A agenda elaborada por Tager incluía várias viagens a todos os Estados da União. Oliver estudou o programa e declarou:
- Isto... isto é impossível, Peter!
- Não da maneira como previmos. Tudo será coordenado. O senador vai lhe emprestar seu Challenger. Haverá pessoas para orientá-lo em todas as etapas e estarei sempre ao seu lado.
O senador Davis apresentou Sime Lombardo a Oliver. Era um gigante, alto e corpulento, sinistro na aparência física e na parte emocional, um homem taciturno, que falava pouco.
- Como ele entra no quadro? - perguntou Oliver ao sogro quando ficaram a sós.
O senador Davis explicou:
- Sime é nosso solucionador de problemas. Às vezes as pessoas precisam de um pouco de persuasão para aceitarem o óbvio. E Sime sabe ser muito convincente.
Oliver não quis saber de mais nada.
Quando a campanha presidencial começou para valer, Peter Tager dava instruções detalhadas a Oliver sobre o que dizer, quando dizer e como dizer. Cuidou para que Oliver visitasse todos os Estados fundamentais nas eleições. E, aonde quer que fosse, Oliver dizia às pessoas o que elas queriam ouvir. Na Pensilvânia:
- A indústria é o sangue vital deste país. Não vamos esquecer isso. Voltaremos a abrir fábricas e lançaremos a América no rumo certo! Aplausos.
Na Califórnia:
- A indústria aeronáutica é um dos patrimônios fundamentais dos Estados Unidos. Não há motivo para que uma única de suas fábricas seja fechada. Vamos abri-las de novo. Aplausos.
Em Detroit:
- Inventamos os carros e os japoneses nos arrebataram a tecnologia. Pois vamos voltar a ocupar o nosso lugar legítimo de número um. Detroit será outra vez o centro automobilístico do mundo! Aplausos.
Nos campos universitários, o tema era a garantia de empréstimos federais para estudantes.
Em discursos nas bases militares, por todo o país, o tema era a necessidade de estarem bem preparados.
No início, quando Oliver era relativamente desconhecido as chances se acumulavam contra ele. À medida que a campanha prosseguiu, no entanto, as pesquisas mostraram sua ascensão.
Na primeira semana de julho, mais de quatro mil delegados e substitutos eventuais, assim como centenas de dirigentes do partido e candidatos, reuniram-se na convenção, em Cleveland, e viraram a cidade pelo avesso com seus desfiles, comícios e festas. Câmeras de televisão do mundo inteiro registravam o espetáculo. Peter Tager e Sime Lombardo cuidavam para que o governador Oliver Russell estivesse sempre diante das câmeras.
Havia meia dúzia de outros candidatos em potencial no partido de Oliver, mas o senador Davis trabalhara nos bastidores para assegurar que, um a um, fossem eliminados. Era implacável ao cobrar os favores devidos, alguns já há vinte anos.
- Toby, sou eu, Todd. Como estão Emma e Suzy?... Ótimo. Preciso falar com você sobre seu garoto, Andrew. Estou preocupado com ele, Toby. Na minha opinião, ele é liberal demais. O Sul nunca vai aceitá-lo. Minha sugestão é a seguinte...
- Alfred, sou eu, Todd. Como vai Roy?... Não precisa me agradecer. Tive o maior prazer em ajudá-lo. Quero falar com você sobre seu candidato, Jerry. Na minha opinião, ele é direitista demais. Se formos com ele, perderemos o Norte. Aqui está minha sugestão...
- Kenneth, sou eu, Todd. Só queria lhe dizer que estou contente porque aquele negócio imobiliário deu certo. Todos nós saímos muito bem, não é? Por falar nisso, acho que devemos ter uma conversinha sobre Slater. Ele é fraco. Um perdedor. E não podemos apoiar um perdedor..
E assim por diante, até que praticamente o único candidato viável que restava no partido era o governador Oliver Russell.
O processo de escolha do candidato transcorreu sem maiores problemas. No primeiro escrutínio, Oliver Russell teve setecentos votos: mais de duzentos dos seis Estados industriais do Nordeste, 150 dos seis Estados da Nova Inglaterra, quarenta de quatro Estados sulistas, mais 180 de dois Estados agrícolas, e o restante dos três Estados do Pacífico.
Peter Tager trabalhava frenético para que o trem da propaganda continuasse a rolar. No escrutínio final, Oliver Russel saiu como o vencedor. E com o excitamento da atmosfera de circo que fora criada com todo o cuidado, Oliver Russell acabou sendo aclamado como o candidato do partido.
O passo seguinte era escolher um vice-presidente. Melvin Wicks era uma escolha perfeita. Tratava-se de um californiano politicamente correto, um rico empresário e um congressista simpático.
- Eles vão se complementar - comentou Tager. - agora começa o trabalho de verdade. Vamos atrás do número mágico... duzentos e setenta.
Era o número de votos eleitorais necessários para conquistar a presidência. Tager disse a Oliver:
- As pessoas querem um líder jovem... Bem-apessoado um pouco de humor, dotado de visão... Querem que você lhes diga como são maravilhosas... e querem acreditar que são mesmo... Deixe-as saberem que você é inteligente, mas não demais... Se atacar seu adversário, mantenha a crítica num nível impessoal...
Nunca desdenhe um repórter. Trate todos como amigos, e serão seus amigos... Tente evitar qualquer demonstração de mesquinharia. Lembre-se... você é um estadista.
A campanha foi incessante. O jato do senador Davis levou Oliver ao Texas por três dias, Califórnia por um dia, Michigan por meio dia, Massachusetts por seis horas. Cada minuto era planejado. Havia dias em que Oliver visitava dez cidades diferentes e fazia dez discursos. Era um hotel diferente a cada noite, o Drake em Chicago, o St. Regis em Detroit, Carlyle na cidade de Nova York, o Place d'Armes em Nova Orleans, até que todos pareciam se fundir em um só. Aonde quer que Oliver fosse, havia carros da polícia abrindo o cortejo, enormes multidões e aclamações delirantes.
Jan acompanhava Oliver na maioria das viagens, e ele não pôde deixar de admitir que a esposa era um grande trunfo. Era uma mulher atraente e inteligente, contava com a simpatia dos repórteres. De vez em quando, Oliver lia sobre as últimas aquisições de Leslie: um jornal em Madri, uma emissora de televisão no México, uma emissora de rádio no Kansas. Sentia-se feliz pelo sucesso de Leslie, pois diminuía o sentimento de culpa pelo que lhe fizera.
Por toda parte, os jornalistas fotografavam, entrevistavam e noticiavam a presença de Oliver. Havia mais de cem correspondentes cobrindo sua campanha, alguns de países distantes. À medida que a campanha se aproximava do clímax, as pesquisas indicavam que Oliver Russell estava na frente. Mas, inesperadamente, seu adversário, o vice-presidente Cannon, começou a ultrapassá-lo. Peter Tager ficou preocupado.
- Cannon tem subido nas pesquisas. Precisamos detê-lo. Foram acertados dois debates na televisão entre o vice-presidente Cannon e Oliver.
- Cannon vai falar sobre a economia, e se sairá muito bem - disse Tager a Oliver. - Temos de enganá-lo. Meu plano é o seguinte...
Na noite do primeiro debate, na frente das câmeras de televisão, o vice-presidente Cannon falou sobre a economia do país.
- A América nunca teve uma situação econômica mais sólida. Os negócios florescem.
Ele passou os dez minutos seguintes discorrendo sobre o tema, provando seus argumentos com dados e cifras.
Na sua vez ao microfone, Oliver Russell disse:
- Foi bastante impressivo. Tenho certeza de que todos nos sentimos satisfeitos porque as grandes empresas vão muito bem, porque seus lucros nunca foram tão altos.
Ele virou-se para seu adversário.
- Mas esqueceu de mencionar que um dos motivos para que as grandes empresas estejam tão bem é o que se passou a chamar eufemisticamente de "enxugamento". Em termos objetivos, "enxugar" significa despedir pessoas para dar lugar a máquinas. Mais pessoas estão desempregadas hoje do que nunca antes. É o lado humano da situação que deveríamos estar avaliando. Acontece que não partilho sua opinião de que o sucesso financeiro das grandes empresas seja mais importante do que as pessoas...