- Poderia ser mais específica?
- Com prazer. Os homens estão trabalhando cada vez menos no expediente normal e encontrando meios de continuar aqui para receber horas extras. Alguns chegam a fazer três turnos, trabalhando durante todo o fim de semana. Não podemos mais permitir isso. Estamos perdendo dinheiro porque nosso equipamento está superado. Se pudéssemos ter novas máquinas...
- Absolutamente não! Os novos equipamentos que você quer introduzir no jornal deixariam meus homens desempregados. Não tenho a menor intenção de permitir que máquinas joguem meus homens na rua. Afinal, as máquinas não têm de comer, mas meus homens precisam. - Riley levantou-se.
- Nosso contrato termina na semana que vem. Ou conseguimos o que queremos, ou entramos em greve.
Quando Leslie relatou a reunião para Henry naquela noite, ele disse:
- Por que você quer se envolver nessas coisas? Os sindicatos constituem um problema com que temos de conviver. Deixe-me lhe dar um bom conselho, querida. É nova nisso, e uma mulher ainda por cima. Deixe os homens cuidarem de tudo. Não vamos... - ele parou de falar, esbaforido.
- Você está bem?
Henry acenou com a cabeça.
- Estive com meu estúpido médico hoje. Ele acha que devo passar a usar um tanque de oxigênio.
- Providenciarei tudo o que precisar - declarou Leslie.
- E vou contratar uma enfermeira para ficar com você quando eu não estiver...
- Não! Não preciso de nenhuma enfermeira. Eu... apenas estou me sentindo um pouco cansado.
- Calma, Henry. Deixe-me levá-lo para a cama.
Três dias depois, quando Leslie convocou uma reunião de emergência do conselho, Henry disse:
- Vá sozinha, meu bem. Ficarei em casa, para não me afligir.
O tanque de oxigênio ajudara, mas ele vinha se sentindo cada vez mais fraco e deprimido. Leslie telefonou para o médico.
- Ele tem emagrecido demais e sente dores. Tem de haver alguma coisa que você possa fazer.
- Já estamos fazendo tudo o que podemos, sra. Chambers. Apenas cuide para que ele repouse o máximo possível e não deixe de tomar os medicamentos.
Leslie permaneceu sentada, observando Henry estendido na cama, tossindo.
- Lamento pela reunião, querida - murmurou ele. Você pode cuidar de tudo. E, no final das contas, não há mesmo nada que eu possa fazer.
Ela se limitou a sorrir.
Os membros do conselho estavam reunidos em torno da mesa na sala de reunião, tomando café e servindo-se de bagels e queijo cremoso, à espera de Leslie. Ao chegar, ela disse:
- Lamento deixá-los esperando, senhoras e senhores. Henry manda seus cumprimentos.
As coisas haviam mudado desde a primeira reunião do conselho a que Leslie comparecera. O conselho esnobara-a naquela ocasião, tratara-a como uma intrusa. Mas, pouco a pouco, à medida que aprendia sobre o negócio de jornal, Leslie passara a fazer sugestões valiosas e ganhara o respeito de todos. Agora, com a reunião prestes a começar, Leslie virou-se para Amy, que servia o café, e disse:
- Amy, eu gostaria que você ficasse para a reunião. A secretária fitou-a, aturdida.
- Lamento, mas não sou muito boa em taquigrafia, sra. Chambers. Cynthia pode fazer um trabalho muito melhor e...
- Não quero que faça uma ata da reunião. Deve apenas anotar as resoluções que adotarmos no final.
- Pois não, madame.
Amy pegou uma caneta e um bloco e foi se sentar numa cadeira encostada na parede. Leslie virou-se para o conselho.
- Temos um problema. Nosso contrato com o sindicato dos gráficos está quase expirando. Há três meses que negociamos, mas não conseguimos chegar a um acordo. Precisamos tomar uma decisão, e tem de ser rápida. Todos viram os relatórios que enviei. Gostaria de ouvir suas opiniões.
Ela olhou para Gene Osborne, sócio de uma firma de advocacia local.
- Se quer saber mesmo o que penso, Leslie, acho que eles já receberam demais. Dê o que estão querendo agora, e amanhã eles pedirão ainda mais.
Leslie acenou com a cabeça e olhou para Aaron Drexel. proprietário de uma loja de departamentos local.
- Aaron?
- Tenho de concordar. O sindicato obriga o jornal a contratar mais gente do que é preciso. Se dermos alguma coisa, devemos exigir algo em troca. Na minha opinião, podemos suportar uma greve, mas eles não podem.
Os comentários dos outros foram similares. Leslie declarou:
- Tenho de discordar de todos. - Eles a fitaram, espantados.
- Acho que devemos deixar que eles tenham o que querem.
- Mas isso é uma loucura!
- Eles acabarão donos do jornal!
- Não teremos mais como detê-los!
- Não podemos ceder!
Leslie deixou que falassem. Quando terminaram, ela disse:
- Joe Riley é um homem justo. Ele acredita no que está pedindo.
Sentada junto da parede, Amy acompanhava a discussão, atônita. Uma das mulheres comentou:
- Fico surpresa por você tomar o lado dele, Leslie.
- Não estou tomando o lado de ninguém. Apenas acho que devemos ser razoáveis nesta situação. Seja como for, a decisão não é minha. Vamos fazer uma votação. - Ela olhou para Amy.
- É isso o que quero que você registre.
- Pois não, madame.
Leslie tornou a se virar para o grupo.
- Peço que todos aqueles que se opõem às exigências do sindicato levantem a mão. - Onze mãos foram erguidas, e ela acrescentou:
- Que fique registrado que votei sim e que o resto do conselho votou para não aceitarmos as exigências do sindicato.
Amy escrevia em seu bloco, com uma expressão pensativa. Leslie continuou:
- Então está resolvido. - Ela se levantou.
- Se não há mais nenhum assunto a tratar...
Os outros também se levantaram.
- Obrigada por terem vindo. - Leslie observou-os sair, depois virou-se para Amy.
- Pode bater isso agora, por favor?
- Pois não, sra. Chambers.
Leslie encaminhou-se para a sua sala.
O telefonema veio pouco depois.
- O sr. Riley está na linha um - informou Amy Leslie atendeu.
- Alô?
- Joe Riley. Só queria lhe agradecer pelo que tentou fazer.
- Não compreendo...
- A reunião do conselho. Já soube o que aconteceu.
- Estou surpresa, sr. Riley. Foi uma reunião particular.
Joe Riley riu.
- Digamos que tenho amigos nos baixos escalões. Seja como for, achei que foi sensacional o que tentou fazer. É uma pena que não tenha dado certo.
Houve um breve silêncio, depois Leslie murmurou:
- Sr. Riley .. e se eu pudesse fazer com que desse certo?
- Como assim?
- Tenho uma idéia. Mas prefiro não discuti-la pelo telefone. Podemos nos encontrar em algum lugar... discretamente?
Houve uma pausa.
- Claro. Em que lugar está pensando?
- Qualquer lugar em que nenhum dos dois será reconhecido.
- Que tal nos encontrarmos no Golden Cup?
- Combinado. Estarei lá dentro de uma hora.
- Até já.
O Golden Cup era um café infame na parte mais miserável de Phoenix, perto dos trilhos ferroviários. A polícia sempre advertia os turistas a manter distância da área. Joe Riley ocupava um reservado no canto quando Leslie entrou.
Levantou-se quando ela se aproximou.
- Agradeço por ter vindo - disse Leslie.
Os dois sentaram.
- Vim porque você disse que pode haver algum meio de obter meu contrato.
- Há, sim. Acho que o conselho está sendo estúpido e míope. Tentei persuadi-los, mas não quiseram me escutar.
Ele acenou com a cabeça.
- Sei disso. Aconselhou-os a aceitarem o novo contrato.
- Isso mesmo. Mas eles não compreendem como seus gráficos são importantes para o nosso jornal.
Ele a estudava, perplexo.
- Mas se votaram contra você, como podemos...