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Michael afastou-se da janela.

— O velho planejou uma boa parte dela. Nunca cheguei a compreender bem quão esperto ele era. Acho que você sabe.

— Ninguém como ele — retrucou Hagen. — Mas isso está lindo. Isso é a melhor coisa que já vi. Portanto, você não pode ser assim tão ruim.

— Vamos ver o que acontece — disse Michael. — Tessio e Clemenza estão na alameda?

Hagen acenou com a cabeça afirmativamente, Michael terminou de beber o seu conhaque.

— Mande Clemenza falar aqui comigo. Vou instruí-lo pessoalmente. Não quero ver Tessio. Diga-lhe apenas que estarei pronto para ir com ele à reunião com Barzini dentro de meia hora. O pessoal de Clemenza cuidará dele depois disso.

— Não há meio de se deixar Tessio escapar? — perguntou Hagen numa voz cautelosa.

— Não — respondeu Michael.

Enquanto isso, na cidade de Buffalo, uma pequena pizzaria numa rua lateral estava fazendo um negócio movimentado. Quando passou a hora do almoço, o movimento caiu e o balconista tirou da janela a bandeja redonda com os pedaços que haviam sobrado e pôs na prateleira do enorme forno de tijolos. Em. seguida, deu uma espiada dentro do forno para ver como ia uma pizza que estava assando ali. A mozzarela ainda não começara a fazer bolhas. Quando voltou para o balcão que lhe permitia atender o pessoal da rua, encontrou ali de pé um rapaz mal-encarado, que lhe falou:

— Me dê um pedaço de pizza.

O balconista pegou a sua pá de madeira e apanhou um dos pedaços frios da pizza para metê-lo no forno a fim de esquentá-lo. O freguês, em vez de esperar lá fora, resolveu atravessar a porta para ser atendido. A casa agora estava vazia. O balconista abriu o forno e tirou o pedaço de pizza quente e serviu-o num prato de papel. Mas o freguês, em vez de dar-lhe o dinheiro da pizza, estava olhando fixamente para ele.

— Ouvi dizer que você tem uma tatuagem grande no peito — disse o freguês. — Estou vendo a parte superior dela por cima de sua camisa, quer-me deixar ver o resto dela?

O balconista ficou gelado. Parecia paralisado.

— Abra a camisa — ordenou o freguês.

O balconista balançou a cabeça.

— Não tenho tatuagem — respondeu, num inglês carregadamente acentuado. — O homem que trabalha de noite é que tem.

O freguês deu uma gargalhada soturna, forçada.

— Vamos, desabotoe a camisa, deixe-me ver..

O balconista começou a recuar para o fundo da casa, procurando contornar o enorme forno. Mas o freguês ergueu a mão acima do balcão. Havia um revólver nela. Ele atirou. A bala atingiu o balconista no peito e jogou-o contra o forno. O freguês atirou novamente no corpo do balconista e este tombou no chão. O freguês deu a volta pelo balcão, abaixou-se e abriu violentamente a camisa, arrancando-lhe os botões. O peito do balconista estava coberto de sangue, mas a tatuagem se mostrava bem visíveclass="underline" os amantes entrelaçados e a faca transfixando-os. O balconista levantou debilmente um dos braços como que para se proteger. O pistoleiro falou então:

— Fabrizzio, Michael Corleone manda-lhe lembranças.

Estendeu o braço de forma que o revólver ficasse a poucos centímetros do crânio do balconista e puxou o gatilho. Depois saiu da pizzaria. A poucos metros, um carro esperava por ele com a porta aberta. Ele saltou para dentro e o carro arrancou velozmente.

Rocco Lampone atendeu ao telefone instalado numa das colunas de ferro do portão e ouviu alguém dizer:

— A sua encomenda está pronta — e em seguida desligou.

Rocco entrou no seu carro e saiu da alameda. Atravessou a pista elevada de Jones Beach, a mesma na qual Sonny fora assassinado, e seguiu até a estaçâo ferroviária de Wantagh. Estacionou seu carro ali. Outro carro estava esperando por ele com dois homens no seu interior. Foram até a um motel situado a dez minutos de distância na Estrada Sunrise e estacionaram em seu pátio. Rocco Lampone, deixando os dois homens no carro, dirigiu-se para um dos pequenos bangalôs tipo chalé. Um só pontapé fez a porta saltar das dobradiças e Rocco pulou dentro do quarto.

Phillip Tattaglia, com 70 anos de idade e nu como um bebê, estava em pé numa cama na qual se achava deitada uma mulher jovem. A basta cabeleira de Philhip Tattaglia estava completamente preta, mas o pêlo de seu púbis era totalmente branco. O seu corpo tinha a suave forma roliça de uma ave. Rocco despejou-lhe quatro balas, todas na barriga. Depois virou-se e voltou correndo para o carro. Os dois homens deixaram-no na estação de Wantagh. Ele apanhou o seu carro e retornou à alameda. Foi lá dentro falar com Michael Corleone por um momento e depois saiu e reassumiu seu posto no portão.

Albert Neri, sozinho em seu apartamento, terminou de aprontar seu uniforme. Vagarosamente começou a se vestir: calças, camisa, gravata, paletó, coldre e cinturão. Ele devolveu o seu revólver quando foi suspenso da polícia, mas, por qualquer negligência administrativa, não o fizeram devolver o escudo. Clemenza fornecera-lhe um revólver regulamentar da polícia, de calibre 38, cuja origem não podia ser identificada. Neri desmontou-o, lubrificou-o, examinou o cão, montou-o novamente, experimentou o gatilho. Carregou o tambor e a arma estava pronta para funcionar.

Neri meteu o boné de polícia num saco de papel grosso e vestiu um sobretudo civil por cima de seu uniforme. Olhou as horas no seu relógio. Faltavam quinze minutos para que o carro viesse apanhá-lo lá embaixo. Passou os quinze minutos examinando-se no espelho. Não havia dúvida. Ele parecia um verdadeiro policial.

O carro o aguardava com dois homens de Rocco Lampone na frente. Neri entrou no assento traseiro. Quando o carro partiu para o centro da cidade, depois que eles deixaram as proximidades do seu apartamento, Neri tirou o sobretudo e colocou-o no piso do carro. Rasgou o saco de papel e pôs o boné de oficial da polícia na cabeça.

Na esquina na Rua 55, na Quinta Avenida, o carro parou no meio-fio e Neri saltou. Começou a descer a pé a avenida. Tinha um sentimento estranho ao ver-se novamente uniformizado, patrulhando as ruas como tinha feito tantas vezes, O movimento de pedestres era intenso àquela hora. Foi caminhando até chegar em frente ao Rockefeller Center, no lado oposto a quem vem da Catedral de Saint Patrick. No seu lado da Quinta Avenida, ele localizou a limusine que procurava. Estava estacionada, completamente isolada entre uma série enorme de sinais vermelhos indicando ESTACIONAMENTO PROIBIDO e PARADA PROIBIDA. Neri diminuiu o passo. Ainda era muito cedo. Parou para escrever alguma coisa em seu caderninho e depois continuou a andar. Estava à frente da limusine. Bateu no pára-lama com o seu cassetete. O motorista olhou surpreso para ele. Neri apontou com o cassetete para o sinal de PARADA PROIBIDA e acenou para o motorista que movimentasse o carro. O motorista virou a cabeça para o outro lado.

Neri desceu para a rua e se postou ao lado da janela aberta do motorista. O sujeito era mal-encarado, exatamente o tipo que ele gostava de enfrentar. Neri falou de modo deliberadamente insultuoso:

— Como é, seu espertinho, você vai querer que eu lhe pregue um talão de multa na bunda ou prefere andar?

O motorista respondeu impassivelmente:

— É melhor você perguntar aos seus superiores. Me dê o talão de multa se isso vai-lhe fazer sentir-se feliz.

— Vai caindo fora daqui — gritou Neri — ou o arranco desse carro e lhe arrebento a bunda a pontapés!

O motorista fez aparecer uma nota de dez dólares como que por um passe de mágica, dobrou-a, formando um pequeno quadrado, com uma das mãos, e tentou enfiá-la na blusa de Neri. Este voltou para a calçada e chamou o motorista com o dedo. O motorista saiu do carro

— Deixe-me ver os documentos do carro — disse Neri.

Ele esperava poder levar o motorista a contornar o quarteirão, mas isso já não era possível. Com o canto do olho, Neri viu três homens baixos, fortes, descendo a escada do edifício Plaza e vindo na direção da rua. Era o próprio Barzini e seus dois guarda-costas a caminho para encontrar-se com Michael Corleone. Imediatamente, um dos guarda-costas destacou-se do grupo e veio ver o que é que havia com o carro de Barzini. O homem perguntou ao motorista: