Dore Schary, que dirigia os estúdios da RKO, declarou audaciosamente que preferia demitir-se a despedir um escritor acusado de ser comunista. Pouco depois destas suas declarações, quando a comissão indicou o nome de um escritor que trabalhava para a RKO, Schary despediu-o. Os membros da Associação de Argumentistas ficaram furiosos. Schary pediu que lhe dessem a oportunidade de explicar a sua posição. O auditório da associação encheu-se.
- Quero lembrar a todos que eu também sou escritor - começou a dizer - Foi assim que comecei. Imagino que muitos estavam à espera que eu me demita como diretor da RKO quando me obrigaram a despedir um dos meus escritores. A razão por que não o fiz foi porque senti que, mantendo-me na direção da RKO, posso fazer mais para vos proteger.
Foi aí que ele perdeu o controle da assembléia. O seu discurso interesseiro e egoísta deu origem a uma terrível pateada e a reunião terminou abruptamente.
Uma manhã no meio de tudo isto, Marvin Schenck, um executivo do estúdio que era parente de Nicholas Schenck, chamou-me ao seu gabinete. Ninguém sabia muito bem qual era, de fato, a sua função, mas corria o rumor de que recebia três mil dólares por semana para olhar pela janela e lançar o alarme se visse um glaciar a aproximar-se do estúdio.
Marvin andava pelos quarenta e muitos anos, era baixo e careca e tinha o carisma de um cangalheiro.
- Sente-se, Sidney. Sentei-me.
Ele olhou para mim e disse, acusadoramente:
- Ontem à noite, na reunião da Associação de Argumentistas, você votou no Albert Maltz?
Tivéramos uma reunião na noite anterior para eleger uma nova direção. Fora uma reunião à porta fechada, mas fiquei tão espantado com a pergunta que nem me ocorreu perguntar-lhe como é que sabia em quem eu votara.
- Sim, votei. Respondi.
- Porque é que votou em Maltz?
- Porque acabei de ler um livro dele, The Journey of Simon McKeever. É um livro que está muito bem escrito e nós precisamos de bons escritores na direção da associação.
- Quem foi que lhe disse para votar nele? Comecei a ficar zangado
- Ninguém me disse para votar nele. Já lhe expliquei porque foi que o fiz.
- Alguém lhe deve ter dito para votar nele. O meu tom de voz subiu.
- Marvin, acabei de lhe dizer que votei nele porque é um excelente escritor.
Estudou uma folha de papel que tinha na frente e em seguida levantou os olhos.
- Nos últimos dias você andou pelo estúdio a angariar fundos para as crianças dos Dez de Hollywood?
Foi então que me passei. O que ele dizia era verdade. Começara pela minha contribuição pessoal e em seguida partira pelo estúdio para angariar dinheiro para ajudar a sustentar as crianças cujos pais tinham sido presos.
Não costumo perder as estribeiras, mas, quando me acontece, é a sério.
- Sou culpado, Marvin. Não o devia ter feito. As crianças que morram à fome. Se os pais estão na cadeia, os filhos não merecem comer. Eles que morram todos! Gritei.
- Acalme-se! - pediu - Acalme-se! Quero que vá para casa e tente lembrar-se quem foi que lhe disse para votar no Albert Maltz. Amanhã de manhã volto a falar consigo.
Saí que nem uma fúria do gabinete. Sentia-me violado. A indignidade do que estava a acontecer era dilacerante.
Nessa noite não consegui dormir. Dava voltas e mais voltas na cama e por fim tomei uma decisão. Às nove da manhã, fui direto ao gabinete de Marvin Schenck.
- Demito-me. Pode rasgar o meu contrato. Não quero trabalhar mais neste estúdio.
Disse e dirigi-me para a porta.
- Espere lá. Não se precipite. Liguei hoje de manhã para Nova Iorque. Eles disseram que se assinar uma declaração em como não é comunista e que nunca fez parte do Partido Comunista tudo isto será esquecido. - E deu-me uma folha de papel - Assina?
Olhei para a folha e comecei a ficar mais calmo.
- Sim, assino. Porque não sou comunista e nunca fui. Respondi. Foi uma experiência humilhante, mas nada que se comparasse com o que muitos inocentes sofreram durante aquela época.
Nunca esquecerei as dúzias de amigos cheios de talento que nunca mais encontrariam trabalho em Hollywood.
Em Fevereiro de 1948, as nomeações para os prêmios da Academia foram anunciadas. Eu era um dos cinco nomeados, por ter escrito o argumento original de The Bachelor and The Bobby-Soxer. Comecei a receber os parabéns dos meus companheiros de trabalho, do meu agente e dos meus amigos, mas eu sabia uma coisa que eles desconheciam. Não tinha qualquer hipótese de ganhar o Oscar.
Os filmes contra os quais eu concorria eram extremamente populares. Incluíam Monsieur Verdoux, de Chaplin, ADoubkLife, Body and Soul e o forte filme estrangeiro Shoeshine. Ser um dos nomeados já era honra suficiente. Perguntava-me qual deles ganharia.
Recebi um telefonema de Dona Halloway a dar-me os parabéns pela minha nomeação. Várias vezes tínhamos ido juntos ao teatro ou a um concerto, e era uma companhia muito agradável.
Na manhã dos Óscares, Dona telefonou. Deixara recentemente a William Morris e passara para a Columbia como assistente pessoal de Harry Cohn, e eu achava que ele tinha muita sorte em tê-la a trabalhar com ele.
- Pronto para ir aos Óscares? Perguntou.
- Eu não vou. Ficou chocada.
- Que estás a dizer?
- Dona, eu não tenho a mínima hipótese de ganhar. Porque é que hei-de ir e ficar para ali sentado e embaraçado?
- Se todos pensassem assim, nunca estaria lá ninguém para receber um Oscar – Respondeu - Tu tens que ir. O que dizes?
Pensei um pouco. Porque não ser um desportista e ir e aplaudir quem ganhasse?
- Queres vir comigo?
- Podes apostar que sim. Quero ver-te em cima daquele palco. A vigésima edição anual dos prêmios da Academia teve lugar no Shrine Auditorium. Na época, a sessão não era transmitida pela televisão, mas era difundida por duzentas estações de rádio ABC e pela rede de difusão das Forças Armadas. O auditório estava à cunha. Eu e a Dona nos sentamos em nossos lugares.
- Estás nervoso? Perguntou.
A resposta era não. Esta não era a minha noite. Esta noite pertencia a um dos outros escritores que ia receber o Oscar. Eu era simplesmente um espectador. Não tinha qualquer razão para me sentir nervoso.
A cerimônia começou. Os vencedores começaram a subir ao palco para receberem os Óscares e eu recostei-me, relaxado, a gozar o espetáculo.
Por fim, chegaram ao prêmio para o melhor argumento original. George Murphy, um ator que tomara parte em muitos filmes musicais, anunciou:
- Os nomeados são... Abraham Polonsky, com Body and Soul... Ruth Gordon e Garson Kanin, A Double Life... Sidney Sheldon, The Bachelor and the Bobby-Soxer... Charles Chaplin, Monsieur Verdoux... e Sérgio Amidei, Adolfo Franci, Cesare Giulio Viola e Cesare Zavattini com Shoeshine.
George Murphy abriu o envelope.
- E o vencedor é... Sidney Sheldon, com The Bachelor and the Bobby-Soxer