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Ninguém seguira a campanha eleitoral mais atentamente do que Leslie Stewart Chambers. Estivera ocupada a expandir seu império e adquirira uma rede de jornais e emissoras de televisão e rádio por todos os Estados Unidos, assim como na Inglaterra, Austrália e Brasil.

- Quando teremos o suficiente? - perguntou seu editor-chefe, Darin Solana.

- Em breve - respondeu Leslie. - Muito em breve.

Havia mais um passo que ela precisava dar, e a última peça finalmente se ajustou no lugar num jantar em Scottsdale. Um convidado comentou:

- Eu soube confidencialmente que Margaret Portman vai se divorciar.

Margaret Portman era a proprietária do Washington Tribune, na capital da nação.

Leslie não fez qualquer comentário, mas no início da manhã seguinte telefonou para Chad Morton, um dos seus advogados.

- Quero que descubra se o Washington Tribune está á venda.

A resposta veio mais tarde, naquele mesmo dia:

- Não sei como descobriu, sra. Chambers, mas parece que é isso mesmo. A sra. Portman e o marido estão se divorciando com a maior discrição e dividindo o patrimônio. Acho que o Washington Tribune Enterprises está à venda.

- Quero comprar.

- Está falando de um meganegócio. O Washington Tribune Enterprises possui uma rede de jornais, uma revista, uma rede de televisão e...

- Quero tudo.

Naquela tarde, Leslie e Chad Morton voaram para Washington, D.C. Leslie telefonou para Margaret Portman, a quem conhecera casualmente poucos anos antes.

- Estou em Washington e...

- Eu já sabia.

As notícias circulam depressa, pensou Leslie.

- Soube que talvez esteja interessada em vender o Tribune Enterprises.

- É possível.

- Poderia arrumar uma visita minha ao jornal?

- Está interessada em comprar, Leslie?

- É possível.

Margaret Portman mandou chamar Matt Baker.

- Sabe quem é Leslie Chambers?

- Claro. A Princesa de Gelo.

- Ela estará aqui dentro de poucos minutos. Gostaria que a levasse numa excursão por nossas instalações.

Todos no Tribune estavam a par da venda iminente.

- Seria um erro vender o Tribune a Leslie Chambers - comentou Matt Baker, incisivo.

- O que o leva a dizer isso?

- Em primeiro lugar, duvido que ela saiba alguma coisa sobre o mercado jornalístico. Viu o que ela fez com os outros jornais que comprou? Transformou jornais respeitáveis em tablóides vulgares. Ela vai destruir o Tribune e...

Ele virou a cabeça. Leslie Chambers estava parada na porta, escutando. Margaret Portman apressou-se em falar:

- Leslie! Que prazer tornar a vê-la! Este é Matt Baker, editor-chefe do Tribune Enterprises.

Houve uma troca de cumprimentos frios.

- Matt vai lhe mostrar nossas instalações.

- Estou ansiosa em conhecer tudo.

Matt Baker respirou fundo.

- Certo. Vamos começar.

Logo no início da visita Matt Baker disse, em tom condescendente:

- A estrutura é simples. No topo fica o editor-chefe...

- Que é o senhor.

- Isso mesmo. E por baixo de mim ficam o editor-executivo e todas as editorias, a Metropolitana, Nacional, Internacional, Esportes, Economia, Vida e Moda, Agenda, Literária, Imobiliária, turismo, Gastronomia...

Provavelmente deixei algumas de fora.

- Espantoso. Quantos empregados o Washington Tribune Enterprises tem, sr. Baker?

- Mais de cinco mil.

Passaram pelo copydesk.

- É para cá que o editor de notícias traz as matérias. É ele quem decide onde as fotos vão entrar, que notícias vão sair em que página. O pessoal do copydesk escreve os títulos, edita as reportagens e junta tudo na seção de composição.

- Fascinante.

- Está interessada em conhecer a gráfica?

- Claro. Gostaria de ver tudo.

Matt Baker resmungou alguma coisa.

- Como?

- Eu disse que terei o maior prazer.

Desceram pelo elevador e foram para o prédio seguinte. O parque gráfico tinha quatro andares de altura e era do tamanho de quatro campos de futebol americano. Tudo no vasto espaço era automatizado. Havia trinta carrinhos robotizados, carregando as enormes bobinas de papel, que deixavam em posições determinadas. Baker explicou:

- Cada bobina pesa mais de uma tonelada. Se desenrolasse uma, teria oito quilômetros de comprimento. O papel entra nas rotativas a uma velocidade de trinta e quatro quilômetros horários. Alguns dos carros maiores podem carregar dezesseis bobinas ao mesmo tempo.

Havia seis rotativas, três em cada lado. Leslie e Matt Baker ficaram parados ali, observando os jornais serem automaticamente montados, cortados, dobrados, reunidos em fardos e levados para os caminhões à espera.

- No passado, precisávamos de cerca de trinta homens para fazer o que um só pode realizar hoje - comentou Matt Baker.

- A era da tecnologia.

Leslie fitou-o em silêncio por um momento.

- A era do enxugamento.

- Está interessada na economia da operação? - indagou Matt Baker, secamente.

- Talvez prefira que seu advogado ou contador...

- Estou muito interessada, sr. Baker. Seu orçamento editorial é de quinze milhões de dólares. Sua circulação diária é de 816.474 exemplares, com 1.140.498 aos domingos. A previsão de publicidade é de sessenta e oito vírgula dois.

Matt piscou, aturdido.

- Com todos os jornais da rede, sua circulação diária é de mais de dois milhões de exemplares, com dois milhões e quatrocentos mil aos domingos. Claro que não é o maior jornal do mundo, não é mesmo, sr. Baker? Os dois maiores jornais do mundo são publicados em Londres. O Sun é o maior, com uma circulação diária de quatro milhões de exemplares. O Daily Mirror vende mais de três milhões de exemplares.

Ele respirou fundo.

- Desculpe. Eu não sabia...

- No Japão, há mais de duzentos jornais diários, inclusive o Asahi Shimbun, Mainchi Shinbun e Yomiuri Shimbu. Está me acompanhando?

- Claro. Peço desculpas se pareci condescendente.

- Desculpas aceitas, sr. Baker. Vamos voltar à sala e a sra.

Portman.

Na manhã seguinte, Leslie estava numa sala de reunião no Washington Tribune, diante da sra. Portman e de meia dúzia de advogados.

- Vamos falar sobre o preço - propôs Leslie.

A discussão prolongou-se por quatro horas. Ao final, Leslie Stewart Chambers era a proprietária do Washington Tribune Enterprises.

Saíra mais caro do que Leslie previra. Mas não importava. Havia outra coisa que era muito mais importante.

No dia em que o negócio foi fechado, Leslie mandou chamar Matt Baker para uma reunião.

- Quais são os seus planos? - indagou ela.

- Vou embora.

Ela se mostrou curiosa.

- Por quê?

- Tem uma reputação e tanto. As pessoas não gostam de trabalhar para você. Acho que a palavra que mais usam é "implacável". Não preciso disso. Este é um bom jornal, e detesto deixá-lo, mas tenho mais ofertas de emprego do que posso aceitar.

- Há quanto tempo trabalha aqui?

- Quinze anos.

- E vai jogar tudo isso fora?

- Não estou jogando fora, mas apenas...

Leslie fitou-o nos olhos.

- Preste atenção. Também acho que o Tribune é um bom jornal, mas quero que seja um grande jornal. E quero que você me ajude.

- Não. Eu não...

- Seis meses. Tente por seis meses. Começaremos por dobrar seu salário.

Matt Baker estudou-a por um longo momento. Jovem, bonita e inteligente. E, no entanto... Ele sentia alguma apreensão em relação a Leslie Chambers.

- Quem ficará no comando?

Ela sorriu.

- Você é o editor-chefe do Washington Tribune Enterprises. Continuará a ser.

E Matt Baker acreditou.

Seis meses haviam transcorrido desde que uma mina explodira sob o Land Rover de Dana. Ela escapara sem nada pior que uma contusão, uma costela fraturada, um pulso quebrado e equimoses dolorosas. Jovan quebrara a perna e sofrera cortes e contusões generalizados. Matt Baker telefonara para Dana naquela noite e lhe ordenara que voltasse para Washington, mas o incidente a deixara ainda mais determinada do que antes a ficar.