O senador Davis estava ao telefone.
- Oliver, gostaria de vê-lo dentro de uma hora.
Oliver esperava na pequena biblioteca quando Todd Davis chegou. Levantou-se para cumprimentá-lo.
- Bom dia.
- Não tem nada de bom dia! - A voz do senador Davis transbordava de fúria.
- Aquela mulher vai nos destruir.
- Não vai, não. Ela apenas...
- Todo mundo lê aquele pasquim infame, e as pessoas acreditam no que lêem.
- Todd, isso vai passar e...
- Não vai mesmo. Ouviu o editorial na WTE esta manhã? Era sobre quem será nosso próximo presidente. Você estava no final da lista. Leslie Stewart quer acabar com você.
Precisa detê-la. Como é mesmo aquela frase... o inferno não conhece maior fúria...?
- Há outro adágio, Todd, sobre liberdade de imprensa. Não há nada que possamos fazer.
O senador Davis fitou Oliver com uma expressão especulativa.
- Há, sim.
- O quê?
- Vamos sentar. - Os dois sentaram.
- É evidente que a mulher continua apaixonada por você, Oliver. E essa é a maneira de puni-lo pelo que fez com ela. Nunca discuta com alguém que compra tinta a tonelada. Meu conselho é fazer as pazes.
- Mas como posso conseguir isso?
O senador Davis olhou para a virilha de Oliver.
- Use a cabeça.
- Ei, espere um pouco, Todd! Está sugerindo...?
- O que estou sugerindo é que você deve dar um jeito de esfriá-la. De fazê-la saber que se arrepende. Estou lhe dizendo que ela ainda o ama. Se não amasse, não estaria fazendo isso.
- O que exatamente espera que eu faça?
- Trate de seduzi-la, meu rapaz. Já fez isso uma vez, pode fazer de novo. Tem de conquistá-la. Haverá um jantar aqui do Departamento de Estado na sexta-feira. Convide-a. Deve persuadi-la a suspender a campanha contra você.
- Não sei como posso...
- Não me importa como vai fazer. Talvez possa levá-la a algum lugar, onde teriam uma conversa tranqüila. Tenho uma casa de campo na Virgínia. É muito particular.
- Passarei o fim de semana na Flórida, e já providenciei para Jan me acompanhar.
Ele tirou do bolso um papel e algumas chaves e entregou a Oliver.
- Aqui estão as instruções para chegar lá e as chaves da casa.
Oliver estava espantado.
- Quer dizer que tinha planejado tudo isso? Mas o que acontece se Leslie não... se ela não estiver interessada? Ela se recusar a ir?
O senador Davis levantou-se.
- Ela está interessada. E irá. Tornaremos a nos falar na segunda-feira, Oliver. Boa sorte.
Oliver continuou sentado ali por um longo tempo. pensou: Não. Não posso fazer isso com ela de novo. E não farei.
Naquela noite, ao se vestirem para o jantar, Jan disse:
- Oliver, papai me pediu para ir à Flórida com ele no fim de semana. Vai receber algum prêmio, e acho que quer exibir a esposa do presidente. Você se importaria muito que eu fosse? Sei que há um jantar do Departamento de Estado aqui na sexta-feira, e se quiser que eu fique...
- Não, não. Pode ir. Sentirei saudade.
E vou sentir mesmo, pensou ele. Assim que resolver esse problema com Leslie, começarei a passar mais tempo com Jan.
Leslie Stewart falava ao telefone quando sua secretária entrou apressada na sala.
- Srta. Stewart...
- Não vê que estou...
- O presidente Russell está na linha três.
Leslie fitou-a em silêncio por um momento, depois sorriu.
- Certo. - Ela acrescentou ao telefone: - Ligarei de volta
para você mais tarde.
Ela apertou o botão três no painel.
- Alô?
- Leslie?
- Olá, Oliver. Ou devo chamá-lo de sr. presidente?
- Pode me chamar de qualquer coisa que quiser. Acrescentou, joviaclass="underline"
- E puder.
Houve um momento de silêncio.
- Leslie, preciso conversar com você.
- Tem certeza de que é uma boa idéia?
- Tenho, sim.
- Você é o presidente. Não posso lhe dizer não, não é mesmo?
- Não se for uma americana patriota. Há um jantar do Departamento de Estado na Casa Branca na sexta-feira.
Venha, por favor.
- A que horas?
- Oito horas.
- Certo. Estarei aí.
Ela estava deslumbrante num vestido St. John de tricô preto, justo no corpo, gola ao estilo mandarim, preso na frente por botões cobertos por uma camada de ouro de 22 quilates. Havia uma abertura reveladora de 35 centímetros no lado do vestido. No instante em que Oliver a viu, as lembranças afloraram.
- Leslie...
- Sr. presidente.
Ele pegou a mão de Leslie e sentiu-a úmida. Era um sinal, pensou Oliver. Mas do quê? Nervosismo? Raiva? Antigas recordações?
- Estou contente que tenha vindo, Leslie.
- Eu também.
- Conversaremos mais tarde.
O sorriso de Leslie deixou-o bastante animado.
- Combinado.
A duas mesas do lugar que Oliver ocupava havia um grupo de diplomatas árabes. Um deles, um homem trigueiro, com feições fortes e olhos escuros, parecia observar Oliver atentamente. Oliver inclinou-se para Peter Tager e acenou com a cabeça na direção do árabe.
- Quem é aquele?
Tager deu uma olhada rápida.
- Ali Al-Fulani. É o secretário de um dos Emirados Árabes Unidos. Por que pergunta?
- Não há nenhum motivo.
Oliver tornou a olhar. Os olhos do homem continuavam focalizados nele.
Oliver passou a noite circulando, deixando os convidados a vontade. Sylvia se encontrava em uma mesa, Leslie em outra. Foi só quando a noite estava quase terminando que Oliver conseguiu falar a sós com Leslie.
- Precisamos conversar. Tenho muita coisa a lhe contar. Podemos nos encontrar em algum lugar?
Havia uma tênue hesitação na voz de Leslie:
- Oliver, talvez seja melhor se nós não...
- Tenho uma casa em Manassas, Virgínia, a cerca de um hora de carro de Washington. Quer se encontrar comigo lá?
Ela fitou-o nos olhos, e desta vez não havia hesitação em sua voz quando respondeu:
- Se você quiser.
Oliver descreveu a localização da casa.
- Amanhã de noite, às oito horas?
A voz de Leslie saiu agora um pouco rouca:
- Estarei lá.
Numa reunião do Conselho de Segurança Nacional, na manhã seguinte, o diretor da CIA, James Frisch, lançou uma bomba:
- Sr. presidente, recebemos esta manhã a informação de que a Líbia está comprando uma variedade de armas atômicas do Irã e da China. Há um rumor insistente de que serão usadas para atacar Israel. Levaremos um dia ou dois para ter uma confirmação.
Lou Werner, o secretário de Estado, declarou:
- Acho que não devemos esperar. Vamos protestar agora, nos termos mais veementes possíveis.
Oliver disse a Werner:
- Veja que informações adicionais pode conseguir.
A reunião prolongou-se por toda a manhã. De vez em quando, Oliver pegava-se pensando no encontro que teria com Leslie. Trate de seduzi-la, meu rapaz.. Tem de conquistá-la.
Na noite de sábado, Oliver saiu num dos carros da Casa. Branca, dirigido por um agente de confiança do Serviço Secreto, a caminho de Manassas, Virgínia. Sentiu-se muito tentado a cancelar o encontro, mas já era tarde demais. Estou preocupado sem qualquer motivo. É bem provável que ela nem apareça.
Às oito horas, Oliver olhou pela janela e viu o carro de Leslie entrar no caminho da casa do senador. Observou-a saltar do carro e se encaminhar para a porta. Oliver abriu-a. Os dois ficaram parados ali, em silêncio, olhando um para o outro. O tempo desapareceu, e de certa forma era como se nunca tivessem se separado. Oliver foi o primeiro a recuperar a voz:
- Oh, Deus! Ontem à noite, quando eu a vi... quase tinha esquecido de como você é linda!
Oliver pegou a mão de Leslie e levou-a para a sala de estar.
- O que gostaria de beber?
- Não preciso de nada. Obrigada.
Oliver sentou-se ao lado dela no sofá.