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Quando, em 1950, Annie Get Your Gun estreou, as críticas foram unânimes e excelentes. Os críticos de Nova Iorque chamaram-lhe ”O grande musical do ano”.

”Annie Get Your Gun volta a pôr o cinema na primeira linha.”

”O filme Annie é ainda melhor do que a peça.”

”Graças a Berlin e aos Fields, um estrondoso êxito.”

Betty Hutton recebeu o prêmio Photoplay para a atriz mais popular e eu recebi o prêmio do Writers Guild of America Screen pelo meu argumento.

Em 1950, a Variety publicou uma lista dos nomes dos filmes com as maiores receitas de bilheteiras de todos os tempos. Da lista constavam três filmes escritos por mim: The Bachelor and the Bobby-Soxer, Easter Parade e Annie Get your Gun.

Os meus períodos de depressão tinham parado e parti do princípio de que o psiquiatra se enganara quanto à minha psicose maníaco-depressiva. Eu estava bem. Continuei a sair com Dona Holloway e gostava muito da companhia dela.

Uma noite, ao jantar, ela perguntou-me:

- Gostavas de conhecer a Marilyn Monroe?

- Claro que gostava. Respondi.

- Muito bem, vou tratar disso. Respondeu.

Marilyn Monroe era um símbolo sexual, uma super-estrela. O seu passado complicado incluía uma mãe louca, o ter crescido em casas de acolhimento, um casamento falhado e uma longa batalha contra o álcool e os barbitúricos. Mas tinha uma coisa que ninguém lhe podia tirar: talento.

No dia seguinte, Dona telefonou-me.

- Na sexta-feira vais jantar com a Marilyn Monroe. Vai buscá-la ao apartamento dela. E deu-me a morada.

Aguardei por sexta-feira com grande expectativa. Marilyn fizera vários filmes de sucesso: Gentlemen Prefet Bkmdes, How to Marry a Millionaire e Monkey Business, com o Cary Grant.

A noite não correu como eu imaginara. À hora marcada, cheguei ao apartamento dela e uma mulher que lhe fazia companhia abriu-me a porta.

- A menina Monroe vem ter consigo dentro de poucos minutos. Está a acabar de se vestir.

Os poucos minutos transformaram-se em quarenta e cinco. Quando finalmente emergiu do quarto, estava espantosa. Pegou na minha mão e disse em voz suave:

- Tenho muito gosto em conhecê-lo, Sidney. Admiro muito o seu trabalho.

Jantamos num restaurante de Beverly Hills.

- Fale-me de si. Pedi.

E ela começou a falar. Para meu grande espanto, o tema da conversa girou à volta de Dostoievsky, Pushkin e vários outros escritores russos. O que dizia parecia-me tão incongruente vindo desta maravilhosa jovem mulher que era como se estivesse a jantar com duas pessoas totalmente diferentes. Percebi, no entanto que o seu conhecimento não era profundo. Só mais tarde é que soube que ela saía com Arthur Miller e Elia Kazan e que eles eram os seus mentores. Foi uma noite muito agradável, mas não lhe voltei a telefonar.

Pouco tempo depois do nosso jantar, ela casou com Arthur Miller.

Numa noite de Agosto de 1962, fui convidado para jantar em casa de Liy Engelberg, o meu médico. De repente, a meio do jantar, ele foi chamado ao telefone. Voltou à mesa e explicou:

- Tenho uma urgência. Já venho. Passaram-se duas horas até que finalmente voltou.

- Peço imensa desculpa, mas era uma doente minha... - Hesitou. - A Marilyn Monroe. Morreu.

Ela tinha trinta e seis anos.

Eu vira pela primeira vez Harry Cohn, o chefe de produção da Columbía Pictures, com Dona Holloway. Cohn tinha a reputação de ser o executivo mais duro de Hollywood. Uma vez ele gabara-se:

- Eu não tenho úlceras, faço-as aos outros.

Era voz corrente que só temia uma pessoa, Louis B. Mayer. Um dia, este ligou-lhe e disse:

- Harry, está tramado. Receoso, Cohn perguntou:

- Qual é o problema, L. B.?

- Você tem sob contrato um ator que eu quero.

Aliviado, Cohn respondeu:

- Leve-o, L. B., leve quem quiser.

Durante a Segunda Guerra Mundial, havia um ditado: “Todo o escritor da Columbia que se despeça para ir para o Exército é um cobarde.”

Quando Harry Cohn tinha uns vinte e poucos anos, o seu melhor amigo era Harry Ruby e trabalhavam juntos num elétrico em Nova Iorque. Harry Cohn como condutor e Harry Ruby como revisor. Eram inseparáveis.

Anos mais tarde, quando já estavam ambos em Hollywood, saíram juntos, cada um com uma mulher, e falaram dos velhos tempos. Harry Cohn dirigia agora um estúdio e Harry Ruby era um compositor de sucesso.

- Os elétricos desapareceram como os dinossauros. - Disse Harry Ruby - Quando nós trabalhávamos neles, era bem divertido.

Harry Ruby virou-se para as jovens e acenou na direção de Cohn.

Ele ganhava dezoito dólares por semana e eu ganhava vinte. Cohn ficou vermelho.

- Eu ganhava vinte, tu é que ganhavas dezoito.

Rosnou. Harry Ruby nunca mais viu Harry Cohn.

Eu vira Harry Cohn em vários jantares. A primeira vez que nos encontramos, ele dizia coisas aviltantes sobre os escritores, e como eram preguiçosos.

- Eu obrigo os meus escritores a entrarem todas as manhãs às nove, tal como as secretárias.

- Se pensa que com isso vai conseguir bons argumentos, devia estar noutra profissão. Respondi.

- O que raio sabe o senhor acerca disso?

E começamos a discutir. Quando voltei a vê-lo numa festa, ele veio logo ter comigo. Gostava de discussões. Convidou-me para almoçar.

- Sabe, Sheldon, antes de contratar um produtor eu pergunto-lhe sempre qual é o handicapdele no golfe.

- Porque é que isso lhe interessa?

- Porque se o handicap dele for baixo eu não o quero. Só quero produtores que estejam apenas interessados em produzir para mim. Noutra ocasião, disse-me: Sabe quando é que eu contrato um produtor caro? Quando acabou de ter um fracasso O preço dele desce.

Um dia, quando eu estava no escritório de Harry Cohn, a voz do diretor de estúdio ouviu-se no intercomunicador:

- Harry, tenho a Donna Reed ao telefone. O regimento do Tony vai ser mandado para o estrangeiro e ela quer ficar com ele em São Francisco até a partida.

Tony Owen, marido da Donna, era produtor.

- Ela não pode ir.

Respondeu, e virou-se de novo para mim. Um minuto mais tarde, o diretor de estúdio voltou a ligar.

- Harry, a Donna está muito perturbada. Podem passar-se anos até ela voltar a ver o marido e neste momento nós não precisamos dela.

- A resposta é não. Respondeu.

O diretor de estúdio ligou uma terceira vez.

- Harry, a Donna está lavada em lágrimas. Diz que vai de qualquer forma.

Harry Cohn abriu um sorriso.

-Muito bem. Fica suspensa.

Fiquei a olhar para ele, sem palavras, e interroguei-me com que tipo de monstro é que eu estava a lidar.

Li um livro brilhante de George Orwell chamado 1984, o qual previa o futuro das ditaduras russas com trinta e cinco anos de antecedência. Era um cenário horrendo. Achei que podia ser uma peça maravilhosa para a Broadway. Escrevi a Orwell pedindo-lhe os direitos para o palco e ele nos cedeu.