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A vitória da Família Corleone foi completa. Durante esse mesmo período de 24 horas, Clemenza e Lampone soltaram os seus regimes e puniram os infiltradores dos domínios dos Corleone. Neri foi enviado para assumir o comando do regime de Tessio. Os bookmakers de Barzini foram postos fora de ação; dois dos maiores valentões dos Barzini foram assassinados a tiros quando jantavam tranqüilamente num restaurante italiano da Mulberry Street. Um famoso amolecedor de páreos das corridas de trote foi abatido ao voltar para casa depois de uma noite em que ganhou bastante nas corridas. Dois dos maiores agiotas do cais do porto desapareceram, sendo encontrados meses depois nos pântanos de Nova Jersey.

Com esse único ataque selvagem, Michael Corleone fez a sua reputação e repôs a Família Corleone no seu lugar de destaque entre as Famílias de Nova York. Tornou-se respeitado não somente pelo seu brilhantismo tático, mas porque alguns dos mais importantes caporegimes das Famílias Barzini e Tattaglia imediatamente se passaram para o seu lado.

Foi um triunfo perfeito para Michael Corleone, com exceção da demonstração de histeria dada por sua irmã.

Connie voltou de avião para casa em companhia da mãe, deixando as crianças em Las Vegas. Ela conteve a sua dor de viúva até a limusine entrar na alameda. Então, antes de poder ser contida pela mãe, ela saiu correndo pela rua calçada da alameda em direção à casa de Michael Corleone. Atravessou furiosamente a porta e encontrou Michael e Kay na sala de estar. Kay partiu para ir de encontro a ela, para confortá-la e tomá-la nos braços num amplexo de irmã, mas parou logo quando Connie começou a gritar pragas e insultos para o irmão.

— Seu patife nojento! — gritou ela. — Você matou meu marido! Você esperou que nosso pai morresse, para que ninguém pudesse detê-lo, e matou meu marido! Você o matou! Você o culpou pela morte de Sonny, você sempre o culpou, todo mundo o culpou. Mas nunca pensou em mim. Você nunca ligou para mim. Que é que vou fazer agora, que é que vou fazer?

Ela estava gemendo. Dois dos guarda-costas de Michael tinham vindo atrás dela e esperavam ordens dele. Mas Michael permaneceu ali impassível, esperando que a irmã terminasse o seu desabafo.

— Connie, você está perturbada, não diga essas coisas — atalhou Kay com voz emocionada.

Connie recuperou-se da histeria. Com a voz cheia de veneno, falou:

— Por que você pensa que ele sempre estava tão frio comigo? Por que você pensa que ele conservou Carlo aqui na alameda? Durante todo o tempo, ele sabia que ia matar meu marido. Mas não se atreveu, enquanto meu pai estava vivo. Meu pai o teria detido. Ele sabia disso. Estava apenas esperando. Então serviu de padrinho para o nosso filho só para nos despistar. O patife sem coração! Você pensa que conhece seu marido? Você sabe quantos homens ele matou como meu Carlo? Basta ler os jornais. Barzini e Tattaglia e os outros. Meu irmão matou todos eles.

Ela teve novo ataque de histeria. Tentou cuspir no rosto de Michael, mas não tinha saliva.

— Leve-a para casa e consiga um médico para ela — disse Michael.

Os dois guarda.costas imediatamente agarraram os braços de Connie e puxaram-na para fora de casa.

Kay ainda estava chocada, sentia-se horrorizada. Perguntou ao marido:

— Que foi que fez Connie dizer todas aquelas coisas, Michael, que é que a faz acreditar naquilo?

Michael deu de ombros e respondeu:

— Ela é histérica.

Kay olhou dentro dos olhos dele.

— Michael, não é verdade, por favor diga que não é verdade!

Michael balançou a cabeça com um ar cansativo.

— Claro que não é verdade. Acredite em mim, desta vez estou deixando você me fazer perguntas sobre meus negócios, e estou respondendo. Não é verdade.

Ele nunca foi mais convincente. Olhou diretamente dentro dos olhos da mulher. Estava usando toda a confiança mútua que haviam criado em sua vida conjugal para fazê-la acreditar nele. E ela não podia duvidar mais. Kay sorriu para ele pesarosamente e atirou-se em seus braços para beijá-lo.

— Nós dois precisamos de um trago — disse ela.

Kay foi para a cozinha buscar gelo e enquanto estava lá ouviu a porta da frente se abrir. Saiu da cozinha e viu Clemenza, Neri e Rocco Lampone entrarem com os guarda-costas. Michael estava de costas para ela, mas ela se moveu para poder vê-lo de perfil. Naquele momento Clemenza dirigiu-se ao marido dela, saudando-o formalmente.

— Don Michael — disse Clemenza.

Kay pôde ver como Michael estava ali pronto para receber a homenagem daqueles homens. Ele lembrou a ela as estátuas de Roma, estátuas daqueles imperadores da antiguidade, que, por direito divino, mantinham o poder de vida e morte sobre os seus semelhantes. Michael estava com a mão na cintura, o perfil de seu rosto mostrava um poder orgulhoso, frio, seu corpo estava descuidadamente, arrogantemente, à vontade, o peso repousando num pé levemente por trás do outro. Os caporegimes postados diante dele. Naquele momento Kay compreendeu que aquilo tudo de que Connie acusara Michael era verdade. Ela voltou para a cozinha e chorou.

LIVRO IX

CAPÍTULO 32

A SANGRENTA VITÓRIA da Família Corleone só se tomou completa quando, após um ano de delicadas manobras políticas, Michael Corleone conseguiu firmar-se como o chefe da Família mais poderosa dos Estados Unidos. Durante doze meses, Michael dividiu seu tempo igualmente entre o seu quartel-general na alameda de Long Beach e o seu novo lar em Las Vegas. Mas no fim daquele ano resolveu encerrar as operações em Nova York e vender as casas e a propriedade da alameda. Para esse fim, levou toda a família para o leste para uma última visita. Ficariam lá um mês, liquidando os negócios, Kay cuidaria da embalagem e embarque dos objetos caseiros da família. Havia um milhão de outros pequenos detalhes.

Agora a Família Corleone estava absoluta, e Clemenza tinha a sua própria Família. Rocco Lampone era o caporegime dos Corleone. Em Nevada, Albert Neri era o chefe de todo o serviço de segurança dos hotéis controlados pela Família. Hagen, também, fazia parte da Família oriental de Michael.

O tempo ajudava a sarar as velhas feridas. Connie Corleone reconciliou-se com o irmão Michael. De fato, não mais do que uma semana depois de suas terríveis acusações, ela pediu desculpas a Michael pelo que dissera e garantiu a Kay que não havia qualquer verdade em suas palavras, que aquilo fora apenas um ataque de histeria de uma viúva jovem.

Connie Corleone achou facilmente um segundo marido; de fato, ela não esperou que se passasse o ano tradicional de respeito para partilhar a sua cama com um distinto rapaz que viera trabalhar na Família Corleone como secretário. Um jovem de uma boa família italiana formado por uma das melhores escolas de comércio da América.

Kay Adams Corleone proporcionou grande satisfação aos parentes afins, ao procurar instruir-se sobre a religião católica e converter-se a essa fé. Os seus dois meninos foram também, naturalmente, educados no catolicismo, como era de desejar. Michael pessoalmente, porém, não ficou muito contente. Ele preferia que os filhos fossem protestantes, isso era mais americano.