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Matt não tinha a menor intenção de iniciar outra discussão com Leslie Stewart sobre o presidente. Ela era fanática no assunto.

- Ele não tem condições de ocupar o cargo, e farei tudo o que puder para que seja derrotado na próxima eleição.

Philip Cole, chefe dos correspondentes da WTE, entrou apressado na sala de Matt Baker, quando este já se preparava para ir embora. Sua expressão era preocupada.

- Temos um problema, Matt.

- Não pode esperar até amanhã? Estou atrasado para...

- É sobre Dana Evans.

Matt perguntou em tom brusco:

- O que aconteceu com ela?

- Dana foi presa.

- Presa? - repetiu Matt, incrédulo.

- Por quê?

- Espionagem. Quer que eu...?

- Não. Pode deixar que cuidarei disso pessoalmente. Matt Baker voltou apressado para sua mesa e ligou para o Departamento de Estado.

Ela estava sendo arrastada, nua, tirada de sua cela e levada para um pátio frio e escuro. Debateu-se frenética contra os dois homens que a seguravam, mas não era adversária para eles. Havia seis soldados com fuzis lá fora, esperando que ela fosse carregada, aos gritos, até um poste de madeira, no meio do pátio. O coronel Gordan Divjak observou seus homens amarrarem-na ao poste.

- Não podem fazer isso comigo! - berrou Dana.

- Não sou uma espiã!

Mas não conseguiu fazer com que sua voz fosse ouvida, por causa da eclosão de morteiros ali perto. O coronel Divjak recuou um pouco, enquanto acenava com a cabeça para o pelotão de fuzilamento.

- Preparar... apontar...

- Pare com esses gritos!

Mãos rudes sacudiam-na. Dana abriu os olhos, o coração disparado. Estava deitada no catre, em sua cela pequena e escura. O coronel Divjak postava-se de pé ao lado. Dana sentou-se, em pânico, piscou forte, para dissipar o pesadelo.

- O que... o que vai fazer comigo?

O coronel Divjak respondeu friamente:

- Se houvesse justiça, você seria fuzilada. Infelizmente, recebi ordens para soltá-la.

O coração de Dana bateu mais forte.

- Será embarcada no primeiro avião que sair daqui. O coronel Divjak fitou-a nos olhos.

- E nunca mais volte

Fora preciso toda a pressão que o Departamento de Estado e o presidente podiam exercer para que Dana Evans fosse solta. Ao saber da prisão, Peter Tager foi falar com o presidente.

- Acabo de receber um telefonema do Departamento de Estado. Dana Evans foi presa sob a acusação de espionagem. E ameaçam executá-la.

- Mas isso é terrível! Não podemos permitir que aconteça.

- Concordo. Gostaria que me desse permissão para usar seu nome.

- Concedida. Faça tudo o que for necessário.

- Trabalharei com o Departamento de Estado. Se conseguirmos salvá-la, talvez o Tribune atenue seus ataques.

Oliver sacudiu a cabeça.

- Não conte com isso. Vamos apenas fazer tudo para tirá-la de lá.

Dezenas de frenéticos telefonemas mais tarde, com pressão do Salão Oval, do secretário de Estado dos Estados Unidos e do secretário-geral da ONU, os captores de Dana concordaram relutantemente em soltá-la.

Assim que a notícia chegou, Peter Tager se apressou E transmiti-la a Oliver.

- Ela está livre, já voltando para os Estados Unidos.

- Isso é ótimo.

Ele pensou em Dana Evans a caminho de uma reunião naquela manhã. Estou contente que tenhamos conseguido salvá-la.

Ele não tinha a menor idéia de que essa ação lhe custaria a própria vida.

Quando o avião de Dana pousou no Aeroporto Internacional Dulles, Matt Baker e duas dúzias de repórteres de jornais e emissoras de televisão e rádio esperavam para recebê-la. Dana olhou para a multidão, incrédula.

- Mas o que...

- Ei, Dana, olhe para cá! E sorria!

- Como foi tratada? Houve alguma brutalidade?

- Qual é a sensação de voltar para casa?

- Tem planos para voltar?

Todos falavam ao mesmo tempo. Dana ficou imóvel, atordoada. Matt Baker levou-a para uma limusine a espera.

- O que... o que está acontecendo? - perguntou Dana.

- Você virou uma celebridade.

Ela sacudiu a cabeça.

- Não preciso disso, Matt. - Dana fechou os olhos por um momento.

- Obrigada por me tirar de lá.

- Pode agradecer ao presidente e a Peter Tager. Eles acionaram todos os recursos. E deve também agradecer a Leslie Stewart.

Quando Matt lhe dera a notícia, Leslie dissera:

- Mas que desgraçados! Não podem fazer isso com o Tribune. Quero que a libertem. Recorra a todos os meios que puder, mas tire-a de lá.

Dana olhou pela janela da limusine. Pessoas andavam pela rua, conversando e rindo. Não havia sons de tiros, explosões de morteiros. Era estranho.

- Nosso editor imobiliário arrumou um apartamento para você. Quero que tire algum tempo de folga... tanto quanto quiser. E assim que estiver preparada, voltará ao trabalho. - Ele examinou Dana com mais atenção. Está se sentindo bem? Se quiser ver um médico, providenciarei...

- Estou bem. E nosso pessoal em Paris já me levou a um médico.

O apartamento ficava na Calvert Street, acolhedor e bem decorado, com um quarto, uma sala, cozinha, banheiro e pequeno escritório.

- Acha que dá? - perguntou Matt.

- É perfeito. Obrigada, Matt.

- Mandei encher a geladeira para você. Provavelmente vai querer sair para comprar roupas amanhã, depois que descansar um pouco. Cobre tudo ao jornal.

- Obrigada, Matt. Obrigada por tudo.

- Será interrogada pelas autoridades mais tarde. Providenciarei tudo.

Ela estava numa ponte, ouvindo os tiros e observando corpos inchados passarem na correnteza. Acordou chorando. Fora real demais. Era um sonho, mas acontecia de fato. Naquele momento mesmo, vítimas inocentes - homens, mulheres e crianças - eram massacradas com extrema brutalidade, sem o menor sentido. Ela pensou nas palavras do professor Staka. A guerra na Bósnia-Herzegovina é além da compreensão. O mais incrível para Dana era que o resto do mundo parecia não se importar. Tinha medo de voltar a dormir, medo dos pesadelos que povoavam seu cérebro. Levantou-se, foi até a janela, contemplou a cidade. Estava quieta... não havia disparos, nem pessoas correndo pela rua, nem gritos. O que parecia anormal. Ela perguntou como Kemal estaria, e se algum dia tornaria a vê-lo. É bem provável que a esta altura ele já tenha me esquecido.

Dana passou parte da manhã comprando roupas. Aonde quer que fosse, pessoas paravam para fitá-la. Ouvia os sussurros:

- Aquela é Dana Evans!

Todas as vendedoras reconheceram-na. Ela era famosa. E detestava.

Dana não fizera o desjejum, não almoçara. Estava faminta, mas incapaz de comer. Era como se estivesse esperando que algum desastre se abatesse. Quando andava pela rua, evitava os olhos dos estranhos. Desconfiava de todo mundo. Sempre se mantinha atenta ao som de tiros. Não posso continuar assim, pensou ela.

Ao meio-dia, ela entrou na sala de Matt Baker.

- O que está fazendo aqui? Precisa tirar alguns dias de folga.

- Tenho de voltar a trabalhar, Matt.

Ele fitou-a e pensou na garota que o procurara poucos anos antes. Estou aqui em busca de um emprego. Isto é, já tenho um emprego. É mais como uma transferência, não é mesmo?... Posso começar agora mesmo... E ela mais do que cumprira a promessa. Se algum dia eu tivesse uma filha...

- Sua chefe quer conhecê-la - informou Matt a Dana.

Eles foram ao gabinete de Leslie Stewart.

As duas mulheres estavam de pé, se avaliando.

- Seja bem-vinda de volta, Dana.

- Obrigada.

- Sentem-se.

Dana e Matt se instalaram em cadeiras diante da mesa de Leslie.

- Quero lhe agradecer por ter me tirado de lá - disse Dana.

- Deve ter sido um inferno. Lamento muito o que aconteceu. - Leslie olhou para Matt.

- O que vamos fazer com ela agora, Matt?

Ele olhou para Dana.

- Estamos prestes a transferir nosso correspondente na Casa Branca. Gostaria de substituí-lo, Dana?