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Eu lera as críticas. Era um sucesso da Broadway e fora escrito pela talentosa equipa de Howard Lindsay e Russel Crouse. Contava a história de uma cantora de uma banda de Nova Iorque que vai viver para a casa onde um seu tio rico fora assassinado. Assim que a jovem começa a suspeitar quem é o assassino, este decide matá-la.

- Vou destacar-te para esta peça. Disse ele. Assenti.

- Muito bem, Kenneth.

Ele não era, de forma nenhuma, um Ken.

- Vai à Nova Iorque ver o espetáculo e conhecer o produtor, Leland Hayward.

Leland Hayward! Fiquei com a cabeça a andar a roda. Ainda me lembrava da lista de clientes da Leland Hayward Agency, quando lá estava. Ben Hecht, Charles MacArthur, Nunnally Johnson.

Hayward produziria mais filmes de prestígio, The Old Man and The Sea, The Spirit of St. Louis e Mister Roberts.

No dia seguinte ao da minha chegada, almocei com Leland Hayward no hotel Plaza. Ele tinha a reputação de ser alguém que vivia bem e apreciava a vida. Fora casado com Pamela Churchill, Margaret Sullavan e Nancy Hawks, todas umas verdadeiras belezas. Era um homem carismático, com cabelo grisalho cuidadosamente tratado, e apresentava-se sempre elegantemente vestido.

Leland, que já estava sentado à mesa quando eu cheguei, levantou-se para me cumprimentar e disse:

- Tenho muito prazer em conhecê-lo.

Não achei que valesse a pena lembrar-lhe que doze anos antes fora um cliente de dezessete dólares por semana da agência dele. Começamos a almoçar e ele demonstrou-se um grande conversador, interessante e espirituoso.

- Falamos da peça.

- Já a li. Acho que é maravilhosa.

- Ótimo. Fico satisfeito que seja você a fazer o argumento.

Ele tratara de tudo de forma a que eu pudesse ver a peça nessa noite. O elenco era excelente, liderado por Jackie Cooper, Harry Shaw Lowe, Madeleine Morka e Janis Paige. Faziam parte do elenco dois atores relativamente desconhecidos que anos mais tarde acabaram por ter carreiras de sucesso Frank Campanella e Ossie Davis. A noite foi tão agradável quanto eu antecipara.

Voltei para Hollywood para escrever o argumento. Três meses depois, estava pronto. Entreguei-o ao produtor Arthur Hornblow.

- É muito bom. Vamos já pô-lo em produção. Disse ele.

- E tem algum elenco em mente?

- O estúdio vai assinar com June Allyson e Van Johnson.

- Excelente.

Dias mais tarde, Dore chamou-me ao escritório dele.

- O papel de Benjamin Goodman seria perfeito para Louis Calhem.

- Concordo. É um excelente ator. Respondi.

- Mas há um problema.

- Qual é?

- Ele recusou. Diz que o papel é muito pequeno. Pois, tem razão, pensei.

Dore continuou:

- Vocês os dois são amigos, não são?

- Sim, somos.

- Gostaria que o tentasse convencer a fazer este papel. Seria uma mais valia para o filme.

Assim que ouvi estas palavras, percebi que Dore estava cheio de razão.

Na noite seguinte, convidei Calhem para jantar num restaurante. Ele olhou em redor da sala e comentou:

- Só espero que ninguém nos veja juntos, isso ia estragar a minha reputação. Eu devia usar uma máscara.

- Ouvi dizer que recusaste o papel de Benjamin Goodman.

- Chamas àquilo um papel?- Desdenhou - A propósito, gostei do teu argumento.

Dei início ao meu ataque.

- Louie, aquele vai ser um grande filme e gostava que entrasses nele. A tua personagem é essencial para o desenrolar da história. O teu desempenho seria fundamental para o filme. E vai ajudar a catapultar a tua carreira para o topo. Seria muito bom para ti...

E assim continuei durante meia hora no meu papel de Otto e, quando acabei, ele respondeu:

- Tens razão. Vou aceitar.

As críticas e os resultados de bilheteira não foram nada de especial e o filme não catapultou a carreira de Calhem para o topo.

Uma vez por ano, os distribuidores internacionais e os donos das salas de exibição dos filmes da MGM eram convidados a ir a Culver City para conhecerem os futuros projetos. Era um período excitante para o estúdio. Os representantes de mais de uma dúzia de países de todo o mundo eram conduzidos a um enorme estúdio para ficarem a conhecer os filmes que iam sair. Dore dirigiu-se à assembléia:

- Este vai ser um dos melhores anos que alguma vez tivemos. Prometeu.

Depois de um curto discurso, começou a ler a lista dos filmes que iam estrear, dizendo os nomes dos atores principais, dos realizadores e dos argumentistas de cada um deles. Contaram-me mais tarde que, depois de ele ter falado de alguns filmes, chegou a um dos meus.

- Rich, Young and Pretty, escrito por Sidney Sheldon.

E, foi dizendo o nome de mais alguns filmes. Logo a seguir:

- Nancy Góes to Rio, escrito por Sidney Sheldon.

- No Questions Asked, escrito por Sidney Sheldon. Os assistentes começaram a rir.

Schary ergueu o olhar e comentou:

- Pelos vistos, Sidney Sheldon escreveu a maior parte dos filmes deste ano!

Nessa tarde, Dore chamou-me ao seu escritório.

- Gostaria de vir a ser produtor? Perguntou.

- Nunca me ocorreu semelhante idéia! Respondi, espantado.

- Bom, pense nisso porque a partir de hoje é produtor.

- Dore! Nem sei o que dizer!

- Você merece. Boa sorte.

- Obrigado.

Voltei para o meu gabinete e pensei: Tenho trinta e quatro anos, um Oscar e sou produtor no maior estúdio cinematográfico do mundo.

Era um daqueles momentos em que me devia sentir em êxtase, mas, em vez disso, sentia-me tomado por um sentimento de temor. Eu não sabia absolutamente nada sobre produção. Dore cometera um erro. Eu nunca seria capaz. Ia telefonar-lhe e dizer-lhe que não podia aceitar. O mais provável era ele despedir-me, e não tardava nada andaria a procura de emprego.

Nessa noite, tentei conciliar o sono, mas não consegui. À meia-noite, levantei-me e fui dar uma volta, a pensar em tudo o que me estava a acontecer. Lembrei-me da noite em que Otto me pedira que fosse dar uma volta com ele. Sidney, cada dia é uma página diferente que pode estar cheia de surpresas. Nunca saberás o que vem a seguir enquanto não virares a página. Mas eu detestaria que fechasses o livro tão cedo e perdesses a excitação que pode aparecer ao virar de uma página.

Na manhã seguinte, quando acordei, decidi que pelo menos ia experimentar fazer um filme. Se falhasse, podia sempre voltar a ser escritor.

Nessa manhã, quando entrei no estúdio, constatei que me tinham mudado para um gabinete bem maior. Também fiquei a saber que ser produtor na MGM era muito simples. O departamento de histórias, que tinha acesso a todos os editores, mandava aos produtores sinopses dos livros que iam sair, bem como das peças e das histórias originais que eram submetidas ao estúdio. Aquilo que o produtor tinha que fazer era escolher aquela que queria.

Os produtores recebiam uma lista de todos os escritores que estavam disponíveis para trabalharem nos seus projetos. Assim que os guiões estavam prontos, o departamento de audições começava a funcionar. Davam aos produtores uma lista de atores e realizadores.