- Não. Ele não pôde recebê-la. - A voz saía abafada. Há uma coisa de que tenho certeza.
- Qual é?
- Paul Yerby não a matou. Estavam apaixonados um pelo outro.
- Mas a polícia disse..
- Não me interessa o que disseram. Prenderam um rapaz inocente, e ele... ele ficou tão transtornado que se enforcou. É terrível.
Frank Lonergan estudou-a por um instante.
- Se Paul Yerby não matou sua filha, tem alguma idéia de quem seria o culpado? Isto é, ela fez algum comentário sobre encontrar alguém em Washington?
- Não. Ela não conhecia ninguém aqui. Estava ansiosa em... em... - os olhos brilhavam com lágrimas.
- Sinto muito, mas terá de me dar licença.
- Claro. Obrigado por seu tempo, governadora Houston.
A próxima parada de Lonergan foi no necrotério. Helen Chuan saía da sala de autópsia.
- Olhem só quem está aqui!
- Oi, doutora.
- O que o traz aqui, Frank?
- Eu queria conversar sobre Paul Yerby.
Helen Chuan suspirou.
- É uma pena. Aqueles garotos eram tão jovens...
- Por que um garoto como ele cometeria suicídio?
Helen Chuan deu de ombros.
- Quem sabe?
- Tem certeza de que ele cometeu suicídio?
- Se ele não cometeu, fez uma grande imitação. Tinha o cinto em torno do pescoço tão apertado que tiveram de cortá-lo para baixar o corpo.
- Não havia outras marcas ou qualquer coisa no corpo que pudessem sugerir uma armação?
Ela fitou-o com uma expressão curiosa.
- Não.
Lonergan acenou com a cabeça.
- Obrigado. Não vai querer manter seu paciente à espera.
- Engraçadinho...
Havia uma cabine telefônica no corredor externo. Lonergan obteve com a telefonista de informações de Denver o número da casa dos pais de Paul. A sra. Yerby atendeu. A voz soava cansada.
- Alô?
- Sra. Yerby?
- Sou eu.
- Lamento incomodá-la. Aqui é Frank Lonergan, do Washington tribune. Eu queria...
- Não posso...
Um momento depois, o sr. Yerby entrou na linha.
- Sinto muito, mas minha esposa está... Os jornais têm nos incomodado durante toda a manhã. Não queremos...
- Só vai levar um minuto, sr. Yerby. Há algumas pessoas em Washington que não acreditam que seu filho tenha matado Chloe
Houston.
- Mas é claro que ele não matou! - A voz tornou-se subitamente mais forte. - Paul nunca poderia... nunca fez nada assim.
- Paul tinha amigos em Washington, sr. Yerby?
- Não. Ele não conhecia ninguém aí.
- Entendo. Bom, se houver alguma coisa que eu possa fazer..
- Há uma coisa que pode fazer por nós, sr. Lonergan. Já acertamos para que o corpo de Paul seja enviado para cá, mas não sei como recolher seus pertences. Gostaríamos de ficar com qualquer coisa que ele... Se pudesse me indicar com quem falar..
- Posso cuidar disso para vocês.
- Ficaríamos muito agradecidos.
Na seção de Homicídios, o sargento de plantão abriu uma caixa
contendo os pertences pessoais de Paul Yerby.
- Não há muita coisa - disse ele.
- Apenas as roupas do garoto e uma câmera.
Lonergan enfiou a mão na caixa e tirou um cinto de couro preto. Não estava cortado.
Quando Frank Lonergan entrou na sala da secretária da agenda do presidente Russell, Deborah Kanner, ela se aprontava para sair para o almoço.
- Em que posso ajudá-lo, Frank?
- Tenho um problema, Deborah.
- E isso é novidade?
Frank Lonergan fingiu consultar algumas anotações.
- Tenho informações de que no dia 15 de outubro o presidente teve uma reunião secreta aqui com um emissário da China para conversar sobre o Tibete.
- Não sei de nenhuma reunião assim.
- Poderia verificar para mim?
- Qual foi mesmo a data que você disse?
- Dia 15 de outubro.
Lonergan observou enquanto Deborah tirava uma agenda da gaveta e verificava.
- Dia 15 de outubro? A que horas teria sido essa reunião?
- Dez horas da noite, aqui no Salão Oval.
Ela sacudiu a cabeça.
- Não. Às dez horas daquela noite o presidente estava numa reunião com o general Whitman.
Lonergan franziu o rosto.
- Não foi o que me contaram. Eu poderia dar uma olhada nessa agenda?
- Sinto muito, mas é confidencial, Frank.
- Talvez eu tenha recebido uma informação errada. Obrigado, Deborah.
Ele se retirou.
Trinta minutos depois, Frank Lonergan estava conversando com o general Steve Whitman.
- General, o Tribune gostaria de dar alguma cobertura à reunião que teve no dia 15 de outubro com o presidente. Soube que algumas questões importantes foram discutidas.
O general sacudiu a cabeça.
- Não sei onde obteve essa informação, sr. Lonergan. A reunião foi cancelada. O presidente tinha outro compromisso.
- Tem certeza?
- Tenho, sim. Vamos marcar outra data.
- Obrigado, general.
Frank Lonergan voltou à Casa Branca. Foi de novo à sala de Deborah Kanner.
- O que é desta vez, Frank?
- A mesma coisa - disse Lonergan, pesaroso.
- Meu informante jura que às dez horas da noite de 15 de outubro o presidente se encontrava aqui, reunido com um emissário da China, para discutir o Tibete.
Ela fitou-o com alguma exasperação.
- Quantas vezes tenho que lhe dizer que não houve essa reunião?
Lonergan suspirou.
- Para ser franco, não sei mais o que fazer. Meu chefe quer publicar essa notícia. É sensacional. Acho que teremos de publicá-la sem confirmação.
Ele se encaminhou para a porta.
- Espere um instante!
Lonergan virou-se.
- O que é?
- Não podem publicar essa história. Não é verdadeira.
O presidente ficará furioso.
- Não me cabe a decisão.
Deborah hesitou.
- Se eu puder provar que ele estava reunido com o general Whitman, você vai esquecer essa história?
- Claro. Não quero causar nenhum problema.
Lonergan observou Deborah pegar a agenda de novo e folhear as páginas.
- Aqui está uma lista dos compromissos do presidente para essa data. Dê uma olhada. Dia 15 de outubro. - Havia duas paginas de registros. Deborah apontou para a anotação às dez horas da noite. - Veja aqui, preto no branco.
- Tem razão.
Lonergan se ocupava a esquadrinhar o resto da agenda naquele dia. E focalizou um registro às três horas da tarde. Chloe Houston.
A reunião convocada às pressas, no Salão Oval, durava apenas uns poucos minutos e a situação já era tensa de tanta divergência. O secretário da Defesa declarou:
- Se protelarmos por mais tempo, o problema escapará por completo ao controle. Será tarde demais para impedir.
- Não podemos nos precipitar. - O general Stephen Gossard virou-se para o diretor da CIA.
- Qual é a precisão das informações?
- É difícil determinar. Temos certeza de que a Líbia está comprando uma ampla variedade de armas do Irã e da China.
Oliver olhou para o secretário de Estado.
- A Líbia nega?
- Claro. E a China e o Irã também.
- E os outros Estados árabes? - indagou Oliver.
Foi o diretor da CIA quem respondeu.
- Pelas informações que tenho, senhor presidente, se for lançado um ataque mais sério contra Israel, creio que será a desculpa pela qual todos os outros Estados árabes aguardam. Vão se juntar para exterminar Israel.
Todos fitaram Oliver, em expectativa.
Você tem fontes confiáveis na Líbia? - perguntou ele.
- Tenho, sim.
- Quero dados mais atualizados. Mantenha-me informado. Se houver sinais de um ataque, não teremos opção que não entrar em ação.
A reunião foi suspensa. A secretária avisou pelo interfone:
- O sr. Tager gostaria de lhe falar, senhor presidente.
- Mande-o entrar.
- Como foi a reunião? - perguntou Peter Tager.
- Ora, foi a mesma coisa de sempre - respondeu Oliver, amargurado. - Se vou querer iniciar uma guerra agora ou mais tarde.