Ela soubera que até pouco tempo atrás Oliver vinha saindo com a filha de um senador. E se perguntava o que teria acontecido. Mas isso também não é da minha conta.
Não havia como evitar o fato de que a campanha de Oliver não ia nada bem. Sem dinheiro para pagar sua equipe e sem propaganda na televisão, rádio ou jornais, era impossível competir com o governador Cary Addison, cuja imagem parecia estar em toda parte. Leslie deu um jeito para que Oliver aparecesse em piqueniques de empresas, em fábricas e em uma dúzia de eventos sociais, mas sabia que essas participações eram todas de menor importância, o que a deixava frustrada.
- Tem visto as últimas pesquisas? - perguntou Jim Bailey a Leslie.
- Seu candidato vai entrar pelo cano.
Não, se eu puder evitar, pensou Leslie.
Leslie e Oliver estavam jantando no Cheznous.
- Não estamos indo muito bem, não é mesmo? - perguntou Oliver, a voz calma.
- Ainda há tempo suficiente - respondeu Leslie, tranqüilizadora.
- Quando os eleitores passarem a conhecê-lo melhor ...
Oliver sacudiu a cabeça.
- Também leio as pesquisas. Quero que você saiba que aprecio tudo o que tentou fazer por mim, Leslie. Tem sido sensacional.
Ela ficou imóvel na cadeira, observando-o do outro lado da mesa, e pensou: Ele é o homem mais maravilhoso que já conheci, e não posso ajudá-lo. Leslie sentiu vontade de tomá-lo nos braços, aconchegá-lo e consolá-lo. Consolá-lo? A quem estou querendo enganar?
Quando se levantavam para ir embora, um homem, uma mulher e duas meninas pequenas se aproximaram da mesa.
- Oliver! Como tem passado?
O homem estava na casa dos quarenta anos, era atraente, com uma venda preta sobre um olho que lhe proporcionava a aparência de um pirata afável.
Oliver levantou-se e estendeu a mão.
- Olá, Peter. Eu gostaria de apresentá-lo a Leslie Stewart. Peter Tager.
- Olá, Leslie. - Tager acenou com a cabeça para a sua família. - Esta é minha esposa, Betsy, e estas são Elizabeth e Rebecca. - Havia um enorme orgulho em sua voz.
Ele tornou a se virar para Oliver.
- Lamento muito o que aconteceu. Foi uma pena. Detestei fazer aquilo, mas não tive opção.
- Eu compreendo, Peter.
- Se houvesse alguma coisa que eu pudesse ter feito...
- Não tem importância. Estou bem.
- Você sabe que eu lhe desejo toda a sorte do mundo. Voltando para casa, Leslie perguntou:
- O que significava aquela conversa?
Oliver deu a impressão de que ia contar alguma coisa, mas mudou de idéia.
- Não é importante.
Leslie morava num apartamento de quarto e sala no bairro de Brandywine, em Lexington. Ao se aproximarem do prédio, Oliver disse, hesitante:
- Leslie, sei que sua agência está cuidando da minha conta quase de graça, mas, francamente, acho que você está desperdiçando seu tempo. Poderia ser melhor se eu desistisse agora.
- Nada disso! -exclamou Leslie, com uma intensidade na voz que a surpreendeu.
- Não pode desistir. Encontraremos um meio de superar todas as dificuldades.
Oliver virou a cabeça para fitá-la.
- Você realmente se importa, não é? Estou percebendo algo mais nessa pergunta?
- Claro que sim - murmurou ela.
- Realmente me importo.
Ao chegarem ao apartamento, Leslie respirou fundo, antes de indagar:
- Não quer entrar?
Ele fitou-a em silêncio por um longo momento.
- Quero.
Depois, ela não saberia dizer quem fez o primeiro movimento. O que podia lembrar era de os dois se despindo, de cair nos braços de Oliver, da pressa desenfreada e primitiva com que fizeram amor. Depois, houve uma fusão lenta e tranqüila, num ritmo intemporal e extasiado.
Foi a sensação mais maravilhosa que Leslie já experimentara.
Passaram a noite inteira juntos, e foi um momento mágico. Oliver era insaciável, dando e exigindo ao mesmo tempo, e parecia querer continuar para sempre. Era um animal. E Leslie pensou: Oh, Deus, eu também sou!
Pela manhã, enquanto comiam um desjejum com suco de laranja, ovos mexidos, torradas e bacon, Leslie disse:
- Vai haver um piquenique no lago Green River na sexta-feira, Oliver. Com muitas pessoas presentes. Agendarei um discurso para você. Compraremos tempo de rádio para que todos saibam que você estará lá. E depois...
- Leslie, não temos dinheiro para isso.
- Ora, não se preocupe - respondeu ela, despreocupada.
- A agência pagará.
Leslie sabia que não havia nem a mais remota chance de a agência pagar. Tencionava fazer aquilo com seu próprio dinheiro. Diria a Jim Bailey que o dinheiro fora doado por um partidário de Russell. E seria a verdade. Farei qualquer coisa no mundo para ajudá-lo, pensou ela.
Havia duzentas pessoas no piquenique no lago Green River, e Oliver fez um discurso brilhante para a multidão.
- Metade das pessoas neste país não vota. Temos o mais baixo registro eleitoral entre todos os países industrializados do mundo... menos de cinqüenta por cento. Se vocês querem que as coisas mudem, têm a responsabilidade de fazer com que mudem. É mais do que uma responsabilidade, é um privilégio. Há uma eleição iminente. Quer votem em mim ou em meu adversário, votem. Vocês têm de participar.
Ele foi aplaudido com entusiasmo.
Leslie providenciou para que Oliver comparecesse a tantos eventos quanto possível. Ele presidiu à inauguração de uma clínica infantil, à abertura de uma ponte, conversou com grupos femininos, representantes sindicais, falou em festas beneficentes, em asilos para idosos. Apesar de tudo, continuava a cair nas pesquisas. Sempre que não estava em campanha, Oliver encontrava algum tempo para passar com Leslie. Passearam de charrete pelo Triangle Park, circularam numa tarde de sábado pelo Antique Market, jantaram no À la Lucie. Oliver deu flores a Leslie no Dia da Marmota e no aniversário da Batalha de Bull Run, e deixava mensagens afetuosa: para ela na secretária eletrônica:
“Querida, onde você está? Sinto saudade, muita saudade.” "Estou perdidamente apaixonado por sua secretária eletrônica. Tem alguma idéia do quanto ela parece sensual?"
"Acho que deve ser ilegal alguém se sentir tão feliz. Eu amo você."
Não importava para Leslie aonde ia com Oliver: queria apenas estar com ele.
Uma das coisas mais excitantes que fizeram foi descer de balsa as corredeiras do rio Russell Fork, num domingo. E a viagem começou de maneira inocente, tranqüila, até que o rio começou a se agitar, na base das montanhas, dando uma volta imensa, com uma sucessão de quedas verticais, ensurdecedoras, vertiginosas, iniciando as corredeiras: um metro e meio, dois metros, três... tudo assustador, a balsa dando impressão de que ia se desmanchar. A viagem demorou três horas e meia. Ao saírem da balsa, Leslie e Oliver estavam encharcados e contentes por continuarem vivos. Não conseguiam afastar as mãos um do outro. Fizeram amor em sua cabana na pousada, no banco traseiro do carro de Oliver, no bosque.
Uma noite, no início do outono, Oliver preparou o jantar em sua encantadora casa em Versailles, uma cidadezinha perto de Lexington. Ele serviu bifes grelhados, marinados em molho de soja, alho e ervas, com batatas cozidas, salada e um vinho tinto perfeito.
- Você é um cozinheiro maravilhoso. - Leslie aconchegou-se a ele. - Na verdade, é maravilhoso em tudo, querido.
- Obrigado, meu amor. - Ele se lembrou de uma coisa.
- Tenho uma pequena surpresa para você. Quero que experimente.
Ele foi até o quarto. Voltou um momento depois com um vidro pequeno, que continha um líquido transparente.
- Aqui está.
- O que é isso?
- Já ouviu falar de ecstasy?
- Se ouvi falar? É o que estou vivendo!
- Eu me refiro à droga ecstasy. Isto é ecstasy líquido. Dizem que é um tremendo afrodisíaco.