- Será como ajudar a fazer a história.
Enquanto crescia, a jovem Dana sentia-se deprimida cada vez que se olhava no espelho. Era muito baixa, muito magra, muito lisa. Todas as outras garotas na Califórnia eram de uma beleza espetacular. Sou um patinho feio numa terra de cisnes, pensava ela. E fazia questão de evitar os espelhos. Se olhasse, Dana teria percebido que aos quatorze anos seu corpo começou a desabrochar. Aos dezesseis, ela se tornara muito atraente. Quando tinha dezessete, os rapazes passaram praticamente a assediá-la. Havia alguma coisa em seu rosto ansioso, no formato de um coração, nos olhos grande e inquisitivos e na risada rouca que a tornava ao mesmo tempo adorável e um desafio.
Dana soubera desde os doze anos de idade como queria perder a virgindade. Seria numa linda noite enluarada, em alguma ilha tropical distante, com as ondas se desmanchando gentilmente na praia. Um estranho bonito e sofisticado se aproximaria para fitá-la nos olhos, até sua alma, e a tomaria nos braços, sem dizer uma palavra sequer, e a carregaria para uma palmeira próxima. Os dois se despiriam e fariam amor, enquanto a música ao fundo se elevava para clímax.
Ela acabou perdendo a virgindade no banco traseiro de um velho Chevrolet, depois de um baile na escola, com um ruivo magricela de dezoito anos, Richard Dobbins, que também trabalhava no Forum. Ele deu seu anel a Dana e, um mês depois, mudou-se para Milwaukee com os pais. Dana nunca mais soube dele.
Um mês antes de se formar no colégio, no curso de jornalismo, Dana foi ao jornal local, o Claremont Examiner, em busca de um emprego como repórter. Um homem no departamento de pessoal examinou seu currículo.
- Quer dizer que foi editora do Forum, hem?
Dana sorriu, modesta.
- Isso mesmo.
- Muito bem, você deu sorte. Precisamos de alguém nesse momento. Podemos experimentá-la.
Dana ficou emocionada. Já fizera uma lista dos lugares que queria cobrir: Rússia... China... África...
- Sei que não posso começar como correspondente estrangeira - disse ela -, mas assim que...
- Certo. Vai trabalhar aqui em pequenos serviços. Cuidará para que os editores tenham café pela manhã. A propósito, eles gostam bem forte. E vai levar os textos para as oficinas.
Dana ficou chocada.
- Não posso...
O homem inclinou-se para a frente, franzindo o rosto.
- Não pode o quê?
- Não posso lhe dizer como estou contente por esse emprego.
Todos os repórteres elogiavam Dana pelo café que fazia, e ela tornou-se a melhor mensageira que o jornal já tivera. Chegava cedo todos os dias, fazia amizade com os colegas. Sempre se mostrava ansiosa em ajudar. Sabia que essa era a maneira de progredir.
O problema era que, ao final de seis meses, ela continuava na mesma função. Foi falar com Bill Crowell, o editor-executivo.
- Creio sinceramente que estou pronta - declarou Dana, muito séria.
- Se me der uma missão, eu...
Ele nem sequer levantou os olhos.
- Ainda não há uma vaga. Meu café está frio.
Não é justo, pensou Dana. Eles nem me dão uma chance. Ela ouvira uma frase em que acreditava com absoluta convicção: "Se alguém pode detê-la, é porque você está deixando." Nada vai me deter, decidiu Dana. Nada mesmo... mas como vou começar?
Certa manhã, quando Dana passava pela sala vazia do teletipo, carregando xícaras de café, chegava uma notícia da polícia. Curiosa, ela foi ler: ASSOCIATED PRESS - CLAREMONT, CALIFÓRNIA. ESTA MANHÃ, EM CLAREMONT, OCORREU UMA TENTATIVA DE SEQÜESTRO. UM GAROTO DE SEIS ANOS FOI ABORDADO POR UM ESTRANHO E...
Dana leu o resto da notícia, os olhos arregalados. Respirou fundo, tirou a notícia do teletipo e guardou-a no bolso. Ninguém mais a vira. Ela entrou apressada na sala de Bill Crowell, ofegante.
- Sr. Crowell, alguém tentou seqüestrar um menino em Claremont esta manhã. Ofereceu-se para levá-lo num passeio de pônei. O menino queria algumas balas primeiro. O seqüestrador levou-o a uma loja, onde o dono reconheceu o menino e ligou para a polícia. O seqüestrador fugiu.
Bill Crowell ficou excitado.
- As agências noticiosas não nos mandaram nada. Como soube?
- Eu... passei pela loja, estavam falando a respeito e...
- Vou mandar um repórter para lá imediatamente.
- Por que não me deixa fazer a reportagem? - pediu Dana. - O dono da loja me conhece. Falará comigo. Crowell estudou-a por um momento e concordou, relutante:
- Está bem.
Dana entrevistou o dono da loja e sua reportagem saiu na primeira página do Claremont Examiner. No dia seguinte, ela foi bem recebida por todos no jornal.
- Até que não foi um trabalho dos piores - comentou Bill Crowell.
- Não foi mesmo.
- Obrigada.
Quase uma semana transcorreu antes que Dana se descobrisse sozinha de novo na sala do teletipo. Estava chegando uma notícia enviada pela Associated Press: POMONA, CALIFÓRNIA: INSTRUTORA DE JUDÔ CAPTURA ESTUPRADOR EM POTENCIAL. Perfeito, decidiu Dana. Ela tirou a notícia da máquina, amassou o papel, meteu no bolso, foi falar com Bill Crowell.
- Minha antiga colega de quarto na escola acaba de me telefonar - disse Dana, excitada.
- Olhava pela janela e viu uma mulher atacar um estuprador em potencial. Eu gostaria de fazer a reportagem.
Crowell fitou-a em silêncio por um momento.
- Vá em frente.
Dana foi até Pomona para entrevistar a instrutora de judô, e outra vez sua reportagem saiu na primeira página.
Bill Crowell chamou-a à sua sala.
- Gostaria de ter um trabalho regular como repórter?
Dana ficou emocionada.
- Claro!
Está começando, pensou ela. Minha carreira finalmente vai deslanchar.
No dia seguinte, o Claremont Examiner foi vendido ao Washington Tribune, de Washington, D. C. Quando a notícia da venda foi divulgada, a maioria dos empregados do Claremont Examiner ficou consternada. Era inevitável que houvesse um corte de pessoal, e alguns perderiam o emprego. Dana não pensou assim.
Trabalho para o Washington Tribune agora, refletiu ela. O pensamento lógico seguinte foi: Por que não vou direto à sede do meu novo jornal?
Ela foi à sala de Bill Crowell.
- Eu gostaria que me concedesse uma licença de dez dias.
Ele fitou-a, curioso.
- Dana, a maioria do pessoal daqui não quer nem ir ao banheiro com medo de não encontrar mais sua mesa no lugar quando voltar. Não está preocupada?
- Por que eu deveria estar? Sou a melhor repórter que você tem - declarou ela, confiante.
- E vou arrumar um emprego no Washington Tribune.
- Fala sério? - Ele estudou a expressão de Dana.
Fala mesmo.
- Crowell fez uma pausa, suspirando.
- Muito bem. Tente falar com Matt Baker. Ele está no comando do Washington Tribune Enterprises... dos jornais, emissoras televisão e rádio, tudo enfim.
- Matt Baker. Certo.
Washington, D.C., era uma cidade muito maior do que Dana imaginara. Era o centro do poder no mundo, e Dana podia sentir a eletricidade no ar. É o lugar a que pertenço, pensou ela, feliz.
Sua primeira providência foi hospedar-se no Stouffer Renaissance Hotel. Depois, procurou o endereço do Washington tribune e foi para lá. O Tribune ficava na rua 6 e ocupava todo o quarteirão. Consistia em quatro prédios separados, que pareciam se projetar para o infinito. Dana descobriu o saguão principal e entrou, confiante, foi até o guarda uniformizado por trás da mesa.
- Posso ajudá-la, moça?
- Trabalho aqui. Isto é, trabalho para o Tribune. Vim falar com Matt Baker.
- Tem uma entrevista marcada?
Dana hesitou.
- Ainda não, mas...
- Volte quando tiver.
Ele desviou sua atenção para vários homens que haviam se aproximado da mesa.
- Temos uma reunião marcada com o diretor do departamento de circulação - anunciou um dos homens.
- Um momento, por favor.
O guarda discou um número. Mais além, um elevador chegara ao térreo e as pessoas saíam. Dana se encaminhou para lá, calmamente. Entrou, rezando para que o elevado subisse antes que o guarda a notasse.