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A astuta raposa turca iria mostrar a sua cauda espessa, pensou Luca. Se as coisas fossem longe demais, se Sollozzo se comprometesse naquela noite talvez a coisa pudesse acabar como um presente de Natal para Don Corleone. Em seu quarto, Luca abriu a fechadura do baú que estava embaixo da cama e tirou o seu colete à prova de balas. Era pesado. Despiu a roupa e ajustou o colete sobre a sua camiseta de lã, em seguida pôs a camisa e o paletó por cima. Pensou por um momento em telefonar para a casa de Don Corleone em Long Beach para contar-lhe o novo desenrolar de sua aventura, mas ele sabia que Don Corleone nunca falava ao telefone com ninguém, e lhe tinha confiado essa missão em segredo e, portanto, não queria que ninguém, nem mesmo Hagen ou seu filho mais velho, soubesse algo a respeito.

Luca sempre portava um revólver. Tinha licença para isso, provavelmente a licença mais cara já concedida em qualquer lugar, em qualquer tempo. Custara-lhe um total de dez mil dólares, mas evitaria que ele fosse para a cadeia se os tiras o revistassem. Como um funcionário de operações de alta categoria da Família, ele conhecia o valor da licença. Porém naquela noite, justamente para o caso de poder terminar o seu serviço, ele queria um revólver “garantido”. Um revólver cujo proprietário não pudesse ser identificado. Mas então, pensando novamente no assunto, resolveu que apenas ouviria a proposta naquela noite e depois a comunicaria ao Padrinho, .Don Corleone.

Saiu de casa com a intenção de voltar ao cabaré, mas não bebeu mais. Em vez disso, caminhou despreocupado até a Rua 48, onde ceou tranqüilamente no Patsy’s, seu restaurante italiano preferido. Quando chegou a hora do encontro, dirigiu-se calmamente para a entrada do cabaré. O porteiro não estava mais lá quando ele entrou. A chapeleira tinha ido embora. Somente Bruno Tattaglia esperava para recebê-lo e levá-lo até o bar deserto situado no lado da sala. Diante dele, estavam as pequenas mesas vazias, com a pista de dança de madeira amarela bem encerada e luzindo no meio delas. Mergulhado nas sombras, mal se via o estrado da orquestra, do qual se projetava a haste metálica de um microfone.

Luca sentou-se no bar e Bruno Tattaglia foi atrás dele. Luca recusou a bebida que lhe foi oferecida e acendeu um cigarro. Era possível que isso resultasse em outra coisa que não o turco. Mas em seguida viu Sollozzo sair das sombras na extremidade oposta da sala.

Sollozzo apertou-lhe a mão e sentou-se no bar perto dele. Tattaglia pôs um cálice em frente do turco, que acenou a cabeça agradecendo.

— Você sabe quem sou eu? — perguntou Sollozzo.

Luca acenou com a cabeça afirmativamente. Os ratos estão começando a sair dos buracos. Ele teria prazer em tomar a seu serviço esse siciliano renegado.

— Você sabe o que é que lhe vou pedir? — perguntou Sollozzo.

Luca balançou a cabeça.

— Há um grande negócio a ser feito — afirmou Sollozzo. — Quero dizer milhões para o pessoal lá de cima. No primeiro embarque, posso garantir a você cinqüenta mil dólares. Estou falando de entorpecentes. É a coisa que vai começar a dar bom lucro.

Luca perguntou

— Por que vir a mim? Você quer que eu fale a meu Don?

Sollozzo fez uma careta de desaprovação.

— Já falei com o Don. Ele não quer participar disso. Muito bem, posso fazer a coisa sem ele. Mas preciso de alguém forte para proteger a operação fisicamente. Acho que você não está contente com a sua Família, você deve mudar de vida.

Luca deu de ombros.

— Se a oferta for boa...

Sollozzo o estava observando atentamente e parecia ter chegado a uma decisão.

— Pense na minha oferta durante alguns dias e depois falaremos novamente — disse ele.

Sollozzo estendeu a mão, mas Luca fingiu não ver e começou a ocupar-se com a colocação de um cigarro na boca. De trás do bar, Bruno Tattaglia fez um isqueiro aparecer magicamente e segurou-o para acender o cigarro de Luca. E, de repente, fez uma coisa esquisita. Deixou cair o isqueiro no bar e agarrou a mão direita de Luca, segurando-a com força.

Luca reagiu instantaneamente, seu corpo escorregando do banquinho do bar e procurando contorcer-se para escapulir. Porém Sollozzo agarrara-lhe a outra mão pelo pulso. Contudo, Luca era muito forte para eles e teria conseguido livrar-se, se outro homem não saísse das sombras por trás dele e passasse um fino cordão de seda em volta de seu pescoço. O homem apertou o cordão ao máximo, estrangulando-o. O rosto de Luca ficou roxo, a força de seus braços exauriu-se. Tattaglia e Sollozzo seguravam-lhe as mãos facilmente, agora, e ali permaneciam curiosamente como crianças, enquanto o homem por trás de Luca puxava o cordão, apertando-o cada vez mais. De repente, o soalho se tornou úmido e escorregadio. O esfíncter de Luca, não mais sob controle, rompeu-se, e os detritos do seu corpo jorraram. Não havia mais força nele e as pernas se dobraram, o corpo vergou. Sollozzo e Tattaglia soltaram-lhe as mãos e somente o estrangulador ficou ao lado da vítima, ajoelhando-se para acompanhar a queda do corpo de Luca e puxando o cor dão com tanta força, que este cortava e entrava na carne do pescoço e desaparecia. Os olhos de Luca saltaram-lhe da cabeça como que expressando a maior surpresa, como o único vestígio de humanidade que lhe restava. Ele estava morto.

— Não quero que ele seja encontrado — declarou Sollozzo. — É importante que ele não seja encontrado agora.

E girou em seus calcanhares, voltando a desaparecer nas sombras.

CAPÍTULO 8

O DIA SEGUINTE ao do atentado contra Don Corleone foi de grande atividade para a Família. Michael permaneceu junto ao telefone transmitindo recados para Sonny. Tom Hagen ocupava-se em encontrar um mediador satisfatório para ambas as partes, de forma que se marcasse uma entrevista com Sollozzo. O turco se tornara repentinamente cauteloso, talvez soubesse que os capangas de Clemenza e Tessio a serviço da Família estivessem percorrendo toda a cidade à procura de seu rasto. Mas Sollozzo conservava-se em seu esconderijo, como o faziam todos os membros importantes da Família Tattaglia. Isso era esperado por Sonny, uma precaução elementar que ele sabia que o inimigo deveria tomar.

Clemenza estava ocupado com Paulie Gatto. Tessio tinha sido encarregado da missão de descobrir o paradeiro de Luca Brasi. Luca não estivera em casa desde a noite anterior ao atentado, um mau sinal. Mas Sonny não podia acreditar que Brasi se tornara um traidor ou tivesse sido apanhado de surpresa.

A mamãe Corleone estava na cidade, na casa de amigos da Família, para poder ficar perto do hospital. Carlo Rizzi, o genro, havia oferecido seus ser viços, mas tinham-lhe respondido que cuidasse de seu próprio negócio, que Don Corleone havia instalado para ele, um território lucrativo de bookmaker na zona italiana de Manhattan. Connie estava em companhia da mãe na cidade, a fim de poder visitar o pai no hospital.

Freddie ainda se encontrava sob o efeito de sedativos em seu próprio quarto na casa dos pais. Sonny e Michael haviam-lhe feito uma visita e fica ram impressionados com o seu estado.

—Jesus Cristo! — exclamou Sonny para Michael quando saíram do quarto de Freddie — ele parece que está mais gravemente ferido do que o velho.

Michael deu de ombros. Tinha visto soldados na mesma condição no Campo de batalha. Mas nunca esperava que isso acontecesse a Freddie. Ele se lembrava de que o irmão do meio era fisicamente o mais duro da família, quando todos eles eram pequenos. Mas também era o filho mais obediente ao pai. Contudo, todos sabiam que Don Corleone havia desistido de que ele tivesse algum papel importante no negócio da Família. Não era muito esperto, e, além disso, não era bastante impiedoso. Era muito retraído, sem muita força de caráter.

Na parte da tarde, Michael recebeu um telefonema de Johnny Fontane, de Hollywood. Sonny pegou o telefone.