- Quem começou? - indagou ela.
O professor sacudiu a cabeça.
- Depende de a quem se pergunta. Durante a Segunda Guerra Mundial, centenas de milhares de sérvios, que estavam do lado dos Aliados, foram massacrados pelos croatas, que estavam do lado dos nazistas. Agora, os sérvios cometem sua sangrenta vingança. Mantêm o país como refém e são implacáveis. Mais de duzentas mil granadas caíram só em Sarajevo. Pelo menos dez mil pessoas foram mortas e mais de sessenta mil ficaram feridas. Os bósnios e muçulmanos devem arcar com a responsabilidade por sua parte nas torturas e mortes. Os que não querem a guerra são forçados a entrar nela. Ninguém pode confiar em ninguém. A única coisa que restou a todos é o ódio. O que temos é uma conflagração que alimenta a si mesma, enquanto os incêndios são alimentados pelos corpos dos inocentes.
Quando Dana voltou ao hotel, naquela tarde, Benn Albertson a esperava para informar que recebera uma mensagem de que um caminhão e hora de satélite estariam disponíveis no dia seguinte, às seis horas da tarde.
- Encontrei o lugar ideal para filmarmos - anunciou Wally Newman.
- Há uma praça com uma igreja católica, uma mesquita, uma igreja protestante e uma sinagoga, a menos de um quarteirão umas das outras. Todas foram bombardeadas. Pode escrever um texto sobre ódio em oportunidades iguais, o que fez com as pessoas que vivem aqui, que não querem saber da guerra, são obrigadas a participar.
Dana acenou com a cabeça, excitada.
- Excelente! Falarei com vocês no jantar. Vou trabalhar agora.
Ela foi para seu quarto.
Às seis horas da tarde seguinte, Dana, Wally e Benn se reuniram na praça em que estavam localizadas as igrejas bombardeadas. A câmera de televisão de Wally foi montada num tripé, e Benn esperava pela confirmação de Washington de que o sinal de satélite era bom. Dana podia ouvir os disparos de atiradores de tocaia ao fundo.
Sentiu uma súbita satisfação por estar usando o colete à prova de balas. Não há por que ter medo. Eles não estão atirando em nós, mas sim uns contra os outros. Precisam de nós para contar sua história ao mundo.
Dana viu o sinal de Wally. Respirou fundo, olhou para lente da câmera e começou:
- As igrejas que vocês vêem atrás de mim são um símbolo do que está acontecendo neste país. Não há mais muros por trás dos quais as pessoas possam se esconder, nenhum lugar que seja seguro. Nos tempos antigos, as pessoas podiam encontrar um santuário em suas igrejas. Mas aqui, passado, o presente e o futuro se fundiram para...
Foi nesse instante que ela ouviu um assovio estridente se aproximando, levantou os olhos e viu a cabeça de Wally explodir num melão vermelho. É um jogo de luz, foi o primeiro pensamento de Dana. E depois, transtornada, ela observou o corpo de Wally bater no chão. Ficou imóvel, gelada, incapaz de acreditar. As pessoas ao seu redor gritavam.
O som do fogo rápido dos atiradores de tocaia chegou mais perto e Dana começou a tremer, numa reação incontrolável. Mãos a agarraram, arrastaram pela rua. Ela se debateu, tentando se desvencilhar.
Não! Temos de voltar. Não aproveitamos os nossos dez minutos... Não posso desperdiçar não quero... era errado desperdiçar coisas. Acabe sua sopa, querida. As crianças na China estão morrendo de fome. "Acha que existe alguma espécie de Deus lá em cima, sentado numa nuvem branca? Pois vou lhe dizer uma coisa. Não passa de um impostor. Um Deus de verdade nunca deixaria a cabeça de Wally ser explodida, mas nunca mesmo. Wally esperava por seu primeiro neto. Está me escutando? Está? Está? Ela se encontrava em estado de choque, sem perceber que era levada por uma rua transversal para o carro.
Ao abrir os olhos, Dana descobriu que estava na cama. Benn Albertson e Jean Paul Hubert se encontravam de pé ao lado. Ela fitou-os.
- Aconteceu mesmo, não é?
- Sinto muito - murmurou Jean Paul.
- Foi uma coisa horrível. Você teve sorte de não ser atingida.
O telefone rompeu o silêncio no quarto. Benn atendeu.
- Alô? -Ele escutou por um momento.
-Claro. Espere um instante.
Benn pôs a mão sobre o fone e olhou para Dana.
- É Matt Baker. Pode falar com ele?
- Posso. - Dana sentou-se na cama. Depois de um momento, levantou-se e foi até o telefone.
- Alô?
Tinha a garganta seca, era difícil falar. A voz de Matt Baker trovejou pelo telefone:
- Quero que volte para casa, Dana.
A voz dela saiu como um sussurro:
- Quero voltar.
- Providenciarei para que embarque no primeiro avião que sair daí.
- Obrigada.
Dana largou o telefone. Jean Paul e Benn ajudaram-na a voltar para a cama.
- Sinto muito - repetiu Jean Paul.
- Não há... não há nada que alguém possa dizer.
Lágrimas escorriam pelas faces de Dana.
- Por que o mataram? Ele nunca fez mal a ninguém. O que está acontecendo? Pessoas são massacradas como animais e ninguém se importa. Ninguém se importa!
Benn murmurou:
- Dana, não há nada que possamos fazer sobre...
- Tem de haver. - A voz de Dana tremia de fúria - Temos de fazer com que se importem. Esta guerra não é sobre bombardear igrejas, casas e ruas. É sobre pessoas... pessoas inocentes... tendo suas cabeças explodida. São essas as histórias que deveríamos estar transmitindo. É a única maneira de fazer com que esta guerra se torne real.
Ela virou-se para Benn, respirou fundo.
- Vou ficar, Benn. Não permitirei que me afugentem.
Ele a observava com uma expressão preocupada.
- Dana, tem certeza...?
- Tenho, sim. Sei o que tenho de fazer agora. Pode telefonar para Matt e avisá-lo?
- Se é isso o que você realmente quer... - murmurou ele, indeciso.
Dana acenou com a cabeça.
- É o que realmente quero.
Ela observou Benn deixar o quarto. Jean Paul disse:
- É melhor eu sair também e deixá-la...
- Não !
Por um instante, a mente de Dana foi povoada pela visão da cabeça de Wally explodindo, o corpo caindo.
- Não - repetiu ela, olhando para Jean Paul.
- Fique, por favor. Preciso de você.
Jean Paul sentou-se na cama. E Dana abraçou-o, apertou-o contra seu corpo.
Na manhã seguinte, Dana disse a Benn Albertson:
- Pode arrumar um câmera? Jean Paul me falou sobre um orfanato em Kosovo que acaba de ser bombardeado. Quero ir até lá e fazer a cobertura.
- Conseguirei alguém.
- Obrigada, Benn. Irei na frente e nos encontraremos lá.
- Tome cuidado.
- Não se preocupe.
Jovan esperava por Dana na viela.
- Vamos para Kosovo - comunicou ela.
Jovan virou-se para fitá-la.
- É uma área perigosa, madame. A única estrada passa pelo bosque e...
- Já tivemos a nossa cota de azar, Jovan. Nada mais vai nos acontecer.
- Como quiser.
Atravessaram a cidade em alta velocidade e, quinze minutos depois, percorriam uma região de bosque cerrado.
- Quanto falta? - perguntou Dana.
- Não muito. Deveremos chegar...
E foi nesse momento que o Land Rover bateu numa mina.
À medida que se aproximava o dia da eleição, a disputa presidencial tornou-se mais acirrada.
- Temos de vencer em Ohio - declarou Peter Tager.
- São vinte e um votos eleitorais. Estamos bem no Alabama que são nove votos, e também temos a Flórida, com vinte cinco votos.
Ele pegou uma lista e estudou-a.
- Illinois, vinte e dois votos... Nova York, trinta e três e Califórnia, quarenta e quatro. Ainda é muito cedo para ter certeza.
Todos se mostravam preocupados, menos o senador Davis.
- Tenho um faro para essas coisas - garantia ele. E posso sentir o cheiro da vitória.
No hospital, em Frankfort, Miriam Friedland continua em coma.
No dia da eleição, a primeira terça-feira de novembro, Leslie ficou em casa para acompanhar a apuração pela televisão. Oliver Russell venceu por mais de dois milhões de votos populares e uma grande maioria dos votos eleitorais. Oliver Russell era agora o presidente dos Estados Unidos, o maior alvo do mundo.