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— Bem, agora você tem o seu Luca.

Michael acenou com a cabeça. Ele o livrara da cadeia. Albert Neri lhe seria leal até a morte. E naturalmente isso foi um truque que ele aprendeu com o próprio Don Corleone. Enquanto aprendia o negócio, submetendo-se a longos dias de instrução ministrada pelo pai, Michael uma vez perguntou:

— Como é que você usava um sujeito como Luca Brasi? Um animal como aquele

Don Corleone respondeu fazendo-lhe a seguinte preleção:

— Há homens neste mundo que andam por aí pedindo para ser assassinados. Você já deve ter visto alguns deles. Brigam em mesas de jogo, saltam furiosos de seu automóvel se alguém apenas arranha o seu pára-lama, humilham e ameaçam as pessoas cuja força ignoram. Já vi um homem bobo propositadamente enfurecer um grupo de homens perigosos, sem possuir ele mesmo qualquer recurso. Esses são os indivíduos que andam pelo mundo gritando “Matem-me! Matem-me!” E sempre aparece alguém disposto a fazer-lhes a vontade. Lemos sobre isso nos jornais todo dia. Tais pessoas naturalmente fazem um bocado de mal a outras também.

E prosseguiu:

— Luca Brasi era um homem desse tipo. Mas era um homem tão extraordinário que durante muito tempo ninguém conseguiu matá-lo. A maioria dessa gente não nos interessa, mas um elemento como Brasi é uma arma poderosa para ser usada. O truque, já que ele não teme a morte, e na verdade anda à procura dela, é a gente se tornar a única pessoa no mundo que verdadeiramente não deseja matá-lo. Ele só tem este medo, não o da morte, mas o de que agente possa ser a pessoa que vai matá-lo. Ele é nosso então.

Foi uma das mais valiosas lições dadas por Don Corleone antes de morrer, e Michael a usou para fazer de Neri seu Luca Brasi.

E agora, finalmente, Albert Neri, sozinho em seu apartamento do Bronx, ia pôr novamente o seu uniforme de polícia. Escovou-o caprichosamente. Agora iria polir o coldre. E o boné de polícia também, tinha de limpar-lhe a pala, engraxar os fortes sapatos pretos. Neri trabalhava com a maior boa vontade. Encontrara o seu lugar no mundo, Michael Corleone depositara confiança absoluta nele, e ele não deixaria de corresponder a essa confiança.

CAPÍTULO 31

NAQUELE MESMO DIA, duas limusines achavam-se estacionadas na alameda de Long Beach. Um dos carros grandes esperava para levar Connie Corleone, sua mãe, seu marido e seus dois filhos ao aeroporto. A família de Carlo Rizzi ia passar umas férias em Las Vegas, a fim de se preparar para mudar-se definitivamente para aquela cidade. Michael dera a ordem a Carlo, sob protestos de Connie. Michael não quis explicar que queria todo mundo fora da alameda antes do encontro das Famílias Corleone e Barzini. Na verdade, o próprio encontro era um grande segredo. As únicas pessoas que estavam informadas sobre ele eram os capos da Família.

A outra limusine era para Kay e seus filhos, que seriam levados para New Hampshire em visita aos pais dela. Michael teria de ficar na alameda; tinha assuntos muito importantes para resolver e não podia viajar.

Na noite anterior, Michael mandara avisar a Carlo Rizzi que precisava da sua presença na alameda por alguns dias, que ele iria juntar-se à mulher e aos filhos depois, lá para o fim. Connie ficou furiosa. Tentou falar com Michael pelo telefone, mas ele fora à cidade. Agora ela percorria com os olhos toda a alameda em busca de Michael, mas ele estava fechado na sala com Tom Hagen e não podia ser perturbado. Connie deu um beijo de despedida em Carlo quando ele a pôs na limusine.

— Se você não aparecer lá dentro de dois dias, eu volto para apanhar você — ameaçou ela.

Ele sorriu malicioso, na linguagem muda de marido para mulher.

— Estarei lá — retrucou.

Ela meteu a cabeça para fora da janela e perguntou:

— Para que você acha que Michael lhe quer aqui?

Sua fisionomia preocupada fê-la parecer velha e feia.

Carlo deu de ombros.

— Ele vem-me prometendo um grande negócio. Talvez seja sobre isso que queira falar. De qualquer maneira, foi o que ele deu a entender.

Carlo nada sabia a respeito da reunião marcada para aquela noite com a Família Barzini.

— É verdade, Carlo? — insistiu Connie ansiosamente.

Carlo acenou a cabeça de modo afirmativo. A limusine atravessou os portões da alameda e foi embora.

Somente depois que a primeira limusine partiu foi que Michael apareceu para despedir-se de Kay e de seus próprios filhos. Carlo também veio apresentar a Kay seus votos de boa viagem e boas férias. Finalmente, a segunda limusine arrancou e atravessou o portão.

— Lamento ter sido obrigado a mantê-lo aqui, Carlo — disse Michael. — Será apenas por uns dois dias.

— Não tem importância alguma — respondeu Carlo.

— Ótimo — tornou Michael. — Apenas fique perto do telefone que eu o chamarei quando precisar de você. Tenho de obter mais algumas informações antes. Está bem?

— Certamente, Mike, certamente — concordou Carlo.

Em seguida, Carlo foi para a sua própria casa, deu um telefonema para a amante que ele mantinha discretamente em Westbury, prometendo que tentaria visitá-la mais tarde, naquela noite. Depois acomodou-se com uma garrafa de uísque do lado e esperou. Esperou um tempão. Carros começaram a chegar e a atravessar o portão logo depois do meio.dia. Ele viu Clemenza saltar de um, e um pouco mais tarde Tessio saiu de outro. Ambos foram introduzidos na casa de Michael por um dos guarda-costas. Clemenza partiu algumas horas depois, mas Tessio não reapareceu.

Carlo deu um passeio pela alameda, para tomar um pouco de ar fresco, que não durou mais de dez minutos. Conhecia todos os guardas que davam serviço na alameda, era até quase amigo de alguns deles. Pensou que pudesse bater um papo para passar o tempo. Mas para sua surpresa, nenhum dos guardas daquele dia era algum dos homens que ele conhecia. Todos eram estranhos para ele. Mais surpreendente ainda era que o homem encarregado do portão era Rocco Lampone, e Carlo sabia que Rocco ocupava uma posição muito alta na Família para exercer uma tarefa tão servil, a não ser que algo extraordinário estivesse ocorrendo.

Rocco deu-lhe um sorriso amistoso e cumprimentou-o. Carlo estava desconfiado. Rocco exclamou:

— Ué, pensei que você tivesse ido gozar férias com a sua família.

Carlo deu de ombros.

— Mike quis que eu ficasse aqui alguns dias. Ele tem alguma coisa para eu fazer.

— É verdade — retrucou Rocco Lampone. — Eu também. Então ele me pediu para ficar de olho aqui no portão. Bem, que diabo, ele é o chefe.

O tom de sua voz insinuava que Michael não era um homem igual ao que tinha sido o pai, falou um pouco depreciativamente.

Carlo fingiu não perceber aquele tom.

— Mike sabe o que está fazendo — disse ele.

Rocco aceitou a reprimenda em silêncio. Carlo se despediu e voltou para a sua casa. Alguma coisa estava no ar, mas Rocco não sabia o que era.

Michael estava postado na janela de sua sala de estar e viu Carlo passear pela alameda. Hagen trouxe-lhe uma bebida, um conhaque forte. Michael bebeu-a prazerosamente. Por trás dele, Hagen disse, gentilmente:

— Mike, você precisa começar a se movimentar. Está na hora.

Michael deu um suspiro.

— Eu queria que não fosse tão cedo. Esperava que o velho tivesse durado um pouco mais.

— Nada sairá errado — afirmou Hagen. — Se eu não entendi, então ninguém entendeu. Você armou a coisa muito bem.