- Não seria justo com eles.
- Fico muito agradecido por isso.
- Ouvi dizer que vendeu suas plantações de tabaco Todd.
Foi a vez do senador se mostrar surpreso.
- Por que eu faria isso?
- As empresas de fumo estão perdendo sucessivas ações nos tribunais. As vendas não param de cair e...
- Está falando dos Estados Unidos, filho. Há um vasto mundo lá fora. Espere só até nossas campanhas de propaganda começarem a sair na China, África e Índia.
Ele olhou para seu relógio e levantou.
- Preciso voltar a Washington. Tenho uma reunião do comitê.
- Tenha um bom vôo.
O senador Davis sorriu.
- Agora terei, filho, agora terei...
Oliver estava transtornado.
- O que vou fazer, Peter? O imposto do tabaco é de longe a medida mais popular que o legislativo aprovou este ano. Que desculpa tenho para vetá-lo?
Peter Tager tirou várias folhas de papel do bolso.
- Todas as respostas estão aqui, Oliver. Conversei com o senador. Você não terá qualquer problema. Marquei uma entrevista coletiva para as quatro horas da tarde.
Oliver estudou os papéis. Ao final, acenou com a cabeça..
- Ficou muito bom.
- É o meu trabalho. Precisa de mim para mais alguma coisa?
- Não. E obrigado. A gente se vê às quatro.
Tager encaminhou-se para a porta.
- Peter...
Ele virou-se.
- Quero que me diga uma coisa. Acha mesmo que tenho uma chance de me tornar presidente?
- O que diz o senador?
- Ele acha que tenho.
Tager voltou até a mesa.
- Conheço o senador Davis há muitos anos, Oliver. Durante todo esse tempo, ele nunca se enganou. Nem uma única vez. O homem possui um instinto incrível. Se Todd Davis diz que você será o próximo presidente dos Estados Unidos, pode apostar tudo que tem nisso.
Houve uma batida na porta.
- Entre.
A porta foi aberta e uma jovem e atraente secretária entrou, trazendo algumas mensagens de fax. Tinha vinte e poucos anos, olhos brilhantes, expressão ansiosa.
- Oh, desculpe, governador. Não sabia que estava numa...
- Não tem problema, Miriam.
Tager sorriu.
- Oi, Miriam.
- Olá, sr. Tager.
- Não sei como seria sem Miriam - comentou Oliver.
- Ela faz tudo por mim.
Miriam corou.
- Se não há mais nada...
Ela deixou os papéis na mesa de Oliver, virou-se e saiu apressada.
- É uma linda mulher... - murmurou Tager, olhando para Oliver.
- É, sim.
- Está sendo cuidadoso, não é, Oliver?
- Claro. Foi para isso que você me arrumou aquele apartamento.
- Eu me refiro a cuidadoso a longo prazo. Na próxima vez em que sentir tesão, pare e pense se uma Miriam, Alice ou Karen vale o Salão Oval.
- Sei o que está querendo dizer, Peter, e agradeço. Mas não precisa se preocupar comigo.
- Ótimo.
Tager olhou para o relógio.
- Tenho de ir agora. Vou levar Betsy e as crianças para almoçar fora!
Ele sorriu.
- Já contei o que Rebecca fez esta manhã? É minha filha de cinco anos. Havia uma fita do show de algum garoto que ela queria assistir às oito horas da manhã. Betsy disse: "Querida, porei a fita para você depois do almoço." Rebecca fitou-a nos olhos e respondeu: "Mamãe, quero almoçar agora." Muito esperta, hem?
Oliver não pôde deixar de sorrir pelo orgulho na voz de Tager.
As dez horas daquela noite, Oliver entrou na sala intima, onde Jan estava lendo.
- Meu bem, preciso sair. Preciso ir a uma reunião.
Jan levantou os olhos.
- A esta hora?
Ele suspirou.
- Infelizmente. O comitê do orçamento vai se reunir pela manhã, e eles querem me dar as informações necessárias antes.
- Você tem trabalhado demais. Tente voltar para casa mais cedo, está bem, Oliver?
Jan hesitou por um momento.
- Tem se ausentado demais ultimamente.
Oliver especulou se o comentário era uma advertência. Adiantou-se, inclinou-se e beijou-a.
- Não se preocupe, meu bem. Voltarei para casa o mais cedo que puder.
Lá embaixo, Oliver comunicou a seu motorista:
- Não precisarei de você esta noite. Sairei no carro pequeno.
- Certo, governador.
- Chegou atrasado, querido.
Miriam já estava nua. Ele sorriu e se aproximou.
- Lamento por isso. E fico contente que você não tenha começado sem mim.
Ela sorriu também.
- Abrace-me.
Ele a tomou nos braços e comprimiu o corpo quente contra o seu.
- Tire as roupas, querido. Depressa.
Depois, ele indagou:
- Gostaria de se mudar para Washington? Miriam sentou-se na cama.
- Fala sério?
- Claro que sim. Posso me mudar para Washington. E quero que me acompanhe.
- Se sua esposa algum dia descobrir sobre nós...
- Ela não vai descobrir.
- Por que Washington?
- Não posso explicar agora. Tudo o que posso dizer por enquanto é que será emocionante.
- Irei para qualquer lugar que quiser que eu vá, desde que continue a me amar.
- Sabe muito bem que amo você.
As palavras saíram com a maior facilidade, como já acontecera tantas vezes no passado.
- Faça amor comigo de novo.
- Só um instante. Tenho uma coisa para você.
Ele levantou-se e foi até seu paletó, que deixara pendurado numa cadeira. Tirou um vidrinho do bolso e despejou o conteúdo num copo. Era um líquido transparente.
- Experimente isto.
- O que é? - perguntou Miriam.
- Você vai gostar. Prometo.
Ele levantou o copo e tomou a metade. Miriam deu um gole, depois engoliu o resto. Sorriu.
- O gosto até que não é ruim.
- Vai fazer você se sentir ainda mais sensual.
- Já me sinto bastante sensual. Volte para a cama. Estavam fazendo amor de novo quando ela ofegou e balbuciou:
- Eu... não estou me sentindo bem.
A respiração se tornou arquejante.
- Não consigo respirar...
Os olhos fecharam.
- Miriam!
Não houve resposta. Ela arriou na cama.
- Miriam!
Ela permaneceu imóvel, inconsciente.
- Filha da puta! Por que está fazendo isso comigo?
Ele levantou-se, começou a andar de um lado para outro. Já dera o líquido a uma dúzia de mulheres, e apenas uma vez fizera mal a alguém. Precisava tomar todo cuidado. A menos que cuidasse daquilo direito, seria o fim de tudo. Todos os seus sonhos, tudo por que se empenhara. Não podia permitir que acontecesse. Ele parou no lado da cama, contemplando a mulher. Sentiu seu pulso. Ainda respirava, graças a Deus. Mas não podia deixar que ela fosse encontrada naquele apartamento. Pois logo seria ligada a ele. Precisava levá-la a algum lugar, onde a descobririam e providenciariam ajuda médica. E podia confiar que Miriam não revelaria seu nome.
Ele levou quase meia hora para vesti-la e remover todos os sinais de sua presença no apartamento. Entreabriu a porta para verificar se o corredor estava vazio, depois levantou-a, ajeitou-a em seu ombro, levou-a para o carro.
Era quase meia-noite, as ruas estavam desertas. Começara a chover. Ele foi para o Juniper Hill Park. Quando teve certeza de que não havia ninguém à vista, tirou Miriam do carro e acomodou-a gentilmente num banco do parque. Detestava deixá-la ali, mas não tinha opção. Absolutamente nenhuma. Todo o seu futuro estava em jogo.
Havia uma cabine telefônica a poucos metros do local. Ele foi até lá e discou 911. Jan esperava acordada quando Oliver chegou em casa.
- Já passa de meia-noite - disse ela.
- Por que demorou...?
- Sinto muito, querida. Tivemos uma longa e chata discussão sobre o orçamento e... bem, todos tinham opiniões diferentes.
- Você está muito pálido, Oliver. Deve estar exausto.
- Sinto-me um pouco cansado.
Jan sorriu, sugestiva.
- Vamos para a cama.
Ele beijou-a na testa.