- Mas faça o que estou pedindo.
No Oregon, Leslie convocou uma reunião com os empregados do Sun.
- Vamos operar de uma maneira um pouco diferente daqui por diante - comunicou ela. - Esta é uma cidade de dois jornais, e vamos ser donos de ambos.
Derek Zornes, o editor-executivo do Sun, declarou:
- Desculpe, sra. Chambers, mas não tenho certeza se compreende a situação. Nossa circulação é muito menor que a do Chronicle, e continuamos a cair todos os meses. Não há a menor possibilidade de alcançá-los.
- Não apenas vamos alcançá-los, mas também acabar com o Chronicle - garantiu Leslie.
Os homens na sala trocaram olhares e todos tiveram o mesmo pensamento: Mulheres e amadores devem ficar fora do negócio jornalístico.
- Como planeja fazer isso? - perguntou Zornes, polido.
- Alguma vez já assistiu a uma tourada? - indagou Leslie.
Ele piscou, surpreso.
- Uma tourada? Não...
- Quando o touro entra em disparada na arena, o matador não avança para matá-lo de imediato. Faz o touro sangrar até que fique bastante fraco para ser morto.
Zornes fazia um tremendo esforço para não rir.
- E vamos sangrar o Chyonicle?
- Exatamente.
- E como faremos isso?
- A partir de segunda-feira, estamos reduzindo o preço de banca do Sun de trinta e cinco centavos para vinte. E a tabela de publicidade terá uma redução de trinta por cento. Na próxima semana iniciaremos um concurso de prêmios em que nossos leitores poderão ganhar viagens gratuitas para o mundo inteiro. Começaremos a divulgar o concurso imediatamente.
Quando os empregados se reuniram mais tarde para conversar sobre a reunião, o consenso foi o de que o jornal fora comprado por uma louca.
A hemorragia começou, mas era o Sun que estava sangrando. McAllister perguntou a Leslie:
- Tem alguma idéia do montante do prejuízo do Sun?
- Sei exatamente quanto o jornal está perdendo.
- E por quanto tempo planeja continuar assim?
- Até ganharmos. Não se preocupe. Vamos ganhar.
Mas Leslie estava preocupada. Os prejuízos se tornavam mais pesados a cada semana. A circulação continuava a diminuir, e a reação dos anunciantes à redução dos preços não fora muito entusiasmada.
- Sua teoria não está funcionando - comentou McAllister, -Temos de reduzir nossos prejuízos. Acho que você pode continuar a bombear dinheiro, mas qual o sentido?
Na semana seguinte, a circulação parou de cair.
Demorou oito semanas para a circulação do Sun começar a subir.
A redução do preço de banca e da tabela de anúncios era atraente, mas o que subiu mesmo a circulação foi o concurso de prêmios. Prolongou-se por doze semanas, e os participantes tinham de competir todas as semanas. Os prêmios eram cruzeiros pelos mares do Sul e viagens a Londres, Paris e Rio. À medida que os prêmios eram distribuídos e divulgados, com fotos dos vencedores na primeira página, a circulação do Sun começou a eclodir.
- Você assumiu um tremendo risco, mas está dando certo - admitiu McAllister, relutante.
- Não houve risco algum - respondeu Leslie.
- Eu tinha certeza de que as pessoas não poderiam resistir a ganhar alguma coisa sem dar nada em troca.
Walt Meriwether ficou furioso quando recebeu o último boletim de circulação. Pela primeira vez em anos, o Sun estava na frente do Chronicle.
- Muito bem - disse ele, sombrio. - Dois podem fazer o mesmo jogo estúpido. Vamos reduzir nossa tabela de anúncios e lançar algum concurso.
Mas era tarde demais. Onze meses depois de Leslie ter comprado o Sun, Walt Meriwether voltou a procurá-la.
- Estou vendendo - anunciou ele, em tom brusco. Quer comprar o Chronicle?
- Quero.
No dia em que foi assinado o contrato de compra do Chronicle, Leslie convocou uma reunião de sua equipe.
- A partir da segunda-feira - declarou ela -, vamos aumentar o preço de banca do Sun, dobrar a tabela de publicidade e acabar com os concursos.
Um mês mais tarde, Leslie disse a McAllister:
- O Evening Standard de Detroit está à venda. O jornal possui também uma emissora de televisão. Acho que devemos apresentar uma proposta.
McAllister protestou:
- Sra. Chambers, não sabemos nada de televisão e...
- Então teremos de aprender, não é mesmo?
Leslie começava a construir o império de que precisava.
Os dias de Oliver eram movimentados e ele adorava cada minuto do que fazia. Havia nomeações políticas a fazer, legislação a ser apresentada, reuniões, discursos e entrevistas com a imprensa. O State Journal de Frankfort, o Herald-Leader de Lexington e o Courier Journal de Louisville lhe proporcionavam a melhor cobertura. Ele estava adquirindo a reputação de um governador que fazia as coisas. Foi engolfado pela vida social dos super-ricos, e sabia que em grande parte isso acontecia porque era casado com a filha do senador Todd Davis.
Oliver gostava de viver em Frankfort. Era uma adorável cidade histórica, aninhada num vale de rio espetacular, entre as colinas ondulantes do Kentucky, na região do famoso capim azul. Ele se perguntava como seria viver em Washington, D. C.
Os dias movimentados fundiram-se em semanas, e as semanas se transformaram em meses. Oliver iniciou o último ano de seu mandato.
Oliver fizera de Peter Tager seu secretário de imprensa. Era a escolha perfeita. Tager era sempre franco com os repórteres e, por causa dos valores decentes e antiquados que ele representava e sobre os quais gostava de falar, dava substância e dignidade ao partido. Peter Tager e sua venda preta no olho se tornaram quase tão reconhecidos quanto o próprio Oliver.
Todd Davis fazia questão de voar até Frankfort para ver Oliver pelo menos uma vez por mês. Ele disse a Peter Tager:
- Quando você tem um cavalo correndo, precisa ficar de olho nele, para ter certeza de que não vai perder seu ritmo.
Numa noite fria, em outubro, Oliver e o senador Davis estavam sentados no gabinete do governador. Os dois e Jan tinham jantado no Gabriel's. Voltaram ao Palácio do Executivo, e Jan os deixara para conversarem.
- Jan parece muito feliz, Oliver. Estou satisfeito.
- Tento fazê-la feliz, Todd.
O senador Davis fitou Oliver nos olhos e se perguntou com que freqüência ele usava o apartamento.
- Ela o ama muito, filho.
- E eu também a amo.
Oliver parecia sincero. O senador Davis sorriu.
- Fico contente em saber disso. Ela já está redecorando a Casa Branca.
O coração de Oliver disparou.
- Como?
- Não lhe contei? Já começou. Seu nome está se tornando cada vez mais cotado em Washington. Vamos iniciar nossa campanha no primeiro dia do ano.
Oliver quase teve medo de fazer a pergunta seguinte.
- Acredita sinceramente que tenha uma chance, Todd?
- A palavra "chance" insinua um jogo, e eu não jogo, filho. Não me envolvo em coisa alguma se não estiver convencido de que é uma coisa certa.
Oliver respirou fundo.
- Você pode se tornar o homem mais importante do mundo.
- Quero que saiba o quanto sou grato por tudo o que tem feito por mim, Todd.
Todd afagou o braço de Oliver.
- É dever de um homem ajudar seu genro, não é mesmo A ênfase em "genro" não passou despercebida a Oliver.
O senador acrescentou, em tom casuaclass="underline"
- Ah, antes que eu me esqueça, Oliver, fiquei muito desapontado com a aprovação do novo imposto sobre o tabaco.
- O dinheiro vai resolver o problema do déficit em nosso orçamento fiscal e...
- Mas é claro que você vai vetar.
Oliver se mostrou aturdido.
- Vetar?
O senador sorriu.
- Oliver, quero que saiba que não estou pensando em mim mesmo. Mas tenho muitos amigos que investiram seu dinheiro ganho arduamente em plantações de tabaco e não gostaria que fossem prejudicados por novos impostos escorachantes, entende?
Houve um momento de silêncio.
- Entende, Oliver?
- Entendo - murmurou Oliver, depois de um longo momento.