Um dia, David Selznick chamou-me ao seu escritório.
- Quero que me faças uma coisa.
- Com certeza, David.
- Estamos na semana da National Brotherhood. Todos os anos, um estúdio diferente faz um curto filme que junta todas as religiões.
Eu tinha conhecimento. Quando o pequeno filme acabava, as luzes nas salas de cinema acendiam-se e os arrumadores subiam e desciam as coxias a recolher dinheiro para as obras de caridade.
-Este ano, somos nós que vamos fazer. Quero que escrevas o argumento.
- Muito bem.
- Temos uma meia dúzia de estrelas dispostas a colaborar. Vais escrever cerca de dois minutos para cada uma.
- Vou tratar disso.
No dia seguinte, levei um argumento com cerca de duas páginas que escrevera para Van Johnson, o primeiro a ser filmado. Selznick leu-o.
- Muito bem. Leva-lho. Ele está num bangalô nas traseiras.
Levei as duas páginas a Van Johnson. Assim que me viu, ele abriu a porta e eu apresentei-me. Na época, ele era uma das maiores estrelas da MGM.
- Estas são as suas páginas. Estamos prontos para começar a filmar assim que estiver. Disse eu.
- Muito obrigado. E acrescentou com ar lúgubre: A noite passada tive um sonho péssimo.
- Então?
- Sonhei que uma grande estrela da Metro-Goldwyn-Mayer estava a estudar o seu texto e que eles estavam sempre a mudá-lo e ela entrava em pânico.
Ri-me.
- Não se preocupe. Esse é o seu texto. Ele sorriu e deitou uma olhadela ao texto.
- Estarei pronto dentro de minutos. Voltei para o escritório de Selznick.
- Está tudo pronto. Informei.
- Tive uma idéia - disse ele - Quero que mudes o texto do Van Johnson.
- David, acabei de o deixar, e o homem está nervoso. Teve um pesadelo qualquer sobre mudarem-lhe o texto.
- Ele que se lixe. Isto é o que quero. E deu-me uma nova orientação para a cena.
Corri para o meu gabinete, escrevi tudo de novo e mostrei-o a Selznick.
- Muito bem. É isso mesmo respondeu.
Corri de volta ao bangalô do Van Johnson. Ele abriu a porta.
- Estou pronto.
- Van, há um pequeno problema. O senhor Selznick acha que isto é melhor. E dei-lhe as páginas novas. Ele empalideceu.
- Sidney, eu não estava a brincar com o meu sonho. Eu realmente...
- Van, são só duas páginas. Suspirou fundo.
- Está bem.
Voltei para o escritório de David Selznick.
- Tive outra idéia. Seria melhor se usássemos outro ângulo com o Van Johnson...
Fiquei horrorizado.
- David, ele já está em pânico. Não podemos passar o tempo a alterar-lhe o texto.
- Ele é ator, não é? Pois que aprenda o texto.
E disse-me o que queria. Relutante, voltei para o meu gabinete e escrevi toda a cena de novo.
O pior era encarar Van Johnson outra vez.
Dirigi-me ao bangalô. Ele ia a dizer qualquer coisa, mas viu a minha cara.
- Não me mudou...
- Van, são só duas páginas. Esta é a última alteração.
- Maldição. Que é que me está a fazer? Por fim, lá o consegui acalmar.
- Assim que estiver pronto, venha para o estúdio. Pedi.
Não voltei ao escritório de David Selznick. O resto da parte de Van Johnson correu sem incidentes.
No dia seguinte, Richard telefonou-me.
- Mano?
Era muito bom ouvir de novo a voz dele.
- Richard, então como vai?
- Não sei como fui até aqui, mas agora vou ter que ir por dois. Vou-me casar.
Fiquei encantado.
- Mas que notícias maravilhosas! E eu conheço-a?
- Conheces. É a Joan Stearns.
Richard e Joan tinham andado juntos na escola em Chicago.
- E quando é o casamento?
- Daqui a três semanas.
- Bolas! Vou ter de sair do país para filmar o projeto da semana da National Brotherhood.
- conhecê-la quando voltares. Vamos aí visitar-te.
Tal como prometido, Richard e a sua maravilhosa e suave mulher chegaram a Los Angeles um mês mais tarde. Passamos uma encantadora semana juntos até que finalmente chegou a hora de voltarem para Chicago.
Na manhã seguinte, quando cheguei ao meu gabinete, a minha secretária disse-me:
- O senhor Selznick quer falar consigo. Ele estava à minha espera.
- Sidney, tenho novidades para ti.
- O que é?
- Vou mudar o nome do filme. Não vai se chamar Suddenly it’s Spring.
Eu ouvia o que ele dizia.
- Então como se vai chamar?
- The Bachelor and the Boby-Soxer.
Fiquei a olhar por instantes para ele a pensar que estava a brincar. Mas não, estava a falar a sério.
- David, ninguém vai pagar um tostão para ver um filme chamado The Bachelor and the Boby-Soxer.
Felizmente, o futuro demonstrou que eu estava errado.
CAPÍTULO 17
The Bachelor and the Boby-Soxer estreou no Radio City Music Hall, uma sala com capacidade para seis mil espectadores, o maior cinema do mundo. Esteve em cena durante sete semanas e foi o filme que mais dinheiro ganhou em toda a história daquela sala de cinema. Em Inglaterra só foi batido por Gone with the Wind. As críticas deixaram-me encantado. “Por favor, não percam The Bachelor and the Boby-Soxer...” “Uma das melhores comédias a chegar a esta cidade há mais de um ano...”
“Uma extraordinária mistura de alegria, fantasia e sentimento...” “Uma comédia de primeira categoria. Vai rir à gargalhada...” “Sidney Sheldon criou um filme extremamente agradável...” O elenco foi elogiado, o realizador enaltecido. As críticas unânimes. O filme recebeu o Box Office Blue Ribbon Award e fui nomeado para um Oscar. Agora sabia que nada me impediria de avançar. As carreiras profissionais em Hollywood assemelhavam-se aos elevadores, subiam e desciam. O truque era não abandonar o elevador quando ele estava em baixo.
Decididamente, para mim, o elevador estava a subir. Eu estava no topo do mundo.
Escrevi um original sobre um casamento com problemas chamado Orchids for Virgínia. Eddie Dmytryk, editor na RKO, gostou dele.
- Vou pedir ao estúdio que o compre. Quero que escreva o argumento. Lhe pago trinta e cinco mil dólares.
- Excelente.
Fiquei mais do que satisfeito, porque precisava do dinheiro.
Uma semana mais tarde, Dore Schary foi nomeado produtor executivo responsável pela produção da RKO. Chamou-me ao seu gabinete e eu sabia que ele me queria dar os parabéns pelo Orchids for Virgínia. Tencionava perguntar-lhe quando é que podia começar a escrever o argumento para o filme.