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Foi o fim das minhas aspirações futebolísticas.

Os professores em Northwestern eram maravilhosos e as aulas eram excitantes. Eu estava sedento de aprender tudo o que podia. Na semana depois de ter iniciado as aulas, passei por um letreiro no corredor que dizia ”Audições hoje à noite. Equipa de Debate da Northwestern”. Estaquei e fiquei a olhar. Sabia que era uma loucura, mas, no entanto sentia-me impelido a experimentar.

Há uma máxima que diz que a morte é o segundo maior medo que as pessoas têm e que falar em público é o primeiro. Era, sem dúvida, o meu caso. Para mim, não há nada mais aterrorizador do que falar em público. Mas eu estava obcecado. Tinha de fazer de tudo. Tinha de continuar a virar páginas.

Quando entrei na sala destinada aos testes, esta estava cheia de rapazes e raparigas que aguardavam a sua vez. Encontrei uma cadeira e sentei-me a ouvir. Todos os oradores me soavam espantosos. Eram articulados e falavam fluentemente, com uma enorme confiança.

Por fim, chegou a minha vez. Ergui-me e dirigi-me para junto do microfone.

O responsável perguntou:

- Como te chamas?

- Sidney Schechtel.

- E qual vai ser o tema? Eu antecipara isto.

- O capitalismo versus comunismo. Ele anuiu.

- Então avança.

Comecei a falar e pareceu-me que estava a ir muito bem. Quando cheguei a meio do meu tema, parei. Estava estático. Fez-se uma longa e nervosa pausa. Murmurei qualquer coisa para pôr fim ao meu discurso e escapuli-me dali para fora, praguejando para mim mesmo. Um aluno que estava à porta perguntou:

- Tu não és um calouro?

- Sou.

- E ninguém te disse nada?

- Sobre o quê?

- É que não são permitidos calouros nos debates. Tens de estar em anos mais avançado.

Ora, boa, pensei para comigo. Agora já tenho uma boa justificação para o meu fracasso!

No dia seguinte de manhã, os nomes dos vencedores foram afixados no quadro das informações. Por pura curiosidade, deitei uma olhadela. Um dos nomes era ”Shekter”. Alguém com um nome parecido com o meu fora escolhido. Na zona inferior do quadro estava um aviso para que todos os selecionados se dirigissem às três e meia da tarde para junto do orientador de debates.

Ás quatro recebi um telefonema.

- Shekter, o que é que te aconteceu?

Não fazia idéia de que é que ele estava a falar.

- O quê? Nada.

- Não viste o aviso para vir ter com o orientador de debates? Shekter. Eles tinham percebido mal o meu nome.

- Sim, mas pensei... É que eu sou calouro.

- Eu sei. Mas decidimos abrir uma exceção para o teu caso. Mudamos as regras.

E assim tornei-me o primeiro calouro alguma vez aceite na Equipa de Debate da Northwestern. Outra página que fora virada.

Embora me forçasse a estar ocupado, havia ainda qualquer coisa que me faltava. De certa forma, sentia-me como se não estivesse realizado. Tinha uma profunda sensação de vazio, ansiedade e isolamento. No campus da universidade, ao observar as hordas de estudantes que se apressavam a entrar e a sair das aulas, pensava para mim: ”São todos anônimos. Quando morrerem, ninguém saberá que viveram sobre a Terra.” Uma enorme onda de depressão abateu-se sobre mim. ”Eu quero que as pessoas saibam que estive aqui”, pensei. ”Quero que saibam que vivi. Quero marcar a diferença.”

No dia seguinte, a minha depressão estava mais profunda. Sentia-me atabafado por pesadas nuvens negras. Por fim, desesperado, marquei consulta no psicólogo da universidade, para ver se ele descobria o que havia de errado em mim.

No caminho, sem qualquer justificação, fui invadido por tal sensação de alegria que comecei a cantar alto. Quando cheguei à entrada do edifício onde o psicólogo tinha o gabinete, estaquei.

”Eu não preciso falar com ele”, pensei. ”Estou feliz. O homem vai pensar que sou maluco”.

Foi uma má opção. Se tivesse ido falar com ele, teria ficado logo nesse dia a saber aquilo que só vim á descobrir muitos anos mais tarde.

A minha depressão voltou e não mostrava sinais de regredir.

O dinheiro era cada vez mais escasso. Otto tinha dificuldade em conseguir emprego e Natalie trabalhava como vendedora num grande armazém seis dias por semana. Eu trabalhava todas as noites no bengaleiro e na drugstore Afremow nas tardes de sábado, mas, mesmo com aquilo que Otto e Natalie ganhavam, o dinheiro não era suficiente. Por volta de Fevereiro de 1935, estávamos com a renda bastante atrasada.

Uma noite, ouvi Otto e Natalie a conversarem.

- Não sei o que vamos fazer. Estamos a ser pressionados por toda a gente. Talvez seja melhor tentar arranjar um trabalho à noite dizia ela.

Não, pensei. A minha mãe já tinha um trabalho a tempo inteiro e vinha para casa, e fazia o jantar, e limpava o apartamento. Não podia permitir que ela fizesse mais do que fazia.

Na manhã seguinte, desisti da Northwestern.

Quando contei a Natalie o que acabara de fazer, ela ficou horrorizada.

- Sidney, tu não podes desistir da universidade. Tudo se vai compor. Tinha os olhos cheios de lágrimas.

Mas eu sabia que nada se ia compor. Comecei imediatamente à procura de outro emprego, mas em 1935 a Depressão estava no seu auge e não havia empregos disponíveis. Tentei agências de publicidade, jornais e estações de rádio, mas ninguém estava a contratar.

No caminho para outra entrevista numa estação de rádio, passei por um grande armazém chamado Mandei Brothers. Lá dentro, pareciam muito ocupados. Meia dúzia de vendedores assistiam os clientes. Decidi que não tinha nada a perder, entrei e olhei em volta. Comecei a vaguear pela loja. Era enorme. Passei pelo departamento de sapatos de senhora e parei. Isto ia ser fácil.

Um homem aproximou-se.

- Em que posso ser útil?

- Gostava de falar com o gerente.

- O meu nome é Young, sou o gerente. Em que lhe posso ser útil?

- Estou à procura de trabalho. Tem alguma vaga? Olhou para mim por momentos.

- Na realidade, tenho, sim. Tem alguma experiência na venda de sapatos de senhora?

- Sim, sim.

- E onde é que trabalhou antes?

- Lembrei-me do nome de uma loja onde comprara uns sapatos.

- Na Thom McCann, em Denver.

- Pois muito bem. Acompanhe-me ao meu escritório. Deu-me um formulário. Preencha isso.

Quando terminei, pegou nele, leu-o e em seguida olhou para mim.

- Primeiro que tudo, senhor Schechtel, McCann não se escreve ”M-I-C-K-A-N”. E, em segundo lugar, não fica nesta rua.

Eu precisava desesperadamente deste emprego.

- Se calhar mudou. Respondi apressadamente. E sou péssimo em ortografia. Sabe...

- Só espero que seja melhor a vender do que é a mentir.

Acenei com a cabeça, deprimido, e virei-me para partir.

- De qualquer das maneiras, muito obrigado.

- Espere. Está contratado. Olhei para ele, espantado.

- Estou? Mas, por quê?