Era verdade, num certo sentido. Para Oliver, era um casamento de conveniência, e ele tomava o cuidado de evitar qualquer coisa que pudesse perturbá-lo. Jamais esqueceria o que seu deslize anterior quase lhe custara.
- Isso é ótimo. A felicidade de Jan é muito importante para mim.
Era um aviso.
- Para mim também - murmurou Oliver.
- Ah, outra coisa. Você gosta de Peter Tager? Oliver respondeu com o maior entusiasmo:
- Gosto e muito. Ele tem sido uma tremenda ajuda para mim.
O senador Davis acenou com a cabeça.
- Fico contente em ouvir isso. Não vai encontrar outro melhor. Vou emprestá-lo a você, Oliver. Ele pode abrir muitos caminhos à sua frente.
Oliver sorriu.
- Fico muito agradecido.
O senador Davis levantou-se.
- Tenho de voltar a Washington. Avise-me se precisar de alguma coisa.
- Obrigado, Todd.
No domingo, depois da reunião com o senador Davis, Oliver tentou falar com Peter Tager.
- Ele está na igreja, governador.
- Ah, sim. Esqueci. Falarei com ele amanhã.
Peter Tager ia à igreja todos os domingos com a família, e três vezes por semana participava de uma reunião de orações que durava duas horas. De certa forma, Oliver o invejava. Tager deve ser o único homem realmente feliz que conheço, pensava ele.
Na manhã de segunda-feira, Tager entrou na sala de Oliver.
- Queria falar comigo, Oliver?
- Preciso de um favor. É pessoal.
Peter acenou com a cabeça.
- Qualquer coisa que eu puder fazer.
- Preciso de um apartamento.
Tager correu os olhos pela enorme sala com uma expressão irônica de incredulidade.
- Acha que este lugar é pequeno demais para você, governador?
- Não. - Oliver fitou o único olho de Tager.
- Às vezes tenho encontros particulares à noite. E devem ser discretos. Entende o que estou dizendo?
Houve uma pausa constrangida.
- Entendo.
- Quero um apartamento longe do centro. Pode cuidar disso para mim?
- Acho que sim.
- O assunto deve ficar apenas entre nós dois, é claro.
Peter Tager acenou com a cabeça, infeliz.
Uma hora depois, Tager ligou para o senador Davis em Washington.
- Oliver me pediu para alugar um apartamento para ele, senador. Com o máximo de discrição.
- É mesmo? Ele está aprendendo, Peter. Pois faça o que ele pede. E cuide para que Jan nunca descubra. - O senador pensou por um instante.
- Arrume um apartamento em Indian Hills. Algum lugar com uma entrada particular.
- Mas não é certo que ele...
- Peter... apenas faça.
A solução para o problema de Leslie veio em duas matérias separadas no Lexington Ilerald-Leader. A primeira era um longo editorial elogiando o governador Oliver Russell. A última frase dizia: "Nenhum de nós aqui no Kentucky que o conhece ficará surpreso quando um dia Oliver Russell se tornar presidente dos Estados Unidos."
Uma notícia na página seguinte dizia: "Henry Chambers, ex-residente em Lexington, cujo cavalo Lightning ganhou o Derby do Kentucky há cinco anos, acaba de se divorciar de sua terceira esposa, Jessica. Chambers, que agora reside em Phoenix, é o proprietário e editor do Phoenix Star."
O poder da imprensa. Esse era o verdadeiro poder. Katharine Graham e seu Washington Post haviam destruído um presidente americano.
E foi nesse instante que a idéia tomou forma.
Leslie passou os dois dias seguintes fazendo uma pesquisa sobre Henry Chambers. Havia algumas informações interessantes sobre ele na Internet. Chambers era um filantropo de 55 anos que herdara uma fortuna na indústria do tabaco e devotara a maior parte de sua vida a distribuí-la. Mas não era o seu dinheiro que interessava a Leslie. Era o fato de que ele possuía um jornal e acabara de se divorciar.
Meia hora depois de seu encontro com o senador Davis, Leslie entrou na sala de Jim Bailey.
- Vou embora, Jim.
Ele fitou-a com uma expressão compreensiva.
- Boa idéia. Você precisa mesmo de umas férias. Quando voltar, poderemos...
- Não vou voltar.
- O quê? Eu... eu não quero que você vá, Leslie. Fugir não vai resolver...
- Não estou fugindo.
- A decisão é irrevogável?
- É, sim.
- Detestaremos perdê-la. Quando quer sair?
- Já saí.
Leslie Stewart pensara muito nas várias maneiras pelas quais poderia conhecer Henry Chambers. As possibilidades eram intermináveis, mas ela descartou uma a uma. O que tinha em mente precisava ser planejado com o maior cuidado. E de repente ela se lembrara do senador Davis. Chambers e Davis tinham as mesmas origens, freqüentavam os mesmos círculos. Não podia haver a menor dúvida de que se conheciam. E Leslie decidira telefonar para o senador.
Ao chegar ao aeroporto Sky Harbor, em Phoenix, Leslie teve um súbito impulso e foi até a banca de jornais do terminal. Comprou um exemplar do Phoenix Stay e deu uma olhada. Não teve sorte. Comprou também o Arizona Republic, mas só encontrou o que procurava num terceiro jornal, Phoenix Gazette. Lá estava, a coluna astrológica de Zoltaire. Não que eu acredite em astrologia. Sou inteligente demais para essas besteiras. Mas...
PARA LEÃO (23 DE JULHO A 22 DE AGOSTO). JÚPITER ESTÁ SE JUNTANDO AO SEU SOL. PLANOS ROMÂNTICOS FEITOS AGORA SERÃO REALIZADOS. EXCELENTES PERSPECTIVAS PARA O FUTURO. AJA COM CAUTELA.
Havia um motorista e uma limusine à sua espera na saída do terminal.
- Srta. Stewart?
- Pois não?
- O sr. Chambers envia seus cumprimentos e pediu-me que a levasse ao hotel.
- É muita gentileza dele.
Leslie sentiu-se desapontada. Esperava que Chambers viesse recebê-la pessoalmente.
- O sr. Chambers gostaria de saber se está livre para jantar com ele esta noite.
Melhor. Muito melhor.
- Por favor, diga a ele que terei o maior prazer.
Às oito horas daquela noite, Leslie estava jantando com Hénry Chambers. Era um homem atraente, com um rosto aristocrático, cabelos castanhos se tornando grisalhos, e um entusiasmo, cativante. Estudou Leslie com uma evidente admiração.
- Todd falou sério quando disse que estaria me prestando um favor.
Leslie sorriu.
- Obrigada.
- O que a fez tomar a decisão de vir para Phoenix, Leslie?
Você não vai querer saber.
- Ouvi falar tanto a respeito da cidade que pensei que gostaria de morar aqui.
- É uma cidade sensacional. Você vai adorar. O Arizona tem tudo... o Grand Canyon, deserto, montanhas. Pode-se encontrar tudo o que se quiser aqui.
E eu encontrei, pensou Leslie.
- Vai precisar de um lugar para morar. Tenho certeza de que posso ajudá-la a encontrar o que deseja.
Leslie sabia que seu dinheiro não duraria por mais de três meses. No final das contas, porém, precisou de apenas dois meses para consumar seu plano.
As livrarias ofereciam incontáveis livros para as mulheres relatando as melhores maneiras de conquistar um homem. Os diversos tipos de psicologia popular variavam de "Banque a difícil" a "Fisgue seu homem na cama".
Leslie não seguiu nenhum desses conselhos. Usou seu próprio método: excitou Henry Chambers ao máximo. Não em termos físicos, mas mentais.
Henry jamais conhecera uma mulher como ela. Era um homem da velha escola, convencido de que qualquer loura bonita era também burra. Nunca lhe ocorrera que sempre se sentira atraído por mulheres que eram lindas, mas que não primavam pelos dotes intelectuais. Leslie foi uma revelação para ele. Era inteligente e articulada, versada em uma espantosa gama de assuntos. Conversavam sobre filosofia, religião e história. Henry confidenciou a um amigo:
- Acho que ela anda lendo uma porção de livros só para poder conversar comigo.
Henry Chambers apreciava muito a companhia de Leslie. Mostrava-a aos amigos e a exibia em seu braço como um troféu. Levou-a ao Carefree Wine, ao Fine Art Festival e ao Actors Theater. Foram assistir ao jogo do Phoenix Suns na America West Arena. Visitaram a Lyon Gallery, em Scottsdale, Symphony Hall e a pequena cidade de Chandler, para ver a Doo-dah Parade. Uma noite foram ver um jogo de hóquei com o Phoenix Roadrunners. Depois da partida, Henry disse: