo com o meu companheiro leitor.

- Aceita a oferta do Selznick.

Na manhã seguinte, conheci David Selznick e Dore Schary. Selznick era um homem alto, imponente, sentado atrás de uma enorme secretária, num escritório lindo e muito bem decorado. Dore Schary era moreno, magro e visivelmente inteligente. Apertamos as mãos.

- Sheldon, sente-se. Tenho muito gosto em conhecê-lo. Disse Selznick.

”Pensei que ia poder ver o senhor Selznick!

Não. O senhor Selznick é um homem muito ocupado”.

- Gostei da sua história. É excelente. Espero que o seu argumento se revele tão bom quanto a história inicial e a base.

- Tenho a certeza que sim. Disse Dore. Selznick observou-me durante uns segundos.