- Aconteceu alguma coisa fora do normal nessa visita? - indagou Bernstein.
- Como assim?
- Encontraram ou conversaram com alguém durante a visita? - perguntou Bernstein.
- Claro. Com o guia.
- E isso foi tudo? - indagou Reese.
- Foi, sim.
- Chloe passou o tempo todo com o grupo? - perguntou o detetive Hogan.
- Passou... - Yerby hesitou.
- Não. Ela se afastou para ir ao banheiro. Demorou cerca de quinze minutos. Quando voltou, ela...
O rapaz não continuou.
- Ela o quê? - perguntou Reese.
- Nada. Ela apenas voltou.
Era evidente que ele mentia.
- Filho - murmurou Reese -, sabia que Chloe Houston está morta?
Eles o observavam atentamente.
- Oh, Deus, não! O que aconteceu?
A expressão de surpresa em seu rosto podia ter sido simulada.
- Não sabe? - perguntou o detetive Bernstein.
- Não! Eu... não posso acreditar!
- Não teve nada a ver com a morte dela? - indagou Hogan.
- Claro que não! Eu amo... amava Chloe!
- Alguma vez foi para a cama com ela? - perguntou Bernstein.
- Não. Estávamos... estávamos esperando. Íamos casar.
- Mas às vezes tomavam drogas juntos? - indagou o detetive Reese.
- Não! Nunca tomamos drogas!
A porta foi aberta nesse instante e um corpulento detetive, Harry Carter, entrou na sala. Ele foi até Reese e sussurrou alguma coisa em seu ouvido. Reese balançou a cabeça. Ficou olhando para Paul Yerby por um longo momento, antes de perguntar.
- Quando foi a última vez que viu Chloe Houston?
- Já disse que foi na Casa Branca.
Ele mudou de posição na cadeira, apreensivo. O detetive Reese inclinou-se para a frente.
- Sua situação é complicada, Paul. Suas impressões digitais estão por toda a Suíte Imperial, no Monroe Arms Hotel. Como isso aconteceu?
Paul Yerby ficou imóvel, muito pálido.
- Pode parar de mentir agora. Temos provas contra você.
- Eu... eu não fiz nada.
- Reservou a suíte no Monroe Anus Hotel? - perguntou o detetive Bernstein.
- Não, não fui eu. A ênfase foi no "eu".
O detetive Reese pressionou:
- Mas sabe quem foi?
- Não. - A resposta saiu rápida demais.
- Admite que esteve na suíte? - indagou Hogan.
- Estive, mas... Chloe continuava viva quando fui embora.
- Por que foi embora? - perguntou Hogan.
- Ela me pediu. Estava... estava esperando alguém.
- Ora, Paul. sabemos muito bem que você a matou - comentou Bernstein.
- Não! - O garoto tremia. - Juro que não tive nada a ver com isso. Eu... apenas subi para a suíte com ela. E só fiquei pouco tempo.
- Porque ela esperava alguém? - indagou Reese.
- Isso mesmo. Chloe estava... bastante excitada.
- Ela contou com quem ia se encontrar? - perguntou o detetive Hogan.
Paul passou a língua pelos lábios.
- Não.
- Disse que ela estava bastante excitada - ressaltou Reese. - Com o quê?
Paul tornou a passar a língua pelos lábios.
- Com... com o homem que ia se encontrar ali com ela para jantar.
- Quem era o homem, Paul? - perguntou Bernstein.
- Não posso contar.
- Por que não? - indagou o detetive Hogan.
- Prometi a Chloe que nunca contaria a ninguém.
- Chloe está morta.
Os olhos de Paul Yerby ficaram cheios de lágrimas.
- Ainda não posso acreditar.
- Dê-nos o nome do homem - insistiu Reese.
- Não posso. Prometi a Chloe.
- Vou explicar o que vai acontecer com você. Passará a noite na cadeia. Pela manhã, se nos der o nome do homem que ia se encontrar com Chloe, vamos deixá-lo sair. Caso contrário, teremos de indiciá-lo por homicídio.
Eles esperaram que o garoto respondesse. Silêncio.
Nick Reese acenou com a cabeça para Bernstein.
- Pode levá-lo.
O detetive Reese voltou à sala do capitão Miller.
- Tenho uma notícia ruim e uma notícia ainda pior.
- Não tenho tempo para isso, Nick.
- A notícia ruim é que não tenho certeza se foi o garoto quem deu a droga à moça. A notícia pior é que a mãe da jovem é governadora do Colorado.
- Oh, Deus! Os jornais vão adorar! - O capitão Miller respirou fundo.
- Por que acha que o garoto não é o culpado?
- Ele admite que esteve na suíte, mas alega que a garota lhe pediu para ir embora porque esperava alguém. Creio que o rapaz é inteligente demais para inventar uma história tão estúpida. Estou convencido de que ele sabe quem Chloe Houston esperava. Mas não quer dizer quem era.
- Tem alguma idéia?
- Era a primeira vez que ela vinha a Washington, e foram visitar a Casa Branca.
Ela não conhecia ninguém aqui. Disse que ia ao banheiro. Não há banheiro público na Casa Branca. Ela teria de sair para o Pavilhão dos Visitantes, na Ellipse, na esquina das ruas 15 e E, ou ao Centro dos Visitantes da Casa Branca. Ausentou-se durante cerca de quinze minutos. O que acho que aconteceu é que, enquanto procurava um banheiro, esbarrou com alguém na Casa Branca, alguém que pode ter reconhecido.
Talvez alguém que ela tenha visto na TV. Seja como for, devia ser alguém importante. Ele levou-a a um banheiro particular, deixou-a bastante impressionada, a ponto da moça concordar em encontrá-lo no Monroe Arms.
O capitão Miller ficou pensativo.
- E melhor eu ligar para a Casa Branca. Pediram que os mantivéssemos informados sobre o caso. Não solte o garoto. Quero o nome do tal homem.
- Certo.
Enquanto o detetive Reese se retirava, o capitão Miller pegou o telefone e fez uma ligação. Poucos minutos depois, estava dizendo:
- Isso mesmo, senhor. Temos uma testemunha sob custódia. Está numa cela na delegacia da Indiana Avenue ... Não, senhor. Acho que o garoto vai nos dar o nome do homem amanhã... Sim, senhor. Eu compreendo.
A ligação foi cortada. O capitão Miller suspirou e voltou a se concentrar na pilha de papéis em sua mesa.
Às oito horas da manhã seguinte, quando o detetive Nick Reese foi à cela de Paul Yerby, deparou com o corpo do garoto pendurado de uma das barras mais altas.
MORTA DE 16 ANOS IDENTIFICADA COMO FILHA DA GOVERNADORA DO COLORADO. NAMORADO PRESO PELA POLíCIA SE ENFORCA. POLÍCIA CAÇA TESTEMUNHA MISTERIOSA.
Ele ficou olhando para as manchetes e sentiu uma súbita vertigem. Dezesseis anos. Ela parecia mais velha. De que ele era culpado? De assassinato? Talvez de homicídio culposo. E mais, de estupro, por se tratar de uma menor.
Contemplara-a a sair do banheiro da suíte usando apenas um sorriso. Nunca fiz isso antes.
E ele a abraçara e acariciara. Fico contente pela primeira vez ser comigo, meu bem. Antes, partilhara com ela um copo de ecstasy líquido. Beba isto. Fará com que se sinta bem. Fizeram amor e depois ela se queixara de não se sentir bem.
Levantara-se da cama, cambaleara e caíra, batera com a cabeça na mesa. Um acidente. Claro, a polícia não veria assim. Mas não há nada que possa me ligar a ela. Absolutamente nada.
Todo o episódio tinha um ar de irrealidade, um pesadelo que acontecera com outra pessoa. De certa forma, porém, ver tudo em letra de imprensa fazia com que se tornasse real.
Através das paredes da sala, ele podia ouvir o som do tráfego na Pennsylvania Avenue, além da Casa Branca, e voltou a ter consciência do ambiente. Uma reunião do gabinete começaria dentro de poucos minutos. Ele respirou fundo. Trate de se controlar.
No Salão Oval estavam reunidos o vice-presidente Melvin Wicks, Sime Lombardo e Peter Tager. Oliver entrou e foi se sentar atrás de sua mesa.
- Bom dia, senhores.
Houve cumprimentos gerais. Depois, Peter Tager disse:
- Já viu o Tribune, sr. presidente?
- Não.
- Identificaram a moça que morreu no Monroe Arms Hotel. Infelizmente, é uma péssima notícia.
Oliver ficou rígido em sua cadeira, numa reação inconsciente.
- É mesmo?
- O nome dela é Chloe Houston. A filha de Jackie Houston.