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- O meu patrão acha que só uma pessoa com experiência é que consegue vender sapatos de senhoras. Eu por mim acho que qualquer pessoa é capaz de aprender rapidamente. Você vai ser uma experiência.

- Muito obrigado respondi, agradecido. Não o vou decepcionar.

Fui trabalhar cheio de otimismo. Quinze minutos mais tarde estava despedido. O que aconteceu é que cometi um pecado imperdoável. A minha primeira cliente era uma senhora muito bem vestida, que me abordou no departamento de sapatos.

- Posso ajudar?

- Quero um par de sapatos rasos pretos, tamanho 40. Dei-lhe o meu melhor sorriso de vendedor.

- Com certeza.

Dirigi-me às traseiras, ao local onde guardavam os sapatos em prateleiras. Havia centenas de caixas, todas marcadas pelo lado de fora... 35, 36, 37, 38, 39, 41. Nenhum 40. Comecei a ficar desesperado. Havia um 41. ”Ela nunca vai dar pela diferença”, pensei. Tirei os sapatos da caixa e levei-lhos.

- Ora aqui tem.

Calcei-lhos nos pés. Ela olhou para eles durante um momento.

- Isto é um 40?

- Sim, minha senhora. Observou-me durante algum tempo.

- Tem a certeza?

- Tenho, sim.

- Tem a certeza que isto é um 40?

- Absoluta.

- Quero falar com o gerente.

E foi o fim da minha carreira no departamento de sapatos de senhora. Nessa tarde, fui transferido para a retrosaria.CAPÍTULO 5

Embora estivesse há trabalhar seis dias por semana na retrosaria do Mandei Brothers e sete noites por semana nos bengaleiros dos hotéis da baixa da cidade, o dinheiro continuava a não chegar. Otto arranjou um emprego a meio tempo a trabalhar num centro de telemarketing no South Side, cujo objetivo era vender produtos a desconhecidos por telefone.

Esta operação decorria numa enorme sala nua, com uma dúzia de homens, cada um com um telefone, a falarem ao mesmo tempo com potenciais clientes, tentando vender-lhes poços de petróleo, ações da bolsa ou o que quer que fosse que pudesse parecer um bom investimento. Era um trabalho de grande tensão. Os nomes e os números de telefone dos potenciais clientes eram obtidos de uma longa lista que era vendida a quem quer que dirija um centro de telemarketing. Os vendedores recebiam uma comissão pelas vendas que faziam.

Otto voltava à noite para casa e falava excitadamente sobre o que lá se passara. Como estavam abertos sete dias por semana, decidi passar por lá e dar uma vista de olhos, para ver se conseguia ganhar mais algum dinheiro extra aos domingos. Otto conseguiu que me deixassem tentar e no domingo seguinte fui trabalhar com ele. Quando lá cheguei fiquei parado na temida sala a ouvir as conversas dos vendedores.

“... senhor Collins, ainda bem que o consegui apanhar. O meu nome é Jason Richards e tenho excelentes notícias para si. O senhor e a sua família acabaram de ganhar uma viagem grátis ás Bermudas. A única coisa que precisa fazer é mandar-me um cheque e...”

”... senhor Adams, tenho excelentes notícias para si. O meu nome é Brown, Jim Brown. Sei que investe em ações e tive conhecimento de um negócio que vai ter um aumento de cem por cento nas próximas seis semanas. Não há muitas pessoas a terem conhecimento disso, mas, se estiver interessado em ganhar bom dinheiro...”

"... senhora Doyle, fala Charlie Chase. Muitos parabéns. A senhora, o seu marido, a pequena Amanda e o Peter foram escolhidos para uma viagem grátis a...”

E por aí fora.

Espantava-me com a quantidade de pessoas que caíam no conto do vigário oferecido pelo vendedor. Por alguma razão, os médicos pareciam ser os mais crédulos. A maior parte dos produtos que eram vendidos tinha defeito, eram mais caros, de qualidade inferior ou nem sequer existiam.

Naquele domingo, tive a minha conta daquele centro e nunca mais lá voltei.

O meu trabalho no Mandei Brothers era aborrecido e fácil, mas eu não andava a procura de coisas fáceis. Queria um desafio, algo que me desse à possibilidade de crescer. Sabia que se me saísse bem ali tinha a oportunidade de poder subir. Um dia até podia chegar a chefe do departamento. O Mandei Brothers tinha uma cadeia de lojas por todo o país, por isso, com o tempo, até podia tornar-me diretor regional e, quem sabe, chegar à presidente.

Numa manhã de domingo, o meu chefe, o senhor Young, veio falar comigo.

- Schechtel, tenho más notícias para ti. Eu olhava fixamente para ele.

- O que é?

- Vou ter que te despedir. Tentei parecer calmo.

- Fiz alguma coisa de errado?

- Não. Todos os departamentos receberam ordens para cortarem no pessoal. Tu foste o último a ser admitido, por isso tens de ser o primeiro a partir.

Senti-me como se alguém tivesse agarrado o meu coração e o tivesse apertado. Eu precisava desesperadamente daquele emprego. Ele não fazia idéia de que não estava simplesmente a despedir um empregado do departamento de retrosaria, mas o futuro presidente da empresa.

Sabia que tinha que encontrar outro emprego, o mais depressa possível. As dívidas acumulavam-se. Devíamos na mercearia, o senhorio começava a ficar agressivo e a água, a luz e o gás, que já tinham sido cortados várias vezes, estavam prestes a ser cortados de novo.

Lembrei-me de alguém que talvez pudesse ajudar.

Charley Fine, um amigo de muitos anos do meu pai, era executivo numa grande empresa industrial. Perguntei a Otto se ele via algum problema em que eu falasse com Charley para lhe pedir um emprego.

Otto pensou durante um pouco e em seguida olhou para mim e respondeu:

- Eu próprio falo com ele.

Na manhã seguinte, atravessei os enormes portões da Stewart Warner, o maior fabricante do mundo de peças para automóveis. A fábrica estava instalada num edifício com cinco andares e ocupava um quarteirão inteiro. Um guarda acompanhou-me através da fábrica, cheia de enormes e misteriosas máquinas, semelhantes a monstros pré-históricos. O barulho que faziam era incrível.

Otto Karp, um homem baixo e robusto, com um forte sotaque alemão, estava à minha espera.

- Então vens trabalhar para cá? Perguntou.

- Sim, senhor. Pareceu ficar desapontado.

- Vem comigo.

E, começamos a caminhar ao longo da enorme fábrica. Todas as máquinas trabalhavam à máxima velocidade.

Quando nos aproximamos de uma delas, Karp disse:

- Esta aqui faz engrenagens e bichas para velocímetros. Fazem girar o veio flexível que faz mover o velocímetro. Estás a perceber?

Eu não percebera uma palavra.

- Pois.

Levou-me até outra máquina junto daquela.

- Aquilo que vês sair deste lado são engrenagens que são comprimidas contra o veio de saída da transmissão. A mais comprida é a bicha que é inserida num determinado ângulo para engrenar na roda dentada da transmissão.

Fiquei a olhar para ele e interroguei-me: Chinês Swahili? Dirigimo-nos a outra máquina.

- Aqui fazem engrenagens que estão fixas ao cubo das rodas da frente. A ponteira é fixada ao disco do travão. Estás a ver?

Acenei que sim.

Levou-me junto de outra máquina.