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- Encarregue algumas pessoas de procurar publicações no exterior.

- Está bem.

- E há muita gordura por aqui. Livre-se dos repórteres que não estão dando tudo.

- Leslie...

- Quero repórteres jovens e famintos.

Quando vagava um cargo executivo, Leslie insistia em participar das entrevistas. Escutava o candidato, depois fazia uma única pergunta:

- Como é seu desempenho no golfe?

O emprego muitas vezes dependia da resposta.

- Que tipo de pergunta é essa? - perguntou Matt Baker, na primeira vez que a ouviu.

- Que diferença faz como é o desempenho no golfe?

- Não quero aqui pessoas que sejam dedicadas ao golfe. Se trabalham aqui, todos devem ser dedicados ao Washington Tribune.

A vida particular de Leslie Stewart era um tema de intermináveis conversas no Tribune. Era uma linda mulher, sem compromissos, e até onde qualquer um sabia não estava envolvida com nenhum homem, não tinha uma vida pessoal. Era uma das mais proeminentes anfitriãs da cidade, e pessoas importantes disputavam um convite para seus jantares. Mas as pessoas especulavam sobre o que ela fazia depois que todos os convidados se retiravam e ficava a sós. Havia rumores de que era uma insone, passava as noites acordada planejando novos projetos para o império Stewart. Havia outros rumores, mais excitantes, só que não havia como prová-los.

Leslie envolvia-se em tudo: editoriais, reportagens, publicidade. Um dia, ela perguntou ao diretor de publicidade:

- Por que não estamos recebendo anúncios da Gleason. Era uma das lojas mais elegantes de Georgetown.

- Já tentei, mas...

- Conheço o proprietário. Ligarei para ele. Foi o que ela fez.

- Allan, você não tem publicado nenhum anúncio no tribune. Por quê?

Ele riu.

- Leslie, seus leitores são os que cometem furtos na loja. Antes de entrar numa reunião, Leslie lia informações sobre as pessoas que participariam. Conhecia os pontos fraco fortes de todos, era uma dura negociadora.

- Às vezes você pode ser dura demais - advertiu Matt Baker.

- Tem de deixar alguma coisa para os outros, Leslie.

- Esqueça. Acredito na política de terra arrasada.

No decorrer do ano seguinte, o Washington Tribune Enterprises adquiriu um jornal e uma emissora de rádio na Austrália, uma emissora de televisão em Denver e um jornal em Hammond, Indiana. Sempre que havia uma nova aquisição, os empregados ficavam apavorados com o que poderia acontecer. A reputação de implacável de Leslie aumentava cada vez mais.

Leslie Stewart sentia a maior inveja de Katharine Graham.

- Ela apenas tem sorte - dizia Leslie.

- E tem a reputação de ser uma sacana.

Matt Baker sentiu-se tentado a perguntar a Leslie o que ela achava que era sua própria reputação, mas decidiu não fazê-lo. Certa manhã, quando Leslie chegou à sua sala, descobriu que alguém deixara em sua mesa um pequeno bloco de madeira com duas bolas de bronze. Matt Baker ficou aborrecido.

- Sinto muito - disse ele.

- Vou levar...

- Não. Pode deixar.

- Mas...

- Pode deixar aí.

Matt Baker tinha uma reunião em sua sala quando a voz de Leslie soou pelo interfone:

- Matt, venha até minha sala.

Nem "por favor", nem "bom dia". O dia seria terrível. pensou Matt Baker, sombrio. A Princesa de Gelo estava num dos seus ânimos sinistros.

- É só isso, por enquanto - disse ele aos participantes da reunião.

Matt deixou sua sala e foi andando pelos corredores. Centenas de empregados circulavam por toda parte. Ele subiu no elevador para a Torre Branca e entrou no suntuoso gabinete da dona do jornal. Meia dúzia de editores já esperavam na sala. Leslie Stewart sentava-se atrás de sua enorme mesa. Levantou os olhos quando Matt entrou e disse:

- Vamos começar.

Ela convocara uma reunião editorial. Matt recordou que Leslie lhe dissera no início: "Você é quem vai dirigir o jornal. Eu não vou me meter."

Ele deveria ter imaginado. Não cabia a Leslie convocar reuniões como aquela. Era uma função de Matt. Por outro lado, ela era a editora e proprietária do Washington Tribune podia muito bem fazer o que lhe aprouvesse.

- Precisamos conversar sobre aquela matéria a respeito do ninho de amor do presidente Russell - disse Matt Baker.

- Não há o que conversar. - Leslie levantou um exemplar do Washington Post, o jornal rival.

- Já viu isto?

Claro que Matt vira.

- Já, sim, e...

- Nos velhos tempos, era o que se chamava de um furo Matt. Onde estavam você e seus repórteres quando o Post cavava este furo?

A manchete do Washington Post era a seguinte: SEGUNDO LOBISTA INDIGNADO POR DAR PRESENTES ILEGAIS SECRETÁRIO DE DEFESA.

- Por que não publicamos essa notícia?

- Porque ainda não é oficial. Já verifiquei. É apenas...

- Não gosto de perder um furo.

Matt Baker suspirou e recostou-se na cadeira. Seria uma reunião agitada.

- Somos o número um ou não somos nada - anunciou Leslie para o grupo.

- E se não somos nada, não haverá empregos aqui para ninguém, entendido?

Leslie virou-se para Arnie Cohn, o editor da revista dominical.

- Quando as pessoas acordam na manhã de domingo queremos que leiam a nossa revista. Não queremos fazer com que nossos leitores voltem a dormir. As reportagens que saíram no último domingo eram muito chatas.

Ele pensou: Se você fosse um homem, eu...

- Desculpe. Tentarei fazer melhor na próxima vez.

Leslie virou-se para Jeff Connors, o editor de esportes.

Era um homem de boa aparência, trinta e poucos anos, alto, atlético, louro, olhos inteligentes. Tinha a descontração de alguém que sabia ser bom no que fazia. Matt ouvira dizer que Leslie lhe passara uma cantada, mas ele a rejeitara.

- Você escreveu que Fielding seria transferido para o Pirates.

- Fui informado...

- Pois foi informado errado! O Tribune é culpado de noticiar um fato que nunca aconteceu.

- Recebi a informação do Mannager dele - explicou Jeff Connors, imperturbável.

- Ele me contou que...

- Na próxima vez, confira suas informações... e depois torne a conferir.

Leslie virou-se e apontou para uma página de jornal amarelada, pendurada na parede numa moldura. Era a primeira página do Chicago Tribune de 3 de novembro de 1948. A manchete dizia: DEWEY DERROTA TRUMAN.

- A pior coisa que um jornal pode fazer é noticiar os fatos de uma maneira errada - acrescentou Leslie.

- Estamos num negócio em que temos de acertar sempre.

Ela olhou para seu relógio.

- É só isso, por enquanto.

Espero que todos façam muito melhor. Enquanto todos se levantavam para sair, Leslie disse a Matt Baker:

- Quero que você fique.

- Está bem.

Ele arriou na cadeira e observou os outros se retirarem.

- Fui muito dura com eles? - perguntou Leslie.

- Conseguiu o que queria. Todos viraram suicidas.

- Não estamos aqui para fazer amigos, mas sim para pôr um

jornal na rua. - Ela tornou a olhar para a primeira página emoldurada na parede.

- Pode imaginar o que deve ter sentido o editor depois que o jornal saiu para a rua e foi confirmado que Truman era o presidente? Não quero nunca ter esse sentimento, Matt. Mas nunca mesmo.

- Por falar em engano - disse Matt -, aquela matéria na primeira página sobre o presidente Russell era mais apropriada a um tablóide sensacionalista. Por que insistir em criticar o presidente? Dê-lhe uma chance.

Leslie respondeu de uma forma enigmática:

- Já dei. - Ela se levantou, pôs-se a andar de um lado para outro.

- Recebi a informação de que Russell vai vetar a nova lei de comunicações. Isso significa que teremos de cancelar o acordo para a emissora de San Diego e a emissora de Omaha.

- Não há nada que possamos fazer a respeito.

- Há, sim, Matt. Quero removê-lo do cargo. Ajudaremos a pôr na Casa Branca alguém que saiba o que faz.