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Um desconhecido com uma arma na mão empurrou-me para o lado e entrou na sala.

O meu coração começou a bater, desenfreado.

- Se isto é um assalto, leve tudo o que... Comecei a dizer.

- Filho da mãe! Eu vou matá-lo! Não era um assalto.

Em momentos como este, um escritor devia pensar: Que material espetacular! Mas a única coisa em que pensei foi: Vou morrer!

- Eu não o conheço!

- Pois não! Mas conhece a minha mulher. – Gritou - Tem andado a dormir com ela.

Eu sabia que ele se enganara. Nunca tinha casos com mulheres casadas.

- Ouça... - comecei a dizer - Não faço idéia do que é que está para aí a dizer. Eu não sei quem é a sua mulher!

- A Ingrid! E levantou a arma.

- Mas... Eu... - Não era um engano - Espere aí! Mas a Ingrid nunca me disse que era casada!

- A cabra casou comigo para conseguir um visto para entrar neste país.

- Calma. Eu não sei de nada disso. Ela não usa aliança e nunca me falou em nenhum marido, como é que eu podia saber? Sente-se e vamos conversar.

Ele hesitou uns segundos e deixou-se cair numa cadeira. Ambos suávamos profusamente.

- Eu não sou assim, mas eu amo-a e ela usou-me.

- Não o culpo por estar perturbado. Acho que ambos precisamos de um copo e, preparei duas bebidas bem fortes para os dois.

Cinco minutos mais tarde, contava-me a história da vida dele. Era escritor e conhecera Ingrid na Europa. Não conseguia arranjar trabalho em Hollywood.

- Precisa de trabalho? Deixe que eu trate disso. Falo com o Kenneth McKenna, da Metro.

O rosto dele iluminou-se.

- A sério? Ficava-lhe muito grato.

Cinco minutos depois, ele e a arma tinham sumido.

Apaguei as luzes, voltei para a cama ainda a arquejar e tinha finalmente acabado de adormecer quando ouvi de novo baterem à porta.

Ele está de volta, pensei. Mudou de idéias. Está decidido a matar-me.

Levantei-me, fui à porta e abri-a. Ingrid estava de pé do lado de fora. Levara uma enorme sova. Tinha o rosto pisado, dois olhos negros e sangrava do lábio. Puxei-a para dentro.

Ela mal conseguia falar.

- Tenho que te dizer...

- Não tens que me dizer nada. O teu marido esteve cá. Deita-te. Vou chamar um médico.

Consegui acordar o meu médico e, uma hora mais tarde, ele apareceu e cuidou de Ingrid. Ela tinha uma costela partida e nódoas negras por todo o corpo.

Quando o médico saiu, ela disse:

- Não sei o que fazer. Tenho um teste esta manhã na Universal.Abanei a cabeça.

- Já não tens. Não podes aparecer assim. Vou telefonar e cancelar o teste.

E foi o que fiz. Ingrid foi-se embora nessa noite e nunca mais a vi.

Em 1948, Cy Feuer e Ernie Martin, uma nova equipa produtora, apareceram no estúdio para falarem comigo.

- Estamos a fazer um espetáculo na Broadway que se chama Where’s Charley feé baseado no clássico Charley’s Aunt. Queremos que o escreva. Já aprovamos o seu nome junto do Brandon Thomas Estate. Frank Loesser vai escrever a música, Ray Bolger é o ator principal.

Frank Loesser escrevera várias músicas populares, mas nunca fizera nenhum espetáculo na Broadway. Eu conhecia o enredo de Charley’s Aunt e gostava dele. Achei que podia ser um grande êxito.

- Gostava de conhecer o Frank.

- Vamos tratar disso.

Frank Loesser era um dínamo. Tinha trinta e muitos anos, talento e ambição. Escrevera o êxito do tempo da guerra Prinse the Lord and Pass the Ammumtion e várias outras canções populares, incluindo The Moon of Mankoora, On a Slow Boat to China, The Boys in the Back Room e Kiss the Boys Goodbye.

- Tenho umas idéias excelentes. Podemos fazer disto um estrondoso êxito. Disse Frank.

- Também acho.

- Eu trabalho no libreto consigo.

- Frank, isso vai ser maravilhoso e eu trabalho nas músicas consigo. Fez um enorme sorriso.

- Deixe estar.

Fui falar com Dore Schary.

- Vou tirar os meus três meses de licença para fazer um espetáculo na Broadway informei-o.

- Que espetáculo?

- O Where’s Charley. É uma reposição de Charley’s Aunt. Dore abanou a cabeça.

- A Broadway é arriscada. Ri-me.

- Eu sei, Dore. Já por lá andei.

- Não acho que seja boa idéia.

- Bom, eu já me comprometi e...

- Faço um trato consigo. Que tal escrever o argumento de Annie Get Your Gun?

- O quê?

- Se não fizer esse espetáculo, eu destaco-o para escrever Annie.

Annie Get Your Gun era o maior êxito da Broadway. Estava em cena há três anos e tinha quatro companhias por fora.

Em 1945, Herbert e Dorothy Fields tinham abordado Richard Rodgers e Oscar Hammerstein e sugerido fazerem um espetáculo sobre Annie Oakley. Dorothy Fields escreveria as letras e Jerome Kern concordara em fazer a música.

Três dias depois de chegar à Nova Iorque, Kern sofreu um ataque cardíaco e poucos dias depois morreu. Rodgers e Hammerstein decidiram que Irving Berlin escreveria a música. O espetáculo tinha uma dúzia de sucessos, incluindo o tradicional There’s no Business Like Show Business. A MGM pagara seiscentos mil dólares pelos direitos de Annie Get Your Gun, o preço mais elevado pago até ali por um musical.

- O que me diz? Perguntou Dore.

Pensei no assunto. Eu tinha a certeza que Where’s Charley ia ser um sucesso, mas estava excitado com a possibilidade de voltar a trabalhar com Irving Berlin. Era impossível dizer que não à oferta de Dore.

- Aceito. Respondi.

Nessa tarde telefonei a Feuer, e a Martin, e a Frank Loesser e expliquei-lhes a minha decisão.

- Sei que vão ter um grande sucesso. Comentei. E tinha razão.

CAPÍTULO 20

Era muito excitante trabalhar outra vez com Irving Berlin. Ele não perdera nem um pouco da energia. Entrou pelo meu gabinete a dançar, sorriu e disse:

- Isto ainda vai ser melhor do que a peça. Vamos falar com o Arthur.

Arthur Freed estava no seu gabinete, sentado à secretária. Olhou para nós quando entramos.

- Isto vai ser um enorme sucesso. - Disse ele - O estúdio apóia a cem por cento.

- Arthur, já tem alguém em mente? Perguntei.

- Judy Garland fará o papel de Annie e um jovem e talentoso ator e cantor chamado Howard Keel, o de Frank. Louie Calhem será Buffalo Bill e George Sidney é o realizador.

Eu ia trabalhar de novo com a Judy. E ia poder estar com o Louie Calhem.