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E assim por diante. Onde o vice-presidente Cannon falara sobre a economia, Oliver Russell assumiu uma posição humanitária e discorreu sobre emoções e oportunidade. Quando terminou, Russell conseguira fazer com que Cannon parecesse um político de sangue-frio, que não dava a menor importância ao povo americano.

Na manhã seguinte ao debate, as pesquisas indicaram uma nova mudança, com Oliver Russell a três pontos do vice-presidente. E havia ainda mais um debate nacional.

Arthur Cannon aprendera sua lição. No debate final, ele postou-se diante do microfone e disse:

- Nosso país é uma terra em que todos devem ter oportunidades iguais. A América tem sido abençoada com a liberdade, mas isso por si só não é suficiente. Nosso povo deve ter liberdade para trabalhar, para ganhar a vida de uma maneira decente...

Ele roubou o espetáculo de Oliver Russell ao se concentrar em todos os planos maravilhosos que tinha em mente para o bem-estar do povo. Mas Peter Tager previra essa manobra. Quando Cannon terminou, Oliver Russell foi ao microfone e declarou:

- Foi muito tocante. Tenho certeza de que todos ficaram comovidos com o que você disse sobre os problemas do desempregado... como o chamou, o "homem esquecido". O que me preocupa é que esqueceu de dizer como vai fazer todas essas coisas maravilhosas por essa gente.

E daí por diante, onde o vice-presidente Cannon tratara de emoções, Oliver Russell discorreu sobre os problemas e seus planos econômicos, deixando o vice-presidente inteiramente desamparado.

Oliver, Jan e o senador Davis estavam jantando na mansão do senador, em Georgetown. O senador sorriu para Jan.

- Acabei de ser informado sobre as últimas pesquisas. Acho que você pode iniciar os planos para redecorar a Casa Branca.

O rosto de Jan se iluminou.

- Acha mesmo que vamos ganhar, papai?

- Tenho me enganado numa porção de coisas, meu bem, mas nunca sobre política. Afinal, a política é o sangue da minha vida. Em novembro teremos um novo presidente... e ele está sentado ao seu lado.

- Apertem os cintos, por favor.

Lá vamos nós!, pensou Dana, excitada. Ela olhou para Benn Albertson e Wally Newman. Benn Albertson, o produtor de Dana, era barbudo e hiperativo, na casa dos quarenta anos. Produzira alguns dos programas jornalísticos de maior índice de audiência da televisão e era muito respeitado. Wally Newman, o câmera, tinha cinqüenta e poucos anos. Era talentoso e entusiasmado, aguardava ansioso a nova missão.

Dana pensou na aventura à sua frente. Pousariam em Paris, depois voariam para Zagreb, Croácia, e de lá seguiriam para Sarajevo.

Durante sua última semana em Washington, Dana recebeu as instruções de Shelley McGuire, a editora internacionaclass="underline"

- Você vai precisar de um caminhão em Sarajevo para transmitir as reportagens via satélite. Não possuímos nenhum ali, por isso alugaremos o caminhão e compraremos tempo da companhia iugoslava que possui o satélite.

Se tudo correr bem, enviaremos nosso próprio caminhão mais tarde. Você vai operar em dois níveis diferentes. Alguns fatos terão cobertura ao vivo, mas a maior parte será gravada. Benn Albertson lhe dirá o que quer, você vai fazer as imagens e depois acrescentar o som num estúdio local. Estou lhe dando o melhor produtor e o melhor câmera. Não deve ter qualquer problema. Dana haveria de se lembrar mais tarde dessas palavras otimistas.

Matt Baker telefonou para Dana no dia anterior à sua partida.

- Venha até minha sala. - O tom era ríspido.

- Já estou indo.

Dana desligou com um sentimento de apreensão. Ele mudou de idéia sobre a aprovação da minha transferência, não vai mais me deixar partir. Como pode fazer isso comigo? Ela respirou fundo, determinada. Mas vou lutar até o fim!

Dez minutos depois, Dana entrou na sala de Matt Baker.

- Sei o que vai dizer - começou ela -, mas não vai adiantar. Irei de qualquer maneira! Tenho sonhado com isso desde que era pequena. Acho que posso fazer alguma coisa boa por lá. E você tem de me dar a chance de tentar. - Ela respirou fundo e acrescentou, em tom de desafio:

- Muito bem, o que queria me dizer?

Matt Baker fitou-a nos olhos e murmurou:

- Bon voyage.

Dana piscou, aturdida.

- Como?

- Bon voyage. Significa "boa viagem".

- Sei o que significa. Eu... não me chamou para...

- Chamei-a porque andei conversando com alguns correspondentes estrangeiros. Eles me deram conselhos para transmitir a você.

Aquele homem enorme e rude se dera ao tempo e trabalho de conversar com alguns correspondentes estrangeiros, a fim de poder ajudá-la!

- Eu... eu não sei como...

- Pois então não diga. Está a caminho de uma guerra violenta. Não há qualquer garantia de que poderá se proteger cem por cento, porque as balas não se importam nem um pouco com quem matam. Mas quando se fica no meio da ação, a adrenalina começa a fluir. Pode deixá-la temerária, levá-la a cometer atos estúpidos, que não faria em circunstâncias normais. Tem de controlar isso. Sempre trabalhe com uma margem de segurança. Não ande pelas ruas sozinha. Nenhuma notícia vale a sua vida. Outra coisa...

A preleção se prolongou por quase uma hora. Ao final Matt Baker disse:

- Isso é tudo. Cuide-se bem. Se deixar que alguma coisa aconteça com você, ficarei furioso.

Dana inclinou-se e beijou-o no rosto.

- Nunca mais faça isso! - Ele se levantou.

- A situação será terrível por lá, Dana. Se mudar de idéia quando chegar e quiser voltar para casa, basta me avisar e providenciarei tudo.

- Não mudarei de idéia - garantiu Dana, confiante.

Mas ela estava enganada.

O vôo para Paris transcorreu sem incidentes. Desembarcaram no aeroporto Charles de Gaulle, e os três pegaram um microônibus para a Croatia Airlines. Havia um atraso de três horas.

Às dez horas daquela noite, o avião da Croatia Airlines pousou no aeroporto de Butmir, em Sarajevo. Os passageiros foram conduzidos a um prédio da segurança, onde passaportes foram verificados por guardas uniformizados.

Quando Dana se encaminhava para a porta, um homem baixo de aparência desagradável, à paisana, adiantou-se para bloquear sua passagem.

- Passaporte.

- Já mostrei...

- Sou o coronel Gordan Divjak. Seu passaporte.

Dana entregou seu passaporte, junto com as credenciais da imprensa. Ele examinou.

- Jornalista, hem? - Ele fitou-a nos olhos.

- De que lado você está?

- Não estou de lado nenhum - respondeu Dana, calmamente.

- Tome cuidado com o que noticiar - advertiu o coronel Divjak. - Não tratamos a espionagem com brandura.

Seja bem-vinda a Sarajevo.

Um Land Rover à prova de balas os esperava no aeroporto. O motorista, de pele trigueira, tinha vinte e poucos anos.

- Sou Jovan Tolj, para servi-los. Serei o motorista de vocês em Sarajevo.

Jovan guiava depressa, virando as esquinas e acelerando pelas ruas desertas como se estivessem sendo perseguidos.

- Com licença - disse Dana, nervosa -, mas há necessidade de tanta pressa?

- Há, sim, se quiserem continuar vivos.

- Mas...

À distância, Dana ouviu o som de uma trovoada, dando a impressão de que se aproximava.

Só que não era trovoada o que ela ouvia.

No escuro, Dana podia divisar prédios com as fachadas semidestruídas, apartamentos sem janelas, lojas sem vitrines. À frente, divisou o Holiday Inn, onde ficariam hospedados. A fachada do hotel estava toda marcada por buracos. Havia uma cratera no chão. O carro passou por cima a toda velocidade.

- Espere! - gritou Dana.

- Este é o nosso hotel! Para onde vai?

- A entrada da frente é muito perigosa. - Jovan virou

a esquina e disparou por uma viela. - Todos usam a entrada dos fundos.

Dana sentiu a boca subitamente seca.

- Ah...

O saguão do Holiday Inn estava cheio de pessoas conversando. Um jovem e atraente francês aproximou-se de Dana.